O degelo do permafrost tem consequências graves nos Himalaias
O degelo do permafrost (constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados) está a causar danos irreparáveis e a responsabilidade é do aquecimento global, com mudanças profundas na criosfera das montanhas dos Himalaias. Saiba mais aqui!
Permafrost ocorre em áreas onde as temperaturas raramente sobem acima do ponto de congelamento da água e o calor durante o verão não penetra a ponto de descongelar o solo, uma camada rochosa ou o material orgânico que permanece preso. Este termo foi cunhado pelo geólogo norte-americano Siemon W. Muller em 1943. A formação de permafrost é também possível em áreas de montanha de alta latitude ou altitude que cobrem aproximadamente ¼ da superfície terrestre.
De facto, para que estejamos perante um permafrost, a camada do solo deve permanecer abaixo de 0ºC por dois anos consecutivos, segundo definição da International Permafrost Association (IPA) de 2006. Nos Himalaias, o permafrost apresenta-se em descontínuo e é encontrado a uma altitude superior a 4 mil metros acima do nível do mar, e em lugares mais quentes, está localizado acima 6 mil metros do nível do mar.
Ao exercer o seu poder de congelamento, impede a libertação de grandes quantidades de carbono orgânico, microorganismos, mercúrio e metano. Isto obstrói a libertação de gases com efeito de estufa na forma de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4). É particularmente preocupante o potencial de aquecimento do CH4, cinco vezes maior do que o do CO2. Os seus efeitos em cascata são muito perigosos, pois quanto maior é o aquecimento global, maior será o degelo do permafrost.
Quais são as consequências do degelo do permafrost?
O degelo do permafrost pode libertar para a atmosfera aproximadamente 120 gigatoneladas de carbono até 2100, resultando em mais 0,29ºC do que a temperatura atual.
Espera-se que até 2300, o ciclo de degelo do permafrost resulte num aquecimento adicional de aproximadamente 1,69ºC. Algumas investigações, como a de Treat & Frolking, de 2013, referem que poderá existir um aumento repentino da temperatura associado ao aumento das emissões de carbono, enquanto noutros estudos, como a de Schurr et al., de 2015, afirmam que o degelo e as emissões consequentes são persistentes, mas são tendencialmente graduais, ao longo de décadas e séculos.
Além do carbono que fica preso nas camadas do permafrost, estes solos também contêm os maiores reservatórios de mercúrio, uma neurotoxina do planeta, armazenando o dobro de produtos químicos relativamente aos restantes solos, ao oceano e à atmosfera em conjunto.
O mercúrio natural da atmosfera interligado ao material orgânico no solo é enterrado por sedimentos e congela no permafrost. A principal ameaça do mercúrio prende-se com o potencial de lixiviação do solo para os cursos de água circundantes. Nestes casos em específico, é possível de ser absorvido pelos microorganismos e transformado em metilmercúrio.
O perigo do metilmercúrio relaciona-se com o facto de se tratar de uma toxina que pode percorrer toda a cadeia alimentar e causar também danos neurológicos que variam de deficiência motora a anomalias congénitas nos seres humanos, segundo um artigo publicado na Geophysical Research Letters, em 2018. Mas os seus efeitos são igualmente potencialmente danosos para o ambiente.
E o que está a acontecer nos Himalaias?
Embora seja muito difícil determinar a magnitude dos efeitos do degelo do permafrost, nos Himalaias as consequências estão a ser já muito significativas.
O International Centre for Integrated Mountain Development (ICIMOD) no Hindu Kush Himalaya Assessment, em 2019, afirmou que, mesmo que o aquecimento global seja mantido em 1,5ºC, de acordo com a recomendação do IPCC, o aquecimento na região do Himalaia Hindu Kush provavelmente será pelo menos 0,3ºC mais elevado.
Isso significa que um aquecimento de 1,5ºC no resto do mundo se traduz num aumento estimado de 1,8ºC na temperatura em toda a região e de até 2,2ºC nas áreas montanhosas. O relatório revelou ainda que nas últimas cinco a seis décadas, os eventos de calor extremo aumentaram, enquanto os eventos de frio extremo diminuíram na região.
As consequências das alterações climáticas já são bem visíveis nas regiões dos Himalaias, com invernos e verões mais quentes, deslizamentos de terra, avalanches e inundações dos lagos glaciares. As comunidades locais estão cada vez mais receosas perante os efeitos do aquecimento global. Em particular, quando se consideram as manifestações ocorridas nos últimos anos.
No ano de 2013, por exemplo, inundações devastadoras afetaram o território de Kedarnath, na Índia, seguido por avalanches no Monte Everest em 2014 e 2015. No ano passado, cerca de uma centena de pessoas morreram e 200 desapareceram em inundações repentinas em Chamoli, na Índia, enquanto as cheias de rio Melamchi, no Nepal, mataram mais de 20 pessoas. Estes desastres constituem-se como fenómenos em cascata dos principais riscos influenciados por uma série de pré-condições e vulnerabilidades associadas a estes territórios.
Para responder a estes problemas é necessário concertar políticas nacionais dos países que compartilham limites nas cordilheiras dos Himalaias, atendendo a que devem reduzir as emissões de gases de efeito estufa por vários meios, designadamente através da diminuição do uso de combustíveis fósseis, o aumento da cobertura florestal, o incentivo à utilização de tecnologias verdes e ao desenvolvimento de fontes de energia renováveis.