O ano de 2023 revela indicadores recordes de alterações climáticas, afirma OMM
Organização Meteorológica Mundial emite "alerta vermelho" sobre o estado do clima em 2023. Recordes atrás de recordes pulverizados, que fazem deste um ano nunca antes visto. Um cenário preocupante, "um planeta à beira do abismo". Conheça os detalhes!
Ondas de calor, inundações, secas, incêndios rurais e ciclones tropicais, tudo aconteceu em 2023. Um ano em que se intensificaram rapidamente todas estas ameaças que alteraram a vida quotidiana de milhões de pessoas e infligiram milhares de milhões de dólares em perdas económicas.
O ano mais quente de sempre em 174 anos de registos. Uma temperatura média global 1,45 ºC acima da era pré-industrial. Um El Niño forte que contribuiu para o incremento das temperaturas. Os últimos nove anos, de 2015 a 2023, foram os mais quentes já registados.
Concentrações dos três principais gases de efeito estufa (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso) em níveis históricos. O nível de dióxido de carbono está 50% superior, comparado à era pré-industrial, retendo calor na atmosfera. A vida longa desse gás significa que as temperaturas continuarão a subir durante muitos anos. A absorção deste, resulta num aumento da acidificação dos mares e oceanos.
Uma temperatura média dos mares e oceanos no nível mais alto nos últimos 65 anos. Só no ano de 2023 foram observadas temperaturas médias mensais recordes da superfície dos mares e oceanos, desde abril até dezembro, e da própria superfície terrestre, de julho a novembro.
Ondas de calor marítimo de modo generalizado e aquecimento incomum no Atlântico Nordeste, não relacionadas com o El Niño, foram registadas. Mais de 90% dos oceanos registaram condições de ondas de calor nalgum momento ao longo de 2023.
O nível médio global das águas do mar num patamar nunca antes visto, com uma taxa de aumento nos últimos dez anos duas vezes maior comparada com a primeira década de registos (1993–2002). A elevação do nível do mar passou de 2,13 milímetros (mm), na década de 1990, para 4,77 mm.
Os glaciares conheceram a maior perda de gelo alguma vez registada. A extensão do gelo na Antártida atingiu o mais baixo recorde absoluto no mês fevereiro. A extensão máxima anual foi cerca de 1 milhão de quilómetros quadrados abaixo do anterior recorde mínimo. Os glaciares suíços perderam cerca de 10% do volume restante nos últimos dois anos.
Segurança alimentar, populações deslocadas e impactos em populações vulneráveis continuam a ser uma preocupação crescente em 2023, com o estado do tempo e os riscos climáticos a agravarem a este estado em muitas partes do mundo.
O número de pessoas em insegurança alimentar aguda em todo o mundo mais do que duplicou, de 149 milhões antes da pandemia COVID-19, para 333 milhões em 2023, em 78 países monitorizados pelo Programa Alimentar Mundial.
Planeta está “à beira do abismo”
Todos estes dados constam do relatório Estado do Clima Global 2023, revelado na passada terça-feira (19) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). Deixa claro que foram pulverizados vários recordes em termos de níveis de gases com efeito de estufa, temperaturas à superfície, teor de calor e acidificação dos oceanos, subida do nível do mar, extensão da camada de gelo da Antártida e recuo dos glaciares.
Celeste Paulo, secretária-geral da OMM.
Para a OMM a ponta de esperança está nas energias renováveis, substituindo o uso de combustíveis fósseis. Em 2023, a capacidade instalada de geração de energia renovável aumentou em 50% comparada com 2022. Foi a taxa mais elevada nas duas últimas décadas.
Financiamento manifestamente insuficiente
O documento aponta que o financiamento climático deveria ser seis vezes superior. Atualmente, recursos não ultrapassam 1% do Produto Interno Bruto global. O custo da inação projetado para o período de 2025-2100, considerando a diferença entre o caminho de 1,5 ºC, está em 1,266 milhões de biliões de dólares.
O comunicado observa que os valores estão subestimados, o financiamento para a adaptação às alterações climáticas continua insuficiente. Estima-se que somente os países em desenvolvimento necessitariam de 212 mil milhões por ano.
António Guterres, secretário-geral da ONU.
Numa declaração em vídeo ao relatório da OMM, publicado na página da Organização das Nações Unidas, o seu secretário-geral, António Guterres, revelou uma série de preocupações e lançou um conjunto de desafios.
Entre os mais importantes reptos destacam-se o fim da era dos combustíveis fósseis, o financiamento para a ação climática, inclusive para adaptação a condições climáticas extremas, o compromisso com o limite de 1,5 ºC, a aposta em sistemas de alerta precoce, e o compromisso pela alocação de recursos no novo Fundo de Perdas e Danos.
Referência da notícia:
WMO (2024). State of the Global Climate 2023.