Num mundo cada vez mais barulhento há um som ameaçado: o silêncio!
Num mundo que não pára um só minuto, que evolui tecnologicamente cada vez mais e cresce de forma exponencial, com centros comerciais gigantes, um negócio agrícola imenso, o barulho é inevitável e ameaça o silêncio.
Caro leitor, se mora numa cidade, seja pequena ou grande, certamente desconhece um som que está cada vez mais ameaçado. No seu dia a dia, é provável que os barulhos das máquinas, carros, transportes públicos, buzinas, comércios, sirenes e muitos outros ameacem aquilo que nos traz paz, o silêncio.
Para quem vive em lugares mais tranquilos justamente para fugir do barulho, o silêncio também não é encontrado de uma forma tão simples e abundante. Pode não ter o caos instalado como nos grandes centros, mas alguns dos barulhos de lá são conhecidos, outros são peculiares da região, mas o silêncio ainda é algo que se tem tornado raro.
Num mundo cada vez mais barulhento, o ecologista acústico Gordon Hempton de 68 anos passou a maior parte de sua vida a falar em nome do silêncio. Mas porque afinal, a falta de silêncio seria tão preocupante num mundo cheio de "problemas maiores"?
Porque salvar o silêncio?
Segundo Hempton, as paisagens sonoras naturais do planeta estão a desaparecer, e uma grande parte é consequência da nossa tentativa de ver o mundo e não de o ouvir - "o que ouvimos é o que conta a história real de um lugar".
Problemas mais graves como o aquecimento global, a limpeza de resíduos tóxicos e a restauração de habitats e espécies ameaçadas de extinção devem ser levados em consideração sempre, no entanto, para o ecologista acústico, salvar o silêncio na verdade significa salvar tudo o resto também.
O silêncio não é a ausência de som, e sim o silenciamento de tudo o que tem tomado conta do nosso dia a dia, os toques dos telemóveis, dos motores, dos martelos-pneumáticos, das buzinas, enfim, toda a poluição sonora que a humanidade produziu.
De um modo geral, o barulho é tratado mais como algo incómodo, mas não é algo apenas irritante em dias de cansaço e stress puro. Há cada vez mais evidências de que o barulho prejudica também a nossa saúde.
Efeitos na saúde humana
Estudos realizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que os efeitos da exposição a longo prazo à poluição sonora ambiental, sendo eles ataques cardíacos, aumento da pressão arterial, derrames, diabetes, demência, depressão e outras mais, podem ser responsáveis pela perda de mais de 1 milhão de anos de saúde plena entre os europeus ocidentais.
Além da OMS, a Agência Europeia do Ambiente fez descobertas a respeito da poluição sonora ambiental contribuir para 48 mil casos de doenças cardíacas e 12 mil mortes prematuras em todo o continente a cada ano que passa.
Poluição sonora ameaça mais de 100 espécies de animais
A poluição sonora gerada pelo homem tem devastado também o mundo natural, segundo o relatório publicado na revista científica The Royal Society's Biology Letters. O estudo mostrou que a poluição sonora já ameaça a sobrevivência de mais de 100 espécies de animais diferentes.
Sabia que o barulho do trânsito eleva os batimentos cardíacos da lagarta da borboleta? Que o ruído distante das estações de compressão dificulta as corujas a localizarem as suas presas? Sabia que o som das motos de neve leva a picos da hormona do stress em lobos e alces? Que os pássaros e os sapos tiveram de se adaptar em habitats barulhentos para serem ouvidos? Sabia que debaixo d'água, o barulho dos navios, da mineração em alto mar é a causa mais provável de os golfinhos e baleias encalharem?
Hempton lançou recentemente a Quiet Parks Internacional (QPI), que é a primeira organização sem fins lucrativos que visa certificar e preservar as últimas paisagens sonoras naturais da Terra através do "turismo silencioso". A ideia é inspirar os viajantes a despertar para as maravilhas sonoras do planeta.
Segundo o ecologista, olhar para os ecossistemas mais saudáveis que existem hoje em dia no nosso planeta, é descobrir que são também os lugares mais silenciosos. São os lugares que retiram o carbono do meio ambiente, produzem oxigénio para respirarmos e onde as espécies ameaçadas não estão em perigo.