Nomear tempestades: uma responsabilidade incompreendida?

O ato de nomear tempestades, seja em que parte do mundo for, acarreta um conjunto de responsabilidades que nem sempre são conhecidas do público geral. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!

Tempestade Otto.
Efeitos da Tempestade Otto, que afetou a Suécia em fevereiro deste ano.

As entidades responsáveis pela ciência meteorológica de cada país têm cada vez mais a noção da importância de sensibilizar eficazmente a população para a ocorrência de eventos meteorológicos extremos. Por exemplo, desde 2015 que o Reino Unido utiliza nomes próprios para identificar tempestades, com o objetivo claro de consciencializar a população para os perigos associados aos avisos meteorológicos.


Os nomes escolhidos pelos internautas (...) refletem as religiões, as etnias, bem como a diversidade linguística e cultural presente.

Para este ano, os institutos meteorológicos do Reino Unido, Irlanda e Países Baixos criaram uma lista de nomes para as tempestades da temporada que tem a particularidade de ter nomes indicados pelo público, através das redes sociais (Reino Unido), por ter nomes de cientistas famosos (Países Baixos) e por ter nomes próprios muito característicos de uma determinada região ou país (caso da Irlanda).

Quando o objetivo é consciencializar a população para uma ameaça meteorológica, a estratégia de utilizar nomes próprios pode ser interessante e ser benéfica de forma geral. Quando se usam nomes de pessoas para eventos não humanos, estes acabam por ser antropomorfizados, adquirindo mais interesse e mais atenção por parte do público recetor. Contudo, a utilização de nomes próprios também pode ser um problema...

Conotação negativa dos nomes das tempestades

Os nomes escolhidos pelos internautas dos países anteriormente referidos refletem as religiões, as etnias, bem como a diversidade linguística e cultural presente. À exceção de Cillian, nome da terceira tempestade da temporada (depois de Antoni e Betty), todos os nomes da lista para a temporada deste ano são nomes pouco escolhidos pelos pais, para os seus filhos, hoje em dia.

Ao associarmos um nome humano a um evento desta natureza, este pode ficar rapidamente “manchado”. Vejam-se dois exemplos: o nome próprio Katrina tornou-se pouco popular nos Estados Unidos, devido à destruição e ao número de vítimas mortais associadas à tempestade de 2005; O nome Isis foi retirado da lista de tempestades da Organização das Nações Unidas, por ser homónimo de uma organização terrorista.

Na lista de nomes a atribuir às tempestades na Europa Central, este ano, há como é habitual uma alternância entre nomes próprios masculinos e femininos. Alguns estudos indicam que os eventos nomeados com nomes femininos são levados menos a sério em comparação com os que são nomeados com nomes masculinos. Para minimizar esta situação foram adicionados três nomes neutros, em termos de género.

O ato de dar nomes a eventos meteorológicos é de grande responsabilidade, uma vez que poderá ter impacte na vida futura de um conjunto de indivíduos homónimos. Geralmente esse impacte é mais negativo consoante o impacto do evento no território e na população.