Níveis de armazenamento das barragens em Portugal: qual foi a tendência em maio de 2024?

Apesar de 68% das albufeiras monitorizadas apresentarem disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, a escassez de água em algumas regiões persiste.

Albufeiras estado
68% das albufeiras monitorizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total. Região Sul persiste com níveis mais baixos.

No final de maio de 2024, 68% das albufeiras monitorizadas em Portugal Continental apresentavam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 5% tinham disponibilidades inferiores a 40%. Comparativamente à média de maio entre 1990/91 e 2022/23, os armazenamentos apresentaram-se superiores em todas as bacias hidrográficas, exceção para Mira, Arade, Ribeiras do Barlavento e do Sotavento.

A barragem do Alqueva, por exemplo, atingiu em maio 95% da sua capacidade máxima de armazenamento. De qualquer modo, a situação permanece preocupante e mais medidas devem ser tomadas para fazer frente a um problema que o nosso país enfrenta num contexto de crise climática.

Mês de maio: entre abundância e escassez de água

No final de maio de 2024, a situação das barragens em Portugal era contrastante, com algumas bacias hidrográficas a registarem aumentos no volume armazenado e outras a assistirem a decréscimos.

Em comparação com o boletim anterior, de 20 de maio, verificou-se um aumento do volume armazenado em 4 bacias hidrográficas, enquanto em 11 bacias o volume decresceu. O total de volume armazenado era de 11 538 hm3 nas albufeiras analisadas, o que representa 87% do total.

Estado das Barragens em Portugal
País mantém níveis de armazenamento de água, com 87% do nível de armazenamento total de água. Fonte: adaptado do Relatório do SNIRH, de 27 de maio de 2024.

Apesar deste volume de água, registou-se um decréscimo de 0,68% nos últimos sete dias. A maioria das albufeiras monitorizadas (68%) apresentava disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total. Apenas 5% das albufeiras tinham disponibilidades inferiores a 40% do volume total.

É de salientar que, no final de maio, os armazenamentos em todas as bacias hidrográficas, exceto Mira (41,5%), Arade (43,0%), Ribeiras do Barlavento (22,4%) e Ribeiras do Sotavento (45,2%), estavam acima das médias de armazenamento do mês de maio entre 1990/91 e 2022/23. Aliás, algumas bacias representam níveis de armazenamento superiores a 90%, como são os casos do Oeste (90,2%), do Cávado (90,7%), do Vouga (93,1%), do Douro (93,3%), do Ave (94,6%) e do Mondego (94,8%).

Decisões tomadas para combater a escassez hídrica

Face à situação de escassez de água em algumas regiões que vem persistindo ao longo do tempo, o Governo pondera a construção de duas novas barragens no Algarve, em Alportel e na zona da Foupana. Além disso, está a ser avaliada a possibilidade de aumentar a altura de barragens já existentes entre 50 centímetros e 1 metro.

O projeto de captação de água do rio Guadiana para a barragem de Odeleite, com vista a aumentar a disponibilidade de água na região do Algarve, deverá estar concluído no segundo trimestre de 2026. Esta iniciativa tem sido alvo de discussões com Espanha, incluindo a possibilidade de cedência de água do Alqueva.

Ademais, sabe-se que apesar da abundância de água em algumas barragens, Portugal enfrenta um cenário de consumo recorde, atingindo em 2024 os 6 000 hm3/ano, o equivalente a "dois Alquevas".

Segundo a perspetiva do presidente da Fenareg, Engenheiro José Nuncio, este valor poderá aumentar ainda mais no futuro, pressionando os recursos hídricos do país. A questão da gestão da água em Portugal tem sido alvo de debate aceso, com alguns a defenderem a existência de falta de água no país e outros a apontarem para falhas na gestão dos recursos existentes.

O presidente da Fenareg defende que Portugal não tem falta de água, mas sim que esta não se encontra disponível nas regiões e alturas do ano em que é mais necessária.

O que se pode esperar para as próximas semanas?

O mês de junho em Portugal será um mês marcado por temperaturas do ar acima da média em grande parte do país, com destaque para o calor no sul. A precipitação será irregular e variável nas próximas semanas, com a possibilidade de aguaceiros, trovoadas e granizo em algumas regiões. De qualquer forma os nossos modelos não nos fazem antever acumulações que ultrapassem os valores médios habituais para esta altura do ano.

A incerteza nas projeções é elevada, pelo que é fundamental acompanhar as previsões meteorológicas a curto prazo para nos mantermos informados sobre as condições do tempo e quais serão os impactes gerados no volume armazenado de água no mês de junho.

De qualquer modo, o mês de maio de 2024 evidenciou uma situação relativamente confortável, embora com algumas disparidades, nas barragens em Portugal. Enquanto algumas regiões enfrentam uma escassez moderada, outras dispõem de abundância de água. O Governo pondera medidas para aumentar a capacidade de armazenamento e combater a escassez, mas a gestão eficiente dos recursos hídricos continua a ser um desafio crucial para o país.