Mistério resolvido? Uma partícula demónio é encontrada após 70 anos

Físicos anunciaram este mês que encontraram a partícula demónio prevista há 70 anos atrás. Esta quasipartícula ficou conhecida como partícula demónio de Pines, nome dado pelo físico que fez a previsão da sua existência. Pode ajudar na busca por supercondutores.

Uma quasipartícula foi encontrada depois de 70 anos
Uma quasipartícula foi finalmente encontrada após 70 anos da previsão da sua existência.

Em 2013, físicos encontraram o bosão de Higgs, uma partícula prevista em 1960 que recebeu o nome de partícula de Deus. O nome deve-se ao sucesso do Modelo Padrão, sendo o bosão de Higgs uma das primeiras observações a comprovar uma previsão teórica do Modelo Padrão.

Contudo, na Física, é possível encontrar os problemas que se chamam problemas do demónio. O mais conhecido entre eles é o demónio de Maxwell que é um problema termodinâmico. Na Física de partículas, o nome não ficou de fora quando David Pines previu uma partícula em 1956.

A partícula que recebeu o nome de demónio de Pines não é exatamente uma partícula no sentido da palavra. É uma quasipartícula que tem umas características interessantes. O resultado foi publicado na revista Nature.

As componentes do átomo

Podemos classificar de forma geral o átomo em três componentes principais: protões, neutrões e eletrões. Os protões e neutrões estão localizados no núcleo do átomo, sendo que o primeiro tem carga positiva e o segundo tem carga neutra.

Os eletrões, entretanto, são partículas fundamentais que têm uma carga negativa e se localizam em redor do núcleo.

Eletrões possuem uma massa pequena, mas é significativa o suficiente para que seja impossível alcançar a velocidade da luz, algo que só partículas sem massa conseguem, como os fotões.

Quasipartículas

Quando consideramos as partículas, como as componentes do átomo, estas possuem algumas propriedades como a própria massa e o spin. As partículas em si são descritas pelo Modelo Padrão e é possível obter as suas características como componentes e classificação.

Já as quasipartículas não são partículas de facto, mas sim excitações em sólidos que podem ser tratadas como partículas e não possuem massa. Importante lembrar que as partículas são excitações do próprio espaço, então tratar excitações em sólidos é tratar noutro meio.

O demónio de Pines

O físico teórico David Pines propôs a existência desta quasipartícula em 1956. A ideia era que eletrões poderiam comportar-se de uma forma diferente em sólidos. Poderia ocorrer uma excitação coletiva de eletrões que estivessem em níveis de energia diferentes e fora de fase.

Nesta combinação, seria possível obter uma quasipartícula que não tem massa, não teria carga e não interagiria com a luz, daí a dificuldade em ser observada. Pines chamou esta partícula de “demon” e ficou conhecida como demónio de Pines.

Alguns sugerem que o demónio de Pines teria uma função essencial em sólidos, principalmente em metais, sendo uma peça do quebra-cabeças na busca por supercondutores.

A descoberta

Investigadores americanos estavam a estudar um material chamado rutenato de estrôncio e os modos eletrónicos desse material. A investigação em si não tinha como objetivo a busca pelo "demon".

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Ao analisarem os dados, encontraram uma excitação do material que seria equivalente à do "demon". Para confirmar, soltaram eletrões sobre o material, já que o "demon" não interagiria com a luz. Nos dados finais, perceberam que um dos “eletrões” não possuía massa, indicando a existência do "demon".

O artigo foi publicado pela revista Nature.