Níveis de armazenamento no mês de setembro recuam e persiste a seca em Portugal
A escassez de água nas bacias hidrográficas preocupa especialistas. No final de setembro, apenas se regista 69% do volume total armazenado nas albufeiras portuguesas. Saiba mais connosco!
Em setembro de 2023, Portugal reforça os desafios na gestão das bacias hidrográficas, quando as barragens em todo o país continuam a operar com níveis de armazenamento de água abaixo do esperado.
A tempestade que assolou a Península Ibérica no início do mês contribuiu com mais destruição do que alívio para a situação da seca, deixando o país com preocupações crescentes sobre o abastecimento de água e a gestão de recursos hídricos. Os números revelam cenários preocupantes em algumas áreas do país.
Os níveis de armazenamento em setembro de 2023
Segundo dados de monitorização das albufeiras do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), a quantidade de água armazenada em setembro de 2023 ficou abaixo da média em seis das bacias hidrográficas do país. Isto representa aproximadamente 36% das albufeiras monitorizadas com disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 24% delas têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total.
Nove das bacias hidrográficas registaram valores acima da média para o mês. Os níveis de armazenamento mais elevados no final de setembro foram observados nas bacias do Douro, com 89,7% do volume total, Lima, com 80,5%, e Cávado, com 77,5%. No entanto, estes números não são suficientes para aliviar as preocupações em relação à escassez de água.
Comparando os armazenamentos no final de setembro de 2023 com as médias de armazenamento do mês de setembro dos anos anteriores (1990/91 a 2021/22), observa-se uma situação preocupante. A maioria das bacias hidrográficas apresenta níveis de armazenamento inferiores às médias históricas para este mês. As bacias do Vouga (68,4%), Sado (37,1%), Mira (31,3%), Arade (27,2%), Ribeiras do Barlavento (7,8%) e Ribeiras do Sotavento (28,2%) estão particularmente abaixo das médias.
Situação crítica na Península Ibérica gera receios em território nacional
A par de Portugal, a vizinha Espanha está numa situação ainda mais crítica, o que poderá ter consequências em território nacional mais sérias, a médio e longo prazo. Os recursos hídricos escassos e a falta de precipitação significativa têm afetado gravemente várias regiões. No entanto, Portugal continua a sentir os impactes da seca iminente. Em particular, a região do Algarve, por exemplo, enfrenta problemas estruturais de falta de água, e a falta de investimentos em soluções sustentáveis é motivo de preocupação.
As críticas à gestão de recursos hídricos em Portugal têm vindo a intensificar-se. A Associação Natureza Portugal (ANP/WWF) aponta a implementação deficiente dos principais instrumentos públicos de gestão de água como um dos principais problemas. O Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água, que está em processo de revisão há mais de 7 anos, e o regime de caudais entre Portugal e Espanha, desatualizado e com várias lacunas, são apenas alguns exemplos apontados pelas associações.
A ANP/WWF ofereceu-se para providenciar uma lista de recomendações ao governo para enfrentar a escassez de água. Entre as recomendações, propõe a limitação da procura em sistemas de abastecimento de água sujeitos a escassez, a exigência de seguros para grandes empresas agrícolas e o incentivo à diversificação e complementaridade de fontes de abastecimento de água.
Esta situação revela-se muito preocupante, pois além da falta de precipitação significativa, outro fator preocupante é o calor persistente que se fará sentir no início de outubro, anormal para a época do ano. Segundo o ECMWF - o nosso modelo de referência -, as previsões indicam que Portugal defrontar-se-á com a continuidade de temperaturas elevadas e acima da média nestes primeiros dias de outubro, e que poderão acentuar a situação de seca em que está envolvido o país.