Micropartículas radioativas continuam a preocupar as autoridades japonesas

Como é sabido, os acidentes nucleares deixam marcas que perduram, provavelmente por centenas ou até milhares de anos, algo que se está a verificar nas imediações da central nuclear de Fukushima. Contamos-lhe mais aqui!

Fukushima.
Vista da Central Nuclear de Fukushima-Daiichi. A fuga radioativa de 2011 contaminou áreas populacionais e agrícolas forçando milhares de pessoas a abandonarem as suas habitações.

Um trabalho recém-publicado numa revista da área da Química indica que ainda estão presentes grandes quantidades de micropartículas ricas em césio (Cs), altamente radioativas e pouco solúveis, em muitos dos edifícios que situam nas proximidades da Central Nuclear de Fukushima-Daiichi. Estas micropartículas que têm sido libertadas para a atmosfera desde o acidente de março de 2011, penetraram nos materiais das construções e desde então que constituem uma ameaça à saúde humana, principalmente quando inaladas.

(...) é importante adquirir conhecimento detalhado das propriedades das micropartículas, do seu comportamento e impacto no ambiente e nos ecossistemas (...)

Este trabalho, desenvolvido por cientistas de várias nacionalidades (Japão, França, Finlândia e Estados Unidos, por exemplo.) mostra que as micropartículas ricas em césio altamente radioativas e pouco solúveis devem ser tidas em conta nas avaliações de segurança e nos esforços de limpeza dos edifícios.

Nos últimos anos, esta equipa de cientistas demonstrou que, na sequência da explosão das unidades 1, 2 e 3 da Central Nuclear de Fukushima-Daiichi e nos anos que se seguiram, foram libertadas quantidades significativas de micropartículas ricas em césio, de dimensões muito reduzidas, e muito mais radioativas do que outras formas de precipitação de césio.

De que forma estas micropartículas afetam a qualidade do ar e as superfícies?

Para além de certas superfícies e dos próprios edifícios, sabe-se que estas micropartículas ricas em césio também contaminaram massas de ar que passaram por áreas densamente povoadas, como é o caso de Tóquio, durante o ano de 2011. Tendo isto em conta, foi possível compreender que estas partículas são extremamente tóxicas e infiltram-se em grandes quantidades nas estruturas dos edifícios que se encontram dentro da zona de exclusão.

Estes edifícios, se voltarem algum dia à utilização pública, devem primeiro passar por um complexo processo de descontaminação que levará vários anos e terá custos elevados.

Por exemplo, uma escola primária a cerca de 3 km da Central Nuclear foi estudada e os resultados foram surpreendentes. Cerca de 40% da radioatividade detetada era proveniente destas micropartículas de césio. As maiores quantidades destas micropartículas foram encontradas à entrada do edifício, mas também foi possível encontrar grandes quantidades nos andares superiores e bem no interior do edifício, o que comprova o poder de penetração destas partículas minúsculas.

O estudo das micropartículas ricas em césio é extremamente importante, pois os vários estudos desenvolvidos nos últimos anos acreditam que estamos a falar de um contaminante radioativo universal que acontece em todos os acidentes nucleares graves. Tanto para o Japão (Fukushima-Daiichi), como para a Ucrânia (Chernobyl) é importante adquirir conhecimento detalhado das propriedades das micropartículas, do seu comportamento e impacto no ambiente e nos ecossistemas de forma a que seja possível entendermos os verdadeiros impactos dos desastres nucleares.