Mundial Catar 2022: tecnologia revolucionária de arrefecimento sustentável
Foram implementadas medidas de segurança e alta tecnologia sem impacto ambiental para reduzir o efeito do calor durante o Mundial de Futebol Catar 2022. Saiba mais aqui!
Devido às elevadas temperaturas registadas no Catar, mesmo nesta altura do ano, é um Campeonato do Mundo atípico. A primeira medida tomada foi mudar o mês da disputa dos jogos. Mas como sabemos isto não é suficiente para evitar o calor que se regista nesta parte do planeta.
Para além de terem mudado o mês, implementaram uma tecnologia inovadora no arrefecimento dos estádios que funciona com energia solar, algo como "arrefecer com o Sol". A FIFA aprovou oficialmente a utilização do Sistema Global de Avaliação de Sustentabilidade para os locais e todas as instalações para este Campeonato do Mundo. Este é o primeiro sistema no Médio Oriente e Norte de África desenvolvido para avaliar edifícios e infraestruturas ecológicas.
Catar “verde”
Devido à descoberta de reservas de petróleo nos anos 40, a economia do Catar transformou completamente o país, que outrora se especializava na pesca e na recolha de pérolas, para passar a ter um elevado nível de vida graças à exploração dos seus campos petrolíferos.
À medida que as décadas foram passando, os cientistas descobriram os enormes danos ambientais que a atividade petrolífera global inflige no nosso planeta ao gerar emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa, responsáveis pelo aquecimento global e pela atual crise climática que estamos a viver.
Agora, numa demonstração de interesse em mitigar as alterações climáticas, o Catar decidiu aproveitar esta oportunidade como anfitrião do Campeonato do Mundo para implementar a inovação e a sustentabilidade no centro dos preparativos. Resolveram aplicar tecnologia de ponta ao arrefecimento de estádios e outros locais movimentados, e este é sem dúvida um dos seus maiores sucessos do torneio.
Sistema revolucionário de arrefecimento
Os sistemas de arrefecimento de baixo consumo foram desenvolvidos após a atribuição ao Catar dos direitos de organização do Campeonato do Mundo. Foram fornecidos pelo Comité Supremo para a Entrega e Legado em colaboração com a Universidade do Catar (QU).
O cientista Saud Abdulaziz Abdul Ghani, professor de engenharia na QU, desempenhou um papel fundamental na investigação, que começou nos seus anos de universidade há décadas. O Dr. Abdul Ghani (conhecido como "Dr. Cool"), explica que a sua tese de doutoramento se centrou no ar condicionado de automóveis, e a ideia com o seu grupo de trabalho era aplicar a mesma teoria em muito maior escala aos estádios do Campeonato do Mundo.
Isto é 'refrigeração local', ou seja, consiste na refrigeração apenas das áreas necessárias, por exemplo, o campo de jogo e as bancadas. Como a forma de cada estádio é diferente, deve ser unicamente adaptada ao desenho e características de cada local. "A forma de cada estádio funciona como uma barreira, que contém uma bolha fria no seu interior", explica Abdul Ghani.
Utilizando a energia solar, o ar exterior é arrefecido e distribuído através de grelhas, pelas bancadas e por grandes bocais nas laterais do terreno de jogo. Os sistemas são isolados e arrefecidos localmente para os tornar tão amigos do ambiente quanto possível.
Cada estádio tem uma central elétrica instalada a quilómetros de distância. A máquina recebe água gelada que, por sua vez, é bombeada para o edifício através de tubos colocados ao longo das bancadas e no campo. O ar condicionado é programado para manter uma temperatura constante, que deve ser prévia e cuidadosamente regulada de acordo com as necessidades de cada momento e lugar, de modo a não submeter os jogadores a um efeito contraproducente de frio extremo que lhes poderia causar um desconforto significativo.
Nas bordas do campo de jogo há painéis que atraem o ar quente para as máquinas que estão por baixo, que não só arrefecem o ar e o devolvem ao estádio mas também o purificam, eliminam os odores corporais, filtram o pólen, o pó, a pele e o cabelo humano e o devolvem mais fresco e limpo ao público e aos desportistas.
Não apenas para o Campeonato do Mundo
Este sistema foi aplicado pela primeira vez na inauguração do Estádio Internacional Khalifa em 2017, e desde então tem sido adaptado para beneficiar outros estádios do Campeonato do Mundo, (em sete dos oito estádios-sede), sendo a excepção o Estádio 974, que tem ventilação natural e é totalmente desmontável.
Além disso, foram instalados sistemas de arrefecimento semelhantes noutros locais, tais como um centro comercial em Katara e uma quinta em Al Jor, onde se cultivam agora frutas e legumes para consumo local.
Esta tecnologia poderia ser totalmente revolucionária em países mais quentes, e transformar os espaços exteriores que conhecemos hoje em dia. Conseguiram mesmo instalar os mesmos sistemas de baixo consumo em quintas, para cultivar alimentos nos meses mais quentes.
Outra vantagem é que esta tecnologia não está patenteada, pelo que as empresas em diferentes países podem utilizá-la para desenvolver sistemas semelhantes. O sonho de Abdul Ghani é "ver esta descoberta progredir e beneficiar outras pessoas em todo o mundo", disse.