Nos países em desenvolvimento a prestação de serviços hidrometeorológicos ainda é deficiente

De acordo com um relatório recente da Organização Meteorológica Mundial, foram identificadas as deficiências que impedem a prestação efetiva de serviços meteorológicos, climáticos, hidrológicos e ambientais de qualidade em alguns países em desenvolvimento.

Globo
Em muitos países do globo, principalmente os países em desenvolvimento, ainda têm uma deficiente vigilância hidrometeorológica.

A capacidade de prever com antecedência os fenómenos de risco meteorológico permite que as sociedades se preparem para mitigar o efeito desses fenómenos, contribuindo para a salvaguarda de vidas e bens.

Relatório da OMM – Hydromet Gap Report 2024

O relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), “Hydromet Gap Report 2024”, divulgado no passado dia 19 de junho, apresenta uma análise baseada em diagnósticos hidro meteorológicos realizados em 20 países menos desenvolvidos e em pequenos Estados insulares em desenvolvimento.

O principal objetivo deste levantamento é identificar onde a assistência é mais necessária, indicando as lacunas na cadeia de produção, emissão e divulgação das previsões e avisos hidro meteorológicos, que requerem uma atenção urgente por parte dos governos e onde os parceiros de desenvolvimento (“Alliance for Hydromet Development”) devem concentrar os seus esforços.

Os Serviços hidrometeorológicos desses países devem desempenhar um papel fundamental para a prosperidade económica e o desenvolvimento resiliente dos países, mas muitos deles enfrentam desafios muito grandes, que não lhes permitem serem eficazes na sua prestação de serviços.

Devido às alterações climáticas a intensidade e a frequência dos fenómenos extremos têm vindo a aumentar.

São os países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento que mais têm sofrido com as alterações climáticas.

Cheias
Os fenómenos extremos causam impactos catastróficos nas populações mais vulneráveis.

O “Hydromet Gap Report 2024” identifica uma série de deficiências que impedem a prestação efetiva e de qualidade de serviços meteorológicos, climáticos, hidrológicos e ambientais.

Principais deficiências na prestação de serviços hidro meteorológicos nos países em desenvolvimento

Os Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais (SMHN) dos vinte países onde foi realizado o diagnóstico da situação apresentam infra estruturas de observação fracas. Existem falhas na cobertura das estações meteorológicas e hidrológicas, com grande parte delas inoperacionais, problemas de manutenção e da qualidade dos dados observados.

Também não são recolhidos nem partilhados dados meteorológicos e climáticos básicos suficientes. Apesar da tendência geral ser positiva, ainda há grandes lacunas de dados, especialmente em África e nas ilhas do Pacífico. A falta de formação, de recursos técnicos e de conetividade à Internet limita a qualidade e o desenvolvimento dos serviços. O SOFF (“Systematic Observations Financing Facility”), mecanismo de financiamento das observações sistemáticas, um fundo especializado das Nações Unidas para o clima, foi criado para resolver esta questão.

Comunicações
Para se assegurar a vigilância meteorológica é essencial ter uma boa rede de estações meteorológicas e de transmissão de dados.

A transmissão de dados representa um desafio significativo. A maioria dos 20 SMHN avaliados não dispõe de um sistema de gestão de dados centralizado e automatizado. Por detrás desta lacuna está uma falta geral de infra estruturas de tecnologias de informação e comunicação.

Muitas das catástrofes mais mortíferas das últimas décadas no globo foram previstas e com relativa antecedência, no entanto, a falha comum foi a falta de comunicação, os avisos não chegaram às populações.

Os Serviços Meteorológicos e Hidrológicos têm poucos recursos e pessoal insuficiente. A insuficiência de pessoal qualificado e de recursos financeiros agrava esta lacuna.

Os Sistemas de Aviso Meteorológico e Hidrológico também não é dos mais apropriados pois os avisos não são enviados com a antecedência desejável e não têm informação para as populações sobre o impacto espectável perante determinado fenómeno extremo.

A previsão baseada no impacto fornece as informações necessárias para agir antes das catástrofes, a fim de minimizar os custos socioeconómicos dos riscos meteorológicos e climáticos.

Recomendações gerais do Relatório

O Hydromet Gap Report identificou a necessidade de apoio coordenado do governo e dos parceiros de desenvolvimento de forma a implementar soluções rentáveis, processos e enquadramentos sustentáveis, incluindo a eliminação da lacuna das tecnologias de informação e comunicação.

Outro aspeto importante é o de promover a promulgação de legislação apropriada e criar mecanismos de governação para serviços hidro meteorológicos e outros serviços relevantes.

A cooperação e as relações intersetoriais e regionais entre os intervenientes nacionais e os utilizadores dos serviços, como, por exemplo, as comunidades, é imprescindível se se quer montar um Sistema de Avisos eficaz, bem como a formação de todos os envolvidos, incluindo as comunidades.

Em resposta a estas conclusões e recomendações políticas, a “Alliance for Hydromet Development” delineou um conjunto de ações prioritárias, incluindo a expansão do SOFF a outras partes da cadeia de valor hidro meteorológica em apoio à Iniciativa de Alerta Precoce para Todos, “Early Warnings for All”, iniciativa que é uma prioridade do Secretário-Geral das Nações Unidas e da OMM de fazer chegar avisos/alertas precoces a todos até 2027.