Março de 2025 foi o segundo mais quente da história dos registos, segundo o Observatório Copernicus

Dos últimos 21 meses, este foi o 20° em que a temperatura média global superou a marca de 1,5 °C acima do período pré-industrial, quebrando a meta do Acordo de Paris.

Anomalias globais de temperatura do ar em Março de 2025 com destaque de aquecimento no Ártico, na Europa e norte da África.
Anomalias globais de temperatura do ar em março de 2025 com destaque de aquecimento no Ártico, na Europa e norte da África. Créditos: Adaptado de C3S/ECMWF.

A temperatura média global continua a subir num ritmo acelerado e preocupante. O Boletim Climático divulgado na passada terça-feira (8) pelo Observatório Copernicus, o Serviço Europeu de Alterações Climáticas, mostra que março de 2025 registou temperaturas globais excecionalmente elevadas, tornando-se o segundo mês de março mais quente já registado. Como consequência, também houve um declínio alarmante na extensão do gelo marinho ártico.

Temperatura global continua a subir em patamares alarmantes

A análise do banco de dados ERA5, uma das bases climáticas mais consolidadas do mundo, mostrou que a temperatura média da superfície do ar em março de 2025 atingiu 14,06 °C. Este valor representa:

  • Um aumento de 0,65 °C em relação à média do clima presente (1991 a 2020);
  • Um aumento de 1,6 °C acima da média estimada para o período pré-industrial (1850-1900);
  • Esta anomalia fica apenas 0,08 °C abaixo de março de 2024, atualmente o ano mais quente da história.
Março de 2025 ficou ligeiramente atrás de março de 2024, e ligeiramente acima de 2016.
Março de 2025 ficou atrás apenas de março de 2024, e ligeiramente acima de 2016. Créditos: C3S/ECMWF.

Este foi o 20º mês nos últimos 21 meses em que a temperatura global excedeu 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. O Acordo de Paris, estabelecido em 2015, visa limitar o aquecimento global em 1,5 °C até ao final do século e, por esta altura, parece ter fracassado.

Temperatura dos oceanos também bate recorde

Os oceanos também registaram temperaturas elevadas. A temperatura média da superfície do mar (TSM) entre as latitudes de 60°S e 60°N foi de 20,96 °C, a segunda maior já registada para um mês de março, atrás apenas de 2024.

tsm
A TSM média global acompanhou a tendência da temperatura do ar, sendo a segunda maior TSM média para março, atrás apenas de 2024. Créditos: CS3/ECMWF.

Desde março de 2023, a TSM diária tem estado substancialmente acima de todos os anos anteriores. A anomalia de março de 2025 foi apenas 0,12 °C menor do que em 2024, o recorde absoluto.

OCEANOS
Anomalias de TSM em março de 2025: aquecimento ficou atrás apenas de 2024, o ano recorde. Créditos: CS3/ECMWF.

Este aumento na temperatura dos oceanos contribui para eventos climáticos extremos, como furacões mais intensos e alterações nos padrões de precipitação - chuvas torrenciais e secas prolongadas.

Além disso, temperaturas acima da média são extremamente prejudiciais para a vida marinha, principalmente devido ao branqueamento dos corais.

Impacto na criosfera: colapso acelerado do gelo polar

No Ártico a situação é preocupante: a extensão do gelo marinho atingiu o seu menor nível para um mês de março desde o início dos registos por satélite, com uma redução de 6% em relação à média.

Este foi o quarto mês consecutivo em que a extensão do gelo marinho ártico atingiu um recorde mínimo para a época do ano, um indicativo claro do rápido derretimento polar.

recorde
Recorde absoluto de menor extensão de gelo marinho no Ártico. Créditos: C3S/ECMWF.

A criosfera é a parte do sistema terrestre onde a água está na forma sólida, incluindo glaciares, calotas polares, neve, gelo marinho e permafrost. Tem um papel fundamental no clima global, refletindo a luz solar e ajudando a regular a temperatura do planeta.

O derretimento da criosfera devido ao aquecimento global contribui para o aumento do nível do mar, aumento na temperatura do ar e mudanças nos padrões climáticos.

Eventos climáticos extremos

Além das elevadas temperaturas, março de 2025 também foi marcado por condições climáticas extremas. No sul da Europa, especialmente na Península Ibérica, foram registadas chuvas intensas que resultaram em inundações generalizadas e danos significativos.

Nos Estados Unidos, tempestades severas com ondas de tornados deixaram mais de 30 mortos no início da segunda metade do mês. No Brasil, destaque para o recorde histórico de temperatura na cidade de São Paulo (SP) para um mês de março (34,8 °C) e tempestades fortes com cheias no fim do mês.

A frequência crescente de eventos extremos, combinada com o aquecimento global sustentado, reforça a necessidade urgente de medidas para mitigar os impactos das alterações climáticas.

O relatório do Copernicus serve como mais um alerta para a comunidade internacional sobre a importância de ações imediatas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e proteger ecossistemas vulneráveis.

Referência da notícia

Climate Bulletins, publicado em 8 de Abril de 2025 por Copernicus.