Novo surto de Covid-19 impulsionado pela variante XEC em expansão na Europa e nos Estados Unidos

A variante XEC da Covid-19, identificada em maio de 2024, está a expandir-se na Europa e nos EUA. Cientistas estão a monitorizar o seu desenvolvimento, apesar das incertezas. Saiba mais aqui!

Variante XEC Covid
Estão a aumentar os casos da variante XEC da COVID-19. Novo surto coloca em alerta as autoridades para a evolução nas próximas semanas.

A variante XEC da Covid-19, identificada pela primeira vez em maio de 2024, está a ganhar destaque em várias regiões, nomeadamente nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Segundo os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, esta estirpe é responsável por aproximadamente 5,7% dos novos casos reportados nas últimas duas semanas.

A comunidade científica está atenta ao seu desenvolvimento, embora ainda persistam muitas incertezas sobre o comportamento e o impacte potencial desta variante.

Combinação de duas variantes anteriores

De acordo com o Dr. Peter Chin-Hong, especialista em doenças infeciosas da Universidade da Califórnia, a variante XEC é uma recombinante, formada pela troca de material genético entre duas variantes anteriores, KS.1.1 e KP.3.3. Embora esta característica genética seja uma das razões pelas quais os especialistas estão a monitorizar a sua disseminação, ainda não é claro se a XEC se tornará uma variante predominante globalmente.

Rick Bright, imunologista e ex-diretor da Autoridade de Investigação e Desenvolvimento Biomédico Avançado dos Estados Unidos, comentou que a constante mutação do vírus continua a evidenciar as limitações das vacinas no controlo total da pandemia. "Mais uma vez, a Covid está a demonstrar que não parou de se transformar", afirmou Bright.

Apesar da XEC ter chamado à atenção devido à sua rápida propagação em certas partes da Europa, particularmente na Alemanha, nos Países Baixos e em França, especialistas afirmam que ainda é prematuro afirmar que esta nova estirpe seja significativamente mais transmissível do que outras em circulação.

Bill Hanage, epidemiologista e diretor associado do Centro de Dinâmica de Doenças Comunicáveis da Escola de Saúde Pública de Harvard, mencionou que, até agora, não existem evidências conclusivas que comprovem que a XEC seja mais contagiosa.

"Para acreditar que esta variante é mais transmissível, teria de se observar um aumento mais acentuado de casos em várias regiões", sublinhou Hanage, acrescentando que a taxa de duplicação de casos não é alarmante neste momento.

Este padrão de disseminação pode estar relacionado com o chamado "efeito fundador", uma situação em que uma variante se torna dominante numa área específica não por ser inerentemente mais transmissível, mas por estar no local certo no momento certo. Marc Johnson, virologista e professor de microbiologia molecular e imunologia na Escola de Medicina da Universidade do Missouri, mencionou que a variante teve sucesso em certos países europeus, mas que a sua expansão noutras regiões, como os Estados Unidos, ainda não foi explosiva.

Nos Estados Unidos, apesar de os níveis da Covid-19 continuarem elevados, há indícios de que a taxa de infeção esteja a diminuir. Os dados mais recentes de águas residuais apontam para uma tendência decrescente do vírus, após um pico registado em agosto de 2024.

Gravidade da doença e impacto nas vacinas

Uma questão essencial relacionada com a XEC é se esta estirpe provoca uma doença mais grave do que as anteriores. Até ao momento, não há dados que sugiram um aumento na severidade dos sintomas associados à XEC. Embora esta variante apresente mutações genéticas, não existem indícios de que cause uma doença mais grave do que as variantes já conhecidas.

Outro aspeto crítico é a eficácia das vacinas existentes contra esta nova estirpe. A XEC pertence à família das variantes Ómicron, o que significa que está geneticamente relacionada com outras variantes que já foram alvo das vacinas recentemente atualizadas da Pfizer, Moderna e Novavax.

Segundo Chin-Hong, o facto de a proteína spike — a parte do vírus à qual os anticorpos se ligam — da XEC ser semelhante à de outras variantes Omicron oferece uma boa indicação de que as vacinas disponíveis continuam a proporcionar uma proteção significativa contra esta nova estirpe. "Estou satisfeito por não ser uma variante que se desvia significativamente das anteriores. Isso significa que a vacina ainda oferece uma boa correspondência", acrescentou Chin-Hong.

Johnson também mencionou que as pessoas que contraíram a variante dominante KP.3.1.1 durante o aumento de casos no verão poderão ter uma imunidade reforçada contra a XEC, dado que ambas as variantes são geneticamente relacionadas.

Contudo, Rick Bright salientou a necessidade de dados clínicos para uma avaliação mais precisa da eficácia das vacinas contra a XEC.

Embora os especialistas estejam de acordo de que a XEC merece atenção, há um consenso de que esta variante pode não se tornar dominante no curto prazo. Hanage mencionou que, apesar de ser provável que a XEC continue a circular, não apostaria que esta estirpe se tornasse predominante até ao inverno de 2024. As incertezas em torno do seu impacte tornam difícil prever com exatidão o seu desenvolvimento.

Com a pandemia da Covid-19 a evoluir, a monitorização de novas variantes, como a XEC, será crucial para orientar futuras estratégias de saúde pública e campanhas de vacinação.