Mediterrâneo em chamas após uma grande onda de calor
Incêndios catastróficos estão a afetar, no final deste mês de julho, vários países mediterrânicos, tanto no norte de África como no sul da Europa. Grécia, Itália e Argélia são os países mais afetados.
Incêndios fora de controlo estão a queimar vários países da bacia do Mar Mediterrâneo. As chamas espalham-se desde a Grécia à Espanha, além do Norte da África, alimentadas pelo tempo seco, calor extremo e ventos fortes.
Os casos mais críticos deram-se na Grécia, Itália e Argélia. O fogo destruiu casas, forçou a retirada de milhares de pessoas das suas habitações e ameaçou importantes reservas naturais. Pelo menos 50 pessoas morreram nos últimos dias devido a estes incêndios.
Na Argélia há quatro dezenas de vítimas mortais. O norte do país tem experimentado uma onda de calor recorde nos últimos dias, com temperaturas a chegar aos 48 °C, o que continua a dificultar o trabalho dos operacionais.
As temperaturas em várias regiões do norte da África estão até 7 ºC acima do normal para a época do ano. É expectável, segundo o Instituto Meteorológico da Argélia que as temperaturas se mantenham acima de 48 °C até o final do mês no norte daquele país.
A propósito das tórridas temperaturas, na segunda-feira (24), a empresa nacional de eletricidade e gás da Argélia, Sonelgaz, disse ter registado um "pico histórico" no consumo de eletricidade, principalmente pelo uso de sistemas de arrefecimento do ar, como os ar condicionados.
Na Turquia, quatro dezenas de meios aéreos, apoiados pela aviação russa estão destacados para combater as chamas que devastam áreas florestais com centenas de hectares na província de Antália. Mais de 600 bombeiros combatem as chamas na região.
Os incêndios também se espalharam pelas florestas de Lataquia, província no noroeste da Síria. Na Tunísia, para onde a União Europeia enviou dois aviões de combate a incêndios, foi registada uma vítima mortal.
A Grécia, afetada por mais de 600 incêndios nos últimos dez dias, experimentou as temperaturas mais altas em 50 anos no fim de semana, com as temperaturas a alcançarem os 45 °C na região central da Tessália e aos 48 °C em Cálcis, norte de Atenas. As condições quentes, secas e ventosas são como “superalimentos” para incêndios.
As autoridades helénicas retiraram mais de 20 mil pessoas de casas e resorts nas ilhas de Rhodes, Corfu e Evia. Cerca de 3 mil turistas tiveram de voltar antecipadamente para casa, segundo o Ministério dos Transportes. Novas viagens foram canceladas. Estima-se que em Rhodes, já tenham ardido mais de 16.000 hectares.
Na terça-feira (25), dois pilotos de combate a incêndios morreram numa trágica queda de um avião perto da cidade de Karystos, na ilha de Evia. Na quarta-feira (26), cinco quilómetros a oeste de Volos, no centro da Grécia, as chamas atingiram parte de um paiol de munições, que explodiu, e obrigou à retirada de grande parte dos habitantes de Nea Anghialos, uma localidade próxima daquela cidade de cerca de 150.000 habitantes.
Em Itália, o pior cenário vive-se na ilha da Sicília, onde nos últimos dias arderam centenas hectares de área arborizada, num valor para já estimado em 60 milhões de euros, segundo estimativa da Proteção Civil local, a que se juntam mais 200 milhões de euros, quantificados pelo setor agrícola.
Um dos incêndios destruiu, na terça-feira (25), o convento de Santa Maria de Jesus, local especial de devoção dos sicilianos e património religioso do século XV.
Os corpos de dois idosos foram encontrados carbonizados numa casa consumida pelas chamas, próximo ao aeroporto de Palermo, que foi temporariamente fechado por causa das chamas. Os bombeiros lutam contra o fogo também na Sardenha.
A Espanha também está a enfrentar vários incêndios este mês, como o que devastou parte significativa da Gran Canária, Reserva da Biosfera, área protegida da UNESCO e que queimou mais de 2.200 hectares.
Também em Portugal se registaram nos últimos dias incêndios de dimensões consideráveis, o mais mediático destes deflagrou numa área acidentada e de mato, perto de casas, e que integra o parque natural Sintra-Cascais, na localidade de Zambujeiro em Alcabideche, concelho de Cascais.
Um futuro preocupante
A Organização Meteorológica Mundial, alertou que a onda de calor que assola a Europa pode continuar em agosto e que as temperaturas extremas que varrem o globo são o novo normal num mundo aquecido pelas alterações climáticas.
Os três dias mais quentes já registados deram-se em julho, de acordo com o serviço Copernicus. A temperatura média mundial atingiu 16,89 °C na segunda-feira (3) e ultrapassou 17°C pela primeira vez em 4 de julho, com uma temperatura média global de 17,04 °C.
As alterações climáticas aumentam o risco comportamentos mais catastróficos dos incêndios florestais, alimentados pelo tempo quente e seco. O mundo já aqueceu cerca de 1,1 °C desde o início da era industrial e o expectável é que as temperaturas continuem a subir, se nada for feito para o contrariar.