O bailado das chuvas com os oceanos
O clima do planeta que habitamos vive, de entre outras condicionantes, ao sabor da delicada dinâmica existente entre o oceano e a atmosfera. E, considerando que é coberto por água em cerca de três quartos, o papel desta assume preponderante importância.
A história do planeta espelha uma constante variabilidade climática, do mesmo modo que a história da humanidade tem presente os desastres naturais que impeliram uma permanente necessidade na criação de planos de gestão, mitigação e adaptação aos efeitos de eventos climáticos impossíveis de contornar.
E, nesta perspectiva, aludir o grande volume de água que compõem o planeta e a sua elevada capacidade térmica, a qual permite responder de forma lenta a alterações nas variáveis que constituem o sistema climático. O que faz do oceano um gigante regulador do sistema climático, uma vez que reduz e redistribui as diferenças de temperatura, possibilitando vida no planeta.
Recorde-se, que o valor médio da temperatura na Terra ronda os 14⁰C, mas existem locais onde faz tanto frio que impossibilita a existência de vida com uns enregelados -80⁰C, por contraste com tórridos locais que conseguem ultrapassar os 50⁰C! Considerando apenas a variável das radiações incidentes e emitidas, estas disparidades de temperaturas resultam da particularidade física do planeta, da sua esfericidade, que implica que nas baixas latitudes receba mais energia do que devolve ao espaço, acontecendo exactamente o oposto nas latitudes mais altas. Mas, o real busílis é que, a variável oceano funciona como elemento denominador no teorema do sistema climático, uma vez que a maior parte da radiação solar que penetra na atmosfera é absorvida pelo oceano, isto, comparativamente com o que é absorvido pelas massas continentais, bem menos, devido à reflectividade, ao efeito albedo.
Ou seja, a elevada capacidade térmica da água permite armazenar nos oceanos, por longo período de tempo, elevadas quantidades de calor. Este, pela acção do mecanismo constante das correntes marítimas – directamente dependente dos factores vento, gravidade, variações na elevação da superfície, gradientes de densidade (resultantes das diferentes distribuições de temperatura e salinidade), – é transportado (horizontal e verticalmente), redistribuído e gradualmente libertado por todo o planeta, contribuindo para amenizar os efeitos de alterações na atmosfera.
Imprescindível assim, o papel da precipitação!
Ora, por menor que seja, um aumento na temperatura da superfície do mar (TSM), implica um aumento na evaporação, alterando tanto a quantidade de água, como a quantidade de energia na atmosfera, provocando, a nível global, inerentes alterações nos regimes e volumes de precipitação, e na salinidade dos oceanos. Note-se que o efeito da salinidade na densidade, e a diferença entre evaporação e precipitação, afectam a elevação da superfície do mar!
Isto é, pequenas alterações na média temporal e/ou espacial da TSM e no balanço “evaporação – precipitação”, resultam em alterações significativas no delicado ciclo hidrológico, com repercussões devastadoras nos regimes de precipitação em todo o planeta.
Ou seja, a desregulação sazonal, local, e inconstâncias volumétricas das precipitações, implicam determinantemente no modo de vida que os humanos foram adoptando. Impactam, em primeira linha, na alimentação (tipos e locais dos cultivos) e na urbe, nos locais que o Homem define para viver (arriscadas margens fluviais e marítimas) – a intensa impermeabilização dos solos aumenta exponencialmente o escoamento superficial, implicando no aumento da ocorrência dos chamados “eventos extremos”, como cheias e inundações, fruto da insuficiente capacidade de resposta à volubilidade da frequência e intensidade das chuvas.
Um bailado coreografado de modo continuo, dinâmico, mas melindrosamente delicado!