No Continente, 2023 foi o 5º ano com o valor mais elevado de densidade de descargas elétricas atmosféricas, desde 2010
De acordo com o Boletim Anual de 2023 das descargas elétricas atmosféricas, elaborado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera, em 2023 verificou-se no Continente um aumento significativo na densidade das descargas quando comparada com a registada em 2022.
As descargas elétricas atmosféricas ocorrem em condições de instabilidade, quando ocorrem fortes movimentos verticais ascendentes na atmosfera, que originam as nuvens de forte desenvolvimento vertical.
Descargas Elétricas Atmosféricas
Raio ou descarga elétrica atmosférica (DEA) é um fenómeno atmosférico de grande extensão (alguns quilómetros) e de grande intensidade (picos de intensidade de corrente podem ser superiores a 100 quilo-ampere), que ocorre devido ao acumulado de cargas elétricas em regiões localizadas da atmosfera, como é, por exemplo, o caso das nuvens associadas a fortes tempestades, nuvens com forte desenvolvimento vertical.
Para que uma descarga elétrica atmosférica possa ocorrer é necessário que existam cargas de sinais opostos na atmosfera (nuvens). A atração entre as cargas é tão grande que provoca a descarga elétrica. Existem vários tipos de descargas elétricas: intra-nuvem (DEA IN), da nuvem para o ar e da nuvem para o solo (DEA NS).
A DEA vem sempre acompanhado do relâmpago (emissão intensa de radiação eletromagnética) que é a parte visível e do trovão, a parte sonora, que ocorre em virtude do aquecimento brusco e da rápida expansão do ar, que produz assim uma forte pressão, que se manifesta por um som estrondoso.
Como a velocidade da luz é muito superior (3x108 m/s) à do som (na ordem de 340 m/s), o trovão é ouvido posteriormente ao relâmpago, quando ocorre a uma distância apreciável do observador.
A Rede de Deteção e Localização de Descargas Elétricas Atmosféricas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) é atualmente composta por 5 detetores no Continente (Bragança, Braga, Castelo Branco, Santa Cruz e Olhão) e 4 da Região Autónoma da Madeira (Funchal, Santana, Porto Moniz e Porto Santo). No processo de deteção e localização, esta rede incorpora dados da rede da Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (AEMET) (6 detetores junto à fronteira).
Variação das DEA no continente
Segundo o IPMA, registou-se em 2023 um aumento significativo, 62%, na densidade de DEA NS (0.34 DEA/km2/ano) quando comparada com a registada em 2022 (0.21 DEA/km2/ano).
Comparando a densidade média das descargas elétricas atmosféricas nuvem solo (DEA NS) de 2023, no continente, com o valor médio no período 2010-2022 (0,24 DEA NS /km2/ano), verifica-se que em 2023 se registou o 5º valor mais elevado de densidade. O valor mais elevado, no mesmo período, ocorreu no ano 2011, seguindo-se 2018.
No ano 2023, 55% das DEA NS registaram-se nos seguintes 5 distritos: Bragança, com 4798 DEA NS, Vila Real (3520), Guarda (3005), Castelo Branco (2944) e Viseu (2589). À semelhança de 2022, Bragança foi o distrito com maior número de DEA NS. Em 2023, Bragança também foi o distrito com maior número de DEA intra-nuvem (56974).
De acordo com o Boletim do IPMA, no ano de 2023 registaram-se 108 dias com trovoada, valor abaixo dos 140 dias registados em 2022 e do valor médio para o período 2010-2022 (140.1 dias).
Verifica-se que foi nas regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Alto Minho que ocorreu o maior número de dias com trovoada, representadas pelos distritos de Vila Real (54 dias), Bragança e Viana do Castelo (ambos com 50 dias). De referir que os dias de trovoada incluem todo o tipo de DEA.
Variação das DEA ao longo do ano 2023
Em 2023, de acordo com o IPMA, a distribuição sazonal da atividade elétrica na atmosfera, DEA NS, foi a seguinte: no verão 35,6%, no outono 35,3%, na primavera 27,3%, e no inverno 1,8%. Esta distribuição foi diferente da que ocorreu em 2022, que concentrou a maior percentagem de ocorrência de DEA NS no outono com 49%.
Estas variações dependem das condições meteorológicas, maior ou menor instabilidade, que ocorrem ao longo dos respetivos meses das estações.
Massas de ar com temperaturas mais elevadas nos níveis mais baixos da atmosfera favorecem os desenvolvimentos verticais ascendentes que ocorrem na atmosfera, condições de maior instabilidade e por essa razão verifica-se uma maior concentração de DEA NS no período da tarde, com o máximo de ocorrência entre as 15h e as 17h UTC (valores na ordem dos 16%).
Através da rede de deteção dos diversos tipos de DEA do IPMA, os meses com mais registos de DEA NS, foram junho, com 10.633, setembro, com 9.764 DEA NS e maio, com 8.091 DEA NS.
Se analisarmos as DEA IN, o mês com mais registo já foi o mês de setembro (DEA IN 126807), seguido de junho (DEA IN 119417) e em terceiro lugar o mês de maio (DEA IN 100139).
Em relação à distribuição do número de trovoadas por meses, foi no mês de maio que se registou um maior número de dias com trovoada, 18 dias, seguido de junho e outubro, ambos com 16 dias.