Mulher é diagnosticada com síndrome rara que a deixa constantemente alcoolizada
Síndrome da auto-cervejaria ou fermentação intestinal, uma patologia rara, é diagnosticada em mulher de 50 anos, após várias idas às urgências hospitalares. Conheças as causas e as formas de tratamento desta condição clínica.
Uma mulher de 50 anos foi diagnosticada com uma patologia rara, conhecida como síndrome da auto-cervejaria ou síndrome da fermentação intestinal, segundo relata a edição desta semana do Canadian Medical Association Journal (CMAJ).
Esta doença faz com que o álcool seja produzido no corpo e gera sintomas como fala arrastada, sonolência súbita, visão turva, tonturas e náuseas, como se a paciente estivesse efetivamente embriagada.
Depois de se ter apresentado por sete vezes nos últimos dois anos em urgências hospitalares com intoxicação alcoólica, mesmo apesar dos seus relatos de não consumir álcool, esta mulher foi recentemente encaminhada para uma clínica de gastroenterologia.
Esta condição clínica foi diversas vezes descartada pelas equipas médicas e diagnosticada como intoxicação alcoólica, pelos valores de álcool que apresentava nas amostras recolhidas, tendo mesmo chegado a ser erradamente diagnosticada como uma condição psiquiátrica.
Uma síndrome rara com contornos estranhos
Esta síndrome, agora devidamente diagnosticada, é considerada rara e afeta menos de 100 pessoas em todo o mundo. Acredita-se que esta síndrome ocorra quando os fungos ou bactérias que colonizam os nossos intestinos começam a produzir álcool através da fermentação.
Crê-se que que seja desencadeada por uma dieta inadequada, ao consumo de antibióticos ou outros fatores que levam ao domínio de leveduras e outros microrganismos no intestino que ajudam à produção do álcool.
Outras condições, como diabetes, problemas hepáticos e doenças inflamatórias intestinais, estão associadas a esta síndrome. A predisposição genética também pode desempenhar um papel importante.
Dr. Rahel Zewude, da Universidade de Toronto.
Para a mulher de 50 anos, os médicos suspeitam que os seus repetidos antibióticos para infeções do trato urinário e a toma de medicamentos redutores de ácido para a azia podem ter perturbado a macrobiota intestinal.
Uma dieta pobre em carboidratos e toma de medicamentos
Após a consulta de gastroenterologia, a paciente foi avaliada por um nutricionista, que lhe sugeriu adotar dieta pobre em carboidratos. Este novo regime alimentar, acompanhado de medicação, foi seguido durante um mês e apresentou excelentes resultados por quatro meses, com ausência de sintomas.
Após este período, a paciente apresentou uma recaída no consumo de carboidratos, o que se revelou na recorrência de sintomas como de fala arrastada e sonolência. Reorientada a voltar à dieta pobre em carboidratos, voltou a mostrar excelentes resultados clínicos.
Assim, para tratar a síndrome, os especialistas explicam que é necessário, principalmente a modificação no estilo de vida. Isso porque, na maioria das vezes, é preciso restringir a ingestão de alimentos ricos em carboidratos e açúcares.
Alguns quadros também exigem o uso de medicamentos que controlem os sintomas e a superpopulação de leveduras no trato gastrointestinal, uma vez que estes são responsáveis pela fermentação que acontece no intestino e leva à produção de álcool.
Esta não é a primeira vez que esta doença rara é documentada na literatura médica. Alyssa Kelsch, de 26 anos, natural Salt Lake City, no estado de Utah, nos Estados Unidos da América (EUA), também foi diagnosticada com a doença em 2018, após meses de consultas médicas e visitas a especialistas.
Apresentava um “hálito frutado”, olhos encobertos, tinha momentos espontâneos de riso e fala arrastada. Agora é medicada com antifúngicos que a ajudam a impedir que a sua comida a deixe inebriada.
O primeiro relatório publicado da doença data de 1948, sobre um jovem rapaz com rutura de estômago que cheirava a álcool, seguido por um no Japão em 1952 e outro na década de 1980 nos EUA, segundo o CMAJ.