Nomear tempestades: uma responsabilidade incompreendida?
O ato de nomear tempestades, seja em que parte do mundo for, acarreta um conjunto de responsabilidades que nem sempre são conhecidas do público geral. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
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As entidades responsáveis pela ciência meteorológica de cada país têm cada vez mais a noção da importância de sensibilizar eficazmente a população para a ocorrência de eventos meteorológicos extremos. Por exemplo, desde 2015 que o Reino Unido utiliza nomes próprios para identificar tempestades, com o objetivo claro de consciencializar a população para os perigos associados aos avisos meteorológicos.
Os nomes escolhidos pelos internautas (...) refletem as religiões, as etnias, bem como a diversidade linguística e cultural presente.
Para este ano, os institutos meteorológicos do Reino Unido, Irlanda e Países Baixos criaram uma lista de nomes para as tempestades da temporada que tem a particularidade de ter nomes indicados pelo público, através das redes sociais (Reino Unido), por ter nomes de cientistas famosos (Países Baixos) e por ter nomes próprios muito característicos de uma determinada região ou país (caso da Irlanda).
Quando o objetivo é consciencializar a população para uma ameaça meteorológica, a estratégia de utilizar nomes próprios pode ser interessante e ser benéfica de forma geral. Quando se usam nomes de pessoas para eventos não humanos, estes acabam por ser antropomorfizados, adquirindo mais interesse e mais atenção por parte do público recetor. Contudo, a utilização de nomes próprios também pode ser um problema...
European Name for Anthony ... i have Finally been Named @liam_lovell First Named Storm of the 22/23 Season by @metoffice @Handry_Outlook https://t.co/swQF94fUih
— Anthony's Stormy World ️ (@AnthonyStorms7) August 4, 2023
Conotação negativa dos nomes das tempestades
Os nomes escolhidos pelos internautas dos países anteriormente referidos refletem as religiões, as etnias, bem como a diversidade linguística e cultural presente. À exceção de Cillian, nome da terceira tempestade da temporada (depois de Antoni e Betty), todos os nomes da lista para a temporada deste ano são nomes pouco escolhidos pelos pais, para os seus filhos, hoje em dia.
Ao associarmos um nome humano a um evento desta natureza, este pode ficar rapidamente “manchado”. Vejam-se dois exemplos: o nome próprio Katrina tornou-se pouco popular nos Estados Unidos, devido à destruição e ao número de vítimas mortais associadas à tempestade de 2005; O nome Isis foi retirado da lista de tempestades da Organização das Nações Unidas, por ser homónimo de uma organização terrorista.
Na lista de nomes a atribuir às tempestades na Europa Central, este ano, há como é habitual uma alternância entre nomes próprios masculinos e femininos. Alguns estudos indicam que os eventos nomeados com nomes femininos são levados menos a sério em comparação com os que são nomeados com nomes masculinos. Para minimizar esta situação foram adicionados três nomes neutros, em termos de género.
O ato de dar nomes a eventos meteorológicos é de grande responsabilidade, uma vez que poderá ter impacte na vida futura de um conjunto de indivíduos homónimos. Geralmente esse impacte é mais negativo consoante o impacto do evento no território e na população.