O aquecimento dos oceanos pode afetar as dinâmicas de precipitação
O aquecimento das águas oceânicas, que se tem verificado nas últimas décadas, pode ter efeitos concretos na distribuição da precipitação. Esta situação pode ter impactos negativos em vários setores de atividade. Contamos-lhe tudo, aqui!
Os oceanos do planeta Terra têm aquecido substancialmente nas últimas décadas. Dados retirados de estudos norte americanos indicam que, devido maioritariamente à atividade humana, a temperatura das águas do mar tem subido a um rácio de 0,06 °C por década, no último século. Mas é igualmente inegável que este aquecimento não é uniforme em todos os pontos do oceano, ou seja, certas áreas estão a aquecer de forma mais significativa.
Estudos do Gabinete do Clima da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos da América (NOAA, na sigla em inglês) referenciaram uma vasta área que conjuga a parte mais oriental do Oceano Índico e a parte mais ocidental do Oceano Pacífico como uma área onde a temperatura dos Oceanos mais subiu entre os anos de 1900 e 2018. Esta área é denominada pelos especialistas como “Indo-Pacific Warm Pool”.
Nos países do Sudeste Asiático (Filipinas e Indonésia) bem como na Papua-Nova Guiné e nas costas Norte e Nordeste da Austrália é possível encontrar águas quentes que estão naturalmente presentes. No entanto, é claramente notória uma expansão da área onde as temperaturas mais aumentaram, para mais do dobro em relação ao ano de 1900.
No período indicado, a área em que a temperatura da água é superior a 28 °C aumentou, em média, 230 000 km2 por ano. Contudo, numa análise meticulosa de um período mais recente (1981-2018) é possível constatar que o rácio se agravou, já que a área cresceu a um ritmo de 400 000 km2 por ano.
De que forma este fenómeno pode afetar a população?
O fenómeno descrito, na área referenciada, tem impactos significativos na vida marinha, na biodiversidade do oceano e ainda na Oscilação de Madden-Julian (MJO, na sigla em inglês). A MJO é um mecanismo da circulação geral da atmosfera, um padrão global de nuvens, chuva, ventos e pressão atmosférica, parcialmente responsável pela distribuição da precipitação em latitudes médias.
O aumento da temperatura do oceano acaba por interferir na formação de nuvens, já que estas, aquando da sua formação, passam menos dias no Oceano Índico e mais dias na área correspondente à “Indo-Pacific Warm Pool”. Esta alteração no padrão de formação de nuvens pode ter efeitos diversos, em fenómenos como o El Niño, as monções, os ciclones tropicais, bem como as ondas de calor e os nevões, com especial incidência no continente norte americano.
A expansão significativa da “Indo-Pacific Warm Pool” nos últimos anos pode estar relacionada com os fenómenos de seca extrema em certas áreas dos Estados Unidos da América, Equador e China, bem como em fenómenos de precipitação extrema na Amazónia, na Austrália e no Sudeste Asiático.
À medida que a temperatura dos oceanos continua a aumentar, poderemos continuar a assistir a alterações significativas no padrão da precipitação a nível global, com impactos diretos na produção agrícola. Num mundo cada vez mais populoso, estas alterações podem significar fome para milhões de pessoas, bem como o escalar de crises humanitárias pré-existentes.