O gelo do mar Ártico atinge o nível mais baixo anual
As condições frias ao norte do Alasca em agosto reduziram o degelo, dizem os cientistas, mas a tendência geral ainda é de queda. Contamos-lhe mais aqui!
O gelo marinho no Oceano Ártico e nas bacias vizinhas parece ter atingido a sua extensão mínima anual a 16 de setembro de 2021, após diminuir na primavera e no verão. A extensão do verão é a 12ª menor no registo de satélite, de acordo com cientistas do National Snow and Ice Data Center e da NASA: o mínimo provavelmente foi alcançado na quinta-feira (16) e a extensão total de gelo medida este ano foi de 4,72 milhões de quilómetros quadrados.
Este é o 12º menor total desde que a deteção por satélite do Ártico começou em 1979 e cerca de 25% maior do que no ano passado. Menos gelo marinho derreteu em 2021, embora o planeta como um todo estivesse mais quente do que o normal, com novos registos de temperatura na América do Norte e na Eurásia, seca no oeste dos EUA e episódios de intenso degelo na camada de gelo da Gronelândia.
Mas, mais a norte, as condições permaneceram, em geral, frias e tempestuosas em todo o Oceano Ártico. Durante grande parte do verão, a baixa pressão sobre o Ártico trouxe céus nublados, o que limita a quantidade de luz solar que pode atingir o gelo e provocar o derretimento. Tempestades também podem espalhar o gelo, retardando o declínio da sua extensão.
A área total de gelo 'lembra' que o clima é naturalmente variável e que a variabilidade pode, às vezes, superar os efeitos das alterações climáticas. Mas, a tendência geral de queda do gelo marinho do Ártico continua, já que a região está a aquecer duas vezes mais rápido do que outras partes do mundo. O mínimo recorde foi estabelecido em 2012, e os resultados deste ano são cerca de 40% mais altos do que esse.
Investigação científica no Ártico
Robbie Mallett, investigador do gelo marinho da University College London, diz que a temperatura é um dos elementos na variabilidade natural que podem afetar o gelo marinho. Segundo ele, os ventos levaram muito mais gelo mais espesso e antigo para o oeste, do norte da Gronelândia até aos mares de Beaufort e de Chukchi. Neste verão, o gelo mais espesso tornou-se mais fino, embora a maior parte não tenha derretido completamente.
Mas o degelo completo do gelo marinho do Ártico mais espesso (agora há cerca de um quarto do que havia há quatro décadas) é preocupante. Quanto mais fino o gelo marinho fica, mais luz do sol passa para a água abaixo, o que pode afetar os ecossistemas marinhos e gerar ainda mais calor à medida que mais energia do sol é absorvida e emitida como calor.
E com o gelo mais fino, mais propenso a derreter completamente, pois substitui o gelo mais antigo, a região em geral torna-se mais suscetível ao degelo. Muitos cientistas acreditam que o Ártico poderá ficar sem gelo no verão dentro de uma ou duas décadas.
Mallett, que acompanha de perto a extensão do gelo marinho, diz que com o fluxo de gelo plurianual para os mares de Beaufort e Chukchi, entre outros fatores, esperava que o total deste ano fosse um pouco maior.
O sopro de gelo mais antigo para oeste, vindo do norte da Gronelândia no inverno passado, pode ser uma continuação de um padrão preocupante que foi observado em 2020. A área está normalmente repleta de gelo persistente, sendo conhecida como a "última área de gelo", onde, mesmo que o gelo desapareça completamente nos verões do Ártico, acredita-se que ainda haverá gelo suficiente para servir de refúgio aos polares ursos e outros animais selvagens dependentes do gelo.
No ano passado, um navio quebra-gelo de investigação alemão numa expedição de um ano, encontrou pouco gelo espesso enquanto viajava pela área. Um estudo sugeriu que os padrões de vento variáveis, juntamente com o degelo induzidos pelo aquecimento, fizeram com que grande parte do gelo mais espesso fosse expulso da área.