Micróbios terrestres poderão sobreviver em Marte

Alguns micróbios da Terra poderão sobreviver temporariamente na superfície de Marte, segundo novo estudo da NASA e do Centro Aeroespacial Alemão. Compreender a resistência destes microrganismos em ambientes hostis será importante para o sucesso de futuras missões espaciais.

Marte
Cientistas da NASA e do Centro Aeroespacial Alemão descobrem que os micróbios terrestres poderão sobreviver na superfície de Marte.

O estudo, divulgado na publicação Frontiers in Microbiology, prepara o caminho para compreender não só a ameaça dos micróbios às missões espaciais, mas também as oportunidades de independência de recursos da Terra. Este trabalho de investigação contou com cientistas da NASA e do Centro Aeroespacial Alemão, incluindo a astrobióloga portuguesa Marta Cortesão.

Os cientistas testaram a resistência de amostras de três tipos de bactérias e um fungo a condições ambientais extremas lançando-os num balão científico até à estratosfera da Terra, camada da atmosfera cuja temperatura e radiação ultravioleta são semelhantes às encontradas na superfície de Marte, no equador.

"Alguns micróbios, em particular esporos do fungo do bolor, foram capazes de sobreviver à viagem, mesmo quando expostos a uma radiação ultravioleta muito elevada", relata Marta Cortesão, uma das primeiras autoras do estudo e investigadora do Centro Aeroespacial Alemão, Colónia, Alemanha.

A importância dos micróbios nas missões espaciais

Os autores do trabalho defendem que a compreensão da resistência dos micróbios às viagens espaciais é vital para o sucesso de futuras missões. Na procura de vida extraterrestre, precisamos de ter a certeza de que tudo o que descobrimos não viajou apenas connosco a partir da Terra.

"Em missões tripuladas de longo prazo a Marte, precisamos de saber como os microrganismos associados ao homem sobreviveriam no ‘Planeta Vermelho’, uma vez que alguns podem representar um risco para a saúde dos astronautas", refere Katharina Siems, investigadora que trabalha também no Centro Aeroespacial Alemão. “Alguns micróbios podem ser inestimáveis para a exploração espacial” dado que “poderão ajudar-nos a produzir alimentos”, algo crucial para a sobrevivência dos astronautas.

MARSBOx;
A caixa de alumínio que continha os micróbios terrestres presente na estratosfera, a cerca de 38 km de altitude. Créditos: NASA

Marte numa caixa

Muitas características chave do ambiente na superfície marciana não podem ser encontradas ou facilmente reproduzidas na superfície do nosso planeta, no entanto, acima da camada de ozono na estratosfera média da Terra, as condições são incrivelmente semelhantes. Amostras de microrganismos foram expostas a condições que simulavam a atmosfera, a temperatura, a pressão e a radiação em Marte. Os micróbios alcançaram a estratosfera terrestre através de um balão da NASA, a uma altitude de 38 quilómetros e contidos numa caixa de alumínio.

A caixa de alumínio, MARSBOx (Microbes in Atmosphere for Radiation, Survival and Biological Outcomes experiment) detentora de “atmosfera e pressão artificial marcianas”, levava duas camadas de amostra que permitiam testar a exposição dos microrganismos a diferentes condições ambientais. A camada inferior estava protegida da radiação, ao invés da superior.

“As amostras da camada superior foram expostas a radiação ultravioleta mais de mil vezes superior aos níveis que podem causar queimaduras solares na nossa pele", afirmou Marta Cortesão.

Experiências futuras

Embora nem todos os micróbios tenham resistido à viagem, um dos micróbios “sobreviventes” ao voo do balão da NASA, o bolor Aspergillus Niger, já tinha sido “previamente detetado na Estação Espacial Internacional”, realçou Katharina Siems.

"Os microrganismos estão estreitamente ligados a nós; o nosso corpo, a nossa alimentação, o nosso ambiente, pelo que é impossível excluí-los das viagens espaciais", continuou Siems. Assim, recorrer a boas analogias do ambiente marciano, tais como a missão de balão MARSBOx à estratosfera, será importante para ajudar os cientistas a explorar todas as implicações das viagens espaciais na vida microbiana, contribuindo para descobertas espaciais surpreendentes.