Nível de água do Rio Paraguai regista o valor mais baixo em mais de um século

As alterações que se verificam nos padrões de precipitação estão a provocar modificações nas dinâmicas fluviais em vários pontos do globo. Fica a saber mais sobre este assunto, no nosso portal!

Rio.
O Rio Paraguai junto à capital do país homónimo, Assunção.

O Rio Paraguai é um curso de água de grande importância na América do Sul, sendo que o seu percurso atravessa os territórios do Brasil, da Bolívia, do Paraguai e da Argentina. Com os seus 2621 km, é um dos mais extensos do subcontinente sul americano, estando ainda no lote dos 40 mais extensos do planeta.

A paisagem cada vez mais seca está a tornar-se uma fatura progressivamente mais pesada para as famílias que dependem daquela água (...)

A sua nascente situa-se no estado brasileiro do Mato Grosso, a Norte da cidade de Cuiabá, numa pequena localidade chamada Diamantino. A sua bacia hidrográfica, que é a sua área de influência, é superior a 1 milhão de km2, sendo que é um dos afluentes mais importantes do Rio Paraná, o segundo maior da América do Sul, só superado pelo Amazonas.

O Rio Paran�� é o oitavo maior rio do mundo em extensão, com 4.880 km, sendo o maior da América do Sul depois do Rio Amazonas. A sua bacia hidrográfica abrange mais de 10% de todo o território brasileiro, sendo que recebe o nome de Rio Paraná na confluência com o Rio Paranaíba.

Importância do curso de água

Para além de todas os dados acima referidos, o Rio Paraguai é uma via rápida que potencia o comércio, principalmente na secção final do rio. Junto à capital do Paraguai, Assunção, esta massa de água é crucial, pois para além de fornecer alimento e de abastecer a população, permite transportar mercadorias ao longo de um eixo que só termina no Oceano Atlântico, junto à capital argentina de Buenos Aires.

Tanto o Rio Paraguai como o Paraná fornecem rotas importantes para o comércio de soja, milho e outros produtos. O rio Paraná, na Argentina, também está perto do nível mais baixo do ano em torno da cidade de Rosário, um importante ponto de distribuição de cereais. Já na secção mais norte do Rio Paraguai, mais perto da sua nascente, a navegação está praticamente interrompida devido à queda extrema nos níveis de água.

Atualmente, tanto o Paraguai como os seus tributários e mesmo o Paraná estão a sofrer com seca, numa altura em que o inverno está a terminar naquela parte do globo. A falta de chuva, que em algumas regiões brasileiras já se verifica há perto de 150 dias, está afetar as condições de navegabilidade, pondo em perigo os utilizadores que diariamente cruzam aquela via aquática.

Das 21 réguas que são utilizadas para monitorizar o nível do Rio Paraguai em território brasileiro, 18 apresentam níveis inferiores à média, ao valor expectável para esta altura do ano. Destas 18 há já 3 réguas que não estão em contacto com a água do rio, ou seja, apresentam valores negativos.

Rio Paraguai.
Na secção intermédia e final, o Rio Paraguai é uma importante autoestrada fluvial que permite o tráfego de barcos com dimensões consideráveis. Atualmente, a navegabilidade deste tipo de embarcações está bastante condicionada.

Impactes cada vez mais visíveis

Apesar de tudo, o rio e os seus afluentes não estão completamente secos. Contudo, há uma série de impactes cada vez mais visíveis, ao nível da fauna, da flora e da paisagem, para além dos impactes económicos já abordados. Toda a biodiversidade numa área de milhões de quilómetros quadrados está a sofrer.

(...) há já 3 réguas que não estão em contacto com a água do rio, ou seja, apresentam valores negativos.

A paisagem cada vez mais seca está a tornar-se uma fatura progressivamente mais pesada para as famílias que dependem daquela água para produzir alimento, seja na atividade piscatória, seja na agricultura. O pantanal (Brasil) ou chaco (Paraguai) é uma paisagem de características húmidas, com vastas áreas alagadas, mas cada vez mais ameaçada pelos efeitos das alterações climáticas.

Como há menos humidade no solo e na atmosfera, formam-se condições propícias à ocorrência de incêndios florestais. Só no estado do Mato Grosso, já arderam mais de 3 milhões de hectares de áreas florestais, de mato e agrícolas, desde o início de 2024. O mês de agosto foi o quinto do ano em que este estado brasileiro lidera o ranking de estados brasileiros com mais ocorrências relacionadas com ignições em meio rural.