O El Niño chegou ao fim, segundo o BoM da Austrália. Expectativa de um provável novo La Niña em 2024
Sete meses após o início do El Niño, as condições voltaram a ser neutras, de acordo com o Gabinete de Meteorologia da Austrália. O atual aquecimento recorde dos oceanos do mundo levanta grandes questões para o futuro.
O fenómeno de El Niño chegou ao fim, de acordo com um comunicado oficial do Gabinete de Meteorologia da Austrália (BoM) divulgado esta terça-feira.
"O 'El Niño' já não está ativo", declarou o organismo, depois de o fenómeno meteorológico periódico mas irregular (com intervalos de dois a sete anos) se ter formado em meados do ano passado, após três anos de "La Niña".
A superfície do mar está a arrefecer desde dezembro e os indicadores oceânicos e atmosféricos mostram agora que o El Niño-Oscilação Sul (ENSO) voltou a ser neutro, acrescentou o gabinete australiano.
"Os modelos climáticos indicam que o ENSO provavelmente continuará neutro até, pelo menos, julho de 2024", refere o BoM, aumentando a probabilidade de o seu homólogo mais frio, La Niña, regressar na próxima primavera (hemisfério sul).
Os fatores que decretaram o fim do El Niño
De acordo com a recente atualização do BoM, os indicadores oceânicos e atmosféricos são agora indicativos de ENSO neutro.
As temperaturas da superfície do mar (SST) no Pacífico central têm vindo a arrefecer de forma constante desde dezembro de 2023. Na última quinzena, registou-se um arrefecimento substancial, com o índice NINO3.4 a situar-se agora dentro dos limiares históricos da fase neutra do ENSO.
The tropical Pacific Ocean has returned to ENSO neutral conditions.
— Bureau of Meteorology, Australia (@BOM_au) April 17, 2024
Neither El Niño nor La Niña are active.
The long-range forecast is the best guidance for future rainfall and temperature.
Details: https://t.co/wEIHbtvLqg pic.twitter.com/obMTsF4oI3
Este arrefecimento à superfície é apoiado por uma quantidade significativa de arrefecimento das águas subterrâneas no Pacífico central e oriental, o que é típico no final da fase El Niño do ENSO. Entretanto, os recentes padrões de nuvens e de pressão à superfície são indicativos de variabilidade climática a curto prazo, em vez de serem influenciados pelo El Niño.
Calor recorde nos oceanos exige cautela
Os modelos climáticos internacionais sugerem que é provável que o ENSO se mantenha neutro até, pelo menos, julho de 2024. Embora três de sete modelos internacionais prevejam que as TSM do Pacífico central atingirão os limiares de La Niña em julho, as previsões de El Niño e La Niña feitas em meados do outono (hemisfério norte) tendem a ser menos exatas do que as previsões feitas noutras épocas do ano.
As temperaturas globais da superfície do mar (SST) foram as mais quentes de que há registo para cada mês entre abril de 2023 e março de 2024. Os dados do mês até à data para abril de 2024 indicam que este mês é mais quente do que abril de 2023.
O padrão global de calor está a afetar o padrão global histórico típico das temperaturas da superfície do mar associadas à variabilidade do ENSO. Uma vez que as atuais condições oceânicas globais não foram observadas anteriormente, as inferências sobre a forma como o ENSO se poderá desenvolver em 2024 com base em acontecimentos passados podem não ser fiáveis.
Uma sequência de Niñas e Niño sem precedentes
Se ocorrer um La Niña no final deste ano, será o quarto episódio deste género nos últimos cinco anos. Esta sequência (três Niñas seguidas de El Niño e depois La Niña novamente) nunca foi registada antes, disse Cai Wenju, um antigo investigador sénior da CSIRO, ao The Guardian Australia no início deste ano.
Outras agências também têm estado a prever a possibilidade de um evento La Niña no final deste ano. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), por exemplo, estimou na semana passada a probabilidade de um La Niña em cerca de 85%, embora os seus limiares sejam ligeiramente inferiores aos do gabinete australiano.