Mar Mediterrâneo em aquecimento: temperaturas recorde estão a potenciar tempestades, ciclones e incêndios
O mar Mediterrâneo enfrenta uma onda de calor marinha sem precedentes, com temperaturas recorde que ultrapassam os 28 ºC. Este aquecimento está a potenciar fenómenos meteorológicos extremos. Saiba mais aqui!
O Mar Mediterrâneo está perante uma onda de calor marinha sem precedentes, semelhante ao que se verifica no Atlântico e em outras zonas marítimas adjacentes. Com um recorde histórico de 28,9 ºC no dia 15 de agosto de 2024, esta situação está a desencadear fenómenos meteorológicos extremos, incluindo tempestades violentas, ciclones e incêndios, com consequências devastadoras para a biodiversidade e para as populações costeiras.
Recentemente, ao largo da Sicília (Itália), o luxuoso iate "Bayesian", de 56 metros, afundou nas águas turbulentas do Mediterrâneo, com a surpresa associada às fortes precipitações e ventos violentos. Esta tragédia, que vitimou sete das 22 pessoas a bordo, reflete o aumento da frequência e intensidade de eventos meteorológicos extremos nesta região, impulsionados pelo aumento anómalo das temperaturas marinhas.
Impactes do aquecimento do Mediterrâneo
Os especialistas têm vindo a alertar para as consequências de um Mediterrâneo com temperaturas cada vez mais elevadas. Segundo o CEAM (Centro de Estudos Ambientais do Mediterrâneo), a temperatura média do mar ronda atualmente os 28 ºC, um valor inédito para esta época do ano. Este aquecimento amplifica o risco de tempestades intensas e influencia a dinâmica atmosférica, alterando os padrões climáticos e, sobretudo, os ecossistemas marinhos.
O aumento da temperatura dos oceanos proporciona uma maior disponibilidade de vapor de água e excesso de calor, com condições ideais para a ocorrência de precipitações intensas, desde que outros fatores meteorológicos se alinhem, como a presença de instabilidade em altitude e fluxos marítimos bem definidos nas camadas mais baixas da atmosfera. É como adicionar combustível de alta octanagem a um motor já por si sobrecarregado.
Este cenário já se manifestou recentemente nas Ilhas Baleares e noutras áreas do Mediterrâneo, onde tempestades severas, acompanhadas de granizo e ventos fortes, têm causado estragos consideráveis. Além disso, as noites quentes e a ausência de brisas marítimas relevantes têm intensificado a sensação de calor, e a qualidade de vida das populações costeiras.
Consequências nos ecossistemas marinhos
O aumento das temperaturas da água tem também um impacte profundo nos ecossistemas marinhos. Desde 1982, a temperatura no Mediterrâneo subiu aproximadamente 1,5 ºC, uma alteração significativa num período relativamente curto. Este aumento rápido está a colocar as espécies autóctones sob enorme pressão, dificultando a adaptação a um ambiente em modificação acelerada. Paralelamente, as espécies invasoras encontram condições mais favoráveis para prosperar, o que altera o equilíbrio natural e coloca em risco a biodiversidade.
As consequências deste aquecimento não estão exclusivamente limitadas à superfície. A alteração dos padrões térmicos afeta igualmente os ciclos de nutrientes e a saúde dos recifes de corais, que desempenham um papel crucial no equilíbrio dos ecossistemas marinhos. Com o aumento das temperaturas, a probabilidade de branqueamento de corais e outros eventos de degradação aumentam. Tais fenómenos, exacerbam o potencial de extinção de habitats marinhos.
Previsões para as próximas semanas
As previsões meteorológicas indicam que o Mediterrâneo continuará a influenciar o tempo das regiões circundantes nas próximas semanas. Espera-se que uma depressão isolada em altitude traga uma mudança no estado de tempo, com o potencial desencadear de tempestades fortes e organizadas no interior da Península Ibérica. A massa de ar quente e húmida proveniente do Mediterrâneo poderá alimentar as tempestades, aumentando o risco de fenómenos adversos associado a sistemas convectivos.
Contudo, mesmo com um Mediterrâneo “sobreaquecido”, não se pode garantir um outono chuvoso. A precipitação depende principalmente da circulação atmosférica e a presença de instabilidade será um fator crucial a acompanhar nos próximos meses. A título de exemplo, o ano de 2023 registou o outono mais seco de sempre em várias regiões, além das temperaturas do mar elevadas.