Novo sistema de captação de chuvas garante água para um quinto da população do Algarve
A Barragem de Odelouca já consegue armazenar água para assegurar o consumo urbano nos períodos de seca. Esta é a primeira de uma série de obras para mitigar os efeitos das alterações climáticas.

Com boa parte das albufeiras do Algarve, por estes dias, próximas da capacidade máxima de armazenamento de água, a recente inauguração do sistema algarvio de captação de águas pode até parecer inusitada. Mas, quem vive na região, sabe que é no Sul do país que a preparação para as alterações climáticas faz mais sentido.
A obra, com um investimento de 4,9 milhões de euros feita pela Águas do Algarve, irá aproveitar o volume morto da barragem de Odelouca, em Monchique, a maior da região, que se encontra atualmente a 87% da sua capacidade.
A instalação do novo sistema assumirá uma função determinante quando a região algarvia voltar a enfrentar um período prolongado de seca, como se espera, aliás, que venha a acontecer com cada vez maior frequência.

A captação de águas, neste modelo, permitirá manter uma reserva de cerca de 15 hectómetros cúbicos (hm3) na Barragem de Odelouca. Na prática, este volume de água representa um quinto do abastecimento público anual (consumo urbano) da região, que atinge os 75 hm3.
Um inverno em contingência e uma primavera atípica
Na sequência de uma primavera atípica, caracterizada por chuvas abundantes, o Algarve prepara-se para entrar no verão com reservas quase plenas de água de superfície.
Mas a obra, inaugurada no final da segunda semana de abril, é vista pelas Águas do Algarve como uma das principais infraestruturas para a adaptação climática, preparando a região para um horizonte de médio e longo prazo em que a água continuará a representar um bem escasso.
Nos últimos três anos, aliás, o Algarve foi obrigado a reduzir no consumo de água para mitigar os efeitos da seca na região. A poupança dos recursos hídricos, em muitos setores, chegou a ultrapassar os 10%, como foi o caso da agricultura (30%) e do turismo (golfe), que atingiu os 16%, enquanto o consumo urbano se ficou pelos quase 10%.
Mais obras para aumentar a resiliência à seca
Esses esforços terão de continuar, advertem os responsáveis da Águas do Algarve, que pretendem também aumentar a eficiência hídrica das redes urbanas de abastecimento. Para reduzir as perdas e fugas de água está prevista uma verba de cerca de 44 milhões de euros para intervenções, a cargo dos municípios, totalmente financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência.

Também em curso estão os investimentos para construir a Tomada de Água do Pomarão e a Dessalinizadora da Albufeira. Ambas as infraestruturas, que visam reforçar o abastecimento de água no Algarve e Alentejo, saíram recentemente do Plano de Recuperação e Resiliência, integrando agora o programa Portugal 2030.
A obra, avaliada em 61,5 milhões de euros, tem como intuito captar a água superficial na zona estuarina do rio Guadiana, na proximidade da povoação de Mesquita, a montante do Pomarão, e prevê a construção de uma conduta até à albufeira de Odeleite, no concelho de Castro Marim.
Já a dessalinizadora, que ficará localizada no Município de Albufeira, terá uma capacidade inicial 16 milhões de metros cúbicos (m3), mas está projetada para uma capacidade máxima até 24 milhões de m3 de água.
A conceção, construção e exploração do Sistema de Dessalinização do Algarve foram adjudicadas em outubro de 2024 a um consórcio, formado pelas empresas Lusoágua – Serviços Ambientais, Aquapor – Serviços e GS Inima Enviroment num investimento público de 107,9 milhões de euros.
Referências da notícia
Visita da Ministra do Ambiente e energia ao Empreendimento de Odelouca. Águas do Algarve.
AMAL mostra intervenções da medida SM1 - Reduzir perdas de água no setor urbano. Comunidade Intermunicipal do Algarve.
Tomada de água do Pomarão – Ponto de Situação. Município de Mértola.
Adjudicada dessalinizadora de água do mar do Algarve. Portugal.gov.pt