Novos alimentos. Nutri’Earth autorizada a comercializar pó de larvas inteiras para incorporar na alimentação humana
O pó de larvas inteiras foi autorizado pela Comissão Europeia. Vai poder ser utilizado na produção de pão, produtos à base de queijo, batata ou massas ou em compotas de fruta ou de hortícolas. A Nutri’Earth detém esta patente até 2030.

A entomofagia (do grego entomon, “inseto”, e fagein, “comer”), também chamada de insetivoria, é o consumo de insetos como fonte alimentar.
As farinhas obtidas a partir dos insetos têm vindo a ser encaradas como uma importante fonte alternativa de proteína, quer para uso na alimentação animal - há, neste momento, 8 (oito) espécies de insetos para a alimentação de animais autorizadas pela Comissão Europeia -, quer para a alimentação humana.
Entre os alimentos onde este pó de larvas inteiras pode ser utilizado estão produtos alimentares como o pão, produtos à base de queijo, batata ou massas ou em compotas de fruta ou de hortícolas.
Esta autorização acontece na sequência de uma “avaliação científica abrangente elaborada pela EFSA” - Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, que “verificou que o novo alimento é seguro para os usos e níveis de usos propostos”, revelou, em Portugal, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
Nutri’Earth tem sede em Carvin (França)
Durante o período de proteção de dados desta nova patente, que finaliza a 10 de fevereiro de 2030, apenas a requerente inicial, que é a empresa francesa Nutri’Earth, com sede na cidade de Carvin, no departamento de Pas-de-Calais, está autorizada a colocar no mercado o pó de larvas inteiras.
O “pó de larvas inteiras de Tenebrio molitor (tenébrio) tratado com radiação UV”, como é cientificamente designado, só poderá vir a ser comercializado por outras empresas “se um requerente posterior obtiver autorização para o novo alimento sem fazer referência às provas científicas ou aos dados científicos abrangidos por direitos de propriedade protegidos nos termos do artigo 26º do Regulamento (UE) 2015/2283 ou se obtiver o acordo da Nutri’Earth”.
Insetos combatem escassez nutricional
O novo alimento “pó de larvas inteiras de Tenebrio molitor (tenébrio) tratado com radiação UV” fará, assim, parte de uma atualização à lista da União Europeia referente a novos alimentos autorizados.

Essa lista está estabelecida no Regulamento de Execução (UE) 2017/2470, onde constam também as condições de utilização e os requisitos de rotulagem a que deve obedecer este novo alimento.
Esses géneros alimentícios devem “ostentar uma menção indicando que este ingrediente pode causar reações alérgicas aos consumidores com alergias conhecidas aos crustáceos e aos produtos à base de crustáceos, bem como aos ácaros”, lê-se no Regulamento.
O mesmo documento obriga a que esta menção deva “figurar o mais próximo possível da lista de ingredientes ou, na ausência de uma lista de ingredientes, o mais próximo possível do nome do género alimentício”.
Agenda Mobilizadora InsectERA
O setor agroalimentar enfrenta hoje dois grandes problemas globais: a escassez nutricional e os desperdícios alimentares. Mas, nos últimos anos, em Portugal, na Europa e noutras geografias, a inserção de insetos na alimentação dos animais e, mais recentemente, dos seres humanos tem sido encarada como um caminho sustentável e seguro para solucionar estes desafios.

Portugal está na linha da frente e quer tornar-se “uma referência no setor bioindustrial dos insetos”. A Agenda Mobilizadora InsectERA estabeleceu um plano, financiado com 43 milhões de euros do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).
O objetivo é possibilitar a industrialização e comercialização de produtos inovadores com base em insetos, tanto na área alimentar (animal e humana), como na de outras indústrias (cosméticas ou bioplásticos).
Os insetos são o grupo de animais mais diversificado existente na Terra.
Embora não haja um consenso entre os entomologistas, estima-se que existam entre cinco a 10 milhões de espécies diferentes, sendo que quase um milhão destas espécies já foram catalogadas.
Os insetos podem ser encontrados em quase todos os ecossistemas do planeta, embora só um pequeno número de espécies se tenha adaptado à vida nos oceanos.