O bacalhau é o rei da cozinha no Natal. Portugal vai pescar 234 toneladas de bacalhau nas águas do Canadá em 2025
A pesca de bacalhau na costa atlântica do Canadá permite a Portugal mitigar a quebra de capturas permitida no arquipélago de Svalbard (Noruega), que caiu 26%. A quota nacional de bacalhau sobre para as 6318 toneladas em 2025.
O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, e a secretária de Estado das Pescas, Cláudia Monteiro de Aguiar, participaram no Conselho de Ministros da Agricultura e Pescas (AGRIFISH) de dezembro, que decorreu na última semana, em Bruxelas.
E não podiam vir mais satisfeitos. Na reunião em que os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) definiram as quotas de pesca para o ano de 2025, Portugal conseguiu um aumento das quotas na ordem de 561 toneladas, a que corresponde um acréscimo monetário de 2,8 milhões de euros.
Isto, depois de a Comissão Europeia ter apresentado uma proposta inicial que previa “fortes decréscimos de stocks de espécies de pescado muito relevantes para Portugal, como o goraz, pescado em Portugal Continental e nos Açores”, frisa o Ministério tutelado por José Manuel Fernandes.
O governante salientou, à saída da reunião dos ministros da Agricultura e Pesca da UE-27, que “qualquer corte em oportunidades de pesca é mau para os nossos pescadores, para as mulheres e homens que, em Portugal, vivem do mar”.
Voltar a pescar bacalhau no Canadá
Certo é que, “depois de uma dura negociação, onde reconhecemos a posição construtiva e cooperante do comissário [Christophe Hansen] e da presidência do Conselho [liderada pelo português António Costa], conseguimos ganhos importantes com aumento de quotas em espécies como o bacalhau, o goraz, o espadarte, o tamboril, o areeiro e a raia”, revelou o governante.
Aliás, ao fim de 32 anos, Portugal vai poder voltar a pescar bacalhau numa das áreas da Organização de Pescas do Atlântico Noroeste (NAFO), a 2J3KL. Aí, a quota portuguesa foi fixada em 234 toneladas, com o compromisso da revisão da chave de repartição no futuro.
No que respeita ao goraz da área 10, e após “difíceis e longas negociações”, segundo o Ministério da Agricultura, “Portugal conseguiu um resultado positivo para a Região Autónoma dos Açores, ao evitar o corte elevado de 35% proposto pela Comissão Europeia”.
Fruto desse trabalho negocial, conseguiu-se “o compromisso de fixação de um total admissível de capturas (TAC) provisório que garante a regular operação da frota dos Açores durante o primeiro semestre de 2025”, diz o ministro José Manuel Fernandes.
Adicionalmente, foi alcançado um compromisso com a Comissão Europeia de uma reavaliação desta autorização de pesca, com base em novos dados científicos fornecidos pelos Açores e que irá permitir fixar um TAC definitivo para 2025.
Conciliar ambiente, biodiversidade e economia
Durante as negociações, o Ministro da Agricultura e Pescas lembrou “a importância de conciliar questões ambientais, de biodiversidade, da economia e, em particular nos Açores, uma profunda preocupação social”.
O Ministério da Agricultura e Pescas garante que “continua empenhado em trabalhar em estreita cooperação com o setor das pescas", com vista a “assegurar uma atividade de pesca sustentável, rentável e duradoura, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.
Bem-estar dos peixes
A sustentabilidade dos recursos marinhos é, aliás, um ponto-chave no setor das pescas, na União Europeia e em todo o mundo. A esse propósito, o Conselho Consultivo para as Espécies Pelágicas (PelAC) apelou à Comissão Europeia para ter o bem-estar dos peixes nas pescarias pelágicas como “uma prioridade”, como forma de também refletir essa mudança nas preocupações da indústria face às crescentes exigências dos consumidores por práticas mais éticas e sustentáveis.
Numa carta enviada a Charlina Vitcheva, diretora-geral da Direção-Geral dos Assuntos Marítimos e Pescas da UE, o PelAC tornou público que “o bem-estar dos pequenos pelágicos (sarda, carapau, arenque, entre outras) será uma prioridade estratégica em futuras discussões políticas”.
Esta tomada de posição levou, inclusive, à criação de um grupo de discussão e reuniões com especialistas de várias áreas. João Saraiva, presidente do Fish Etho Group, que está sedeado na Universidade do Algarve, é um desses especialistas, cuja organização tem sido contactada para partilhar a sua experiência com um projeto de investigação envolvendo pescadores na costa sul de Portugal.
João Saraiva, que é também responsável pelo grupo de Etologia e Bem Estar de Peixes, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), destaca que a posição do PelAC é “muito importante”, porque estas estruturas são os interlocutores com os decisores políticos”. E alerta que “existem problemas de bem-estar” nas pescas que “nunca foram considerados”.
“É um caminho difícil, mas é preciso começar por algum lado. Reconhecer que existe este desafio, que é preciso conhecer em detalhe o que acontece aos peixes quando são pescados e encontrar soluções para melhorar a forma como morrem, é um grande passo”, realça o investigador.