Mais de 100 mil árvores vão ser plantadas nos baldios do Parque Nacional da Peneda-Gerês

A reflorestação levará duas décadas a ser implementada. O intuito é converter os terrenos degradados da reserva num ecossistema resiliente às mudanças climáticas, com benefícios para o ambiente e economia local.

Parque Natural da Peneda-Gerês
Sobreiros e carvalhos-negrais são as principais espécies autóctones selecionadas para reflorestar os baldios do Parque Nacional da Peneda Gerês Foto: Artphotography RMC 1972/CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

Mais de 100 hectares de terrenos baldios do Parque Nacional da Peneda-Gerês serão reflorestados com espécies autóctones até 2027, mas a plantação continuará muito para lá desse período.

Ao todo são 100 mil árvores, principalmente sobreiros e carvalhos-negrais, que ao longo dos próximos 20 anos serão plantados em áreas florestais dos concelhos de Terras do Bouro e de Montalegre.

A empreitada faz parte do programa Hectares de Biosfera, implicando uma rede de parceiros que junta a ANA – Aeroportos de Portugal, a Casa Comum da Humanidade, o Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês e as oito Comunidades Locais responsáveis pela gestão dos baldios inseridos na reserva.

Outras entidades, como a Natural Business Intelligence e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro estão também envolvidas nesta vasta iniciativa de reflorestação.

Para já, o projeto arranca, ainda nesta primavera, com a plantação de árvores em cerca 20 hectares, estando a reflorestação dos restantes 80 hectares prevista para o período entre 2026 e o primeiro trimestre de 2027.

No futuro, as Comunidades Locais devem disponibilizar uma área adicional adequada à plantação de mais 100 mil árvores para expandir projeto ao longo das próximas duas décadas.

Restauro de solos e resiliência climática

As intervenções têm desde logo o intuito de restaurar - através da regeneração natural - os ecossistemas considerados de alto valor para a biodiversidade, mas que, nas últimas décadas, têm vindo a se deteriorar.

Parque Natural da Peneda-Gerês
A reflorestação do Parque Nacional da Peneda Gerês abrange uma área de 123 hectares que atravessam os concelhos de Terras do Bouro e de Montalegre. Foto: Gabriel González/ CC BY 2.0, via Wikimédia Commons

A seleção de espécies arbóreas e arbustivas nativas, com elevado potencial de sequestro e permanência de carbono, servirá igualmente a função de potenciar a conservação das paisagens naturais e aumentar os serviços ecossistémicos dos habitats.

Peneda-Gerês é o único parque nacional português e foi reconhecido como Reserva da Biosfera pela UNESCO em 2009.

Não menos relevante será a capacidade de os terrenos renaturalizados poderem adquirir novamente a capacidade para regular os ciclos hídricos, ganhar resiliência climática, melhorar a qualidade do solo e ainda aumentar a disponibilidade dos terrenos para o pastoreio.

O que se espera, ao fim e ao cabo, é que, no seu conjunto, as intervenções possam preparar as florestas para resistir a choques ambientais como secas ou geadas fora de época e ainda aumentar a sua resistência aos fogos florestais.

Gerar riqueza com produtos florestais

Além do restauro florestal, o programa Hectares de Biosfera ambiciona ser um também laboratório vivo com experiências e projetos-pilotos destinados a apoiar as atividades económicas das comunidades locais.

Parque Nacional da Peneda-Gerês
O programa Hectares de Biosfera prevê apoiar as economias locais através da exploração de recursos florestais, como colheita de plantas aromáticas ou produção de óleos essenciais. Foto: Marco Nunes/ CC BY-NC-SA 2.0, via Flickr

Desenvolver novas fontes de receita através de serviços baseados na natureza são algumas das ambições desta iniciativa. A colheita sustentável de plantas aromáticas, a apanha de cogumelos e de outros produtos florestais não lenhosos, a produção de óleos essenciais ou produtos como queijos, mel e carnes com denominação de origem são algumas das possibilidades em cima da mesa.

Certificação das florestas no mercado de carbono

O projeto prevê ainda a certificação das áreas reflorestadas no Mercado Voluntário de Carbono (MVC) em Portugal. Trata-se, no essencial, de um sistema de compra e venda de créditos de carbono.

O intuito é que estas transações permitiam gerar incentivos económicos para projetos de conservação da natureza ou de adaptação climática que visem reduzir as emissões de gases com efeito de estufa ou aumentar o sequestro de carbono.

O programa abrange, por isso, vários tipos de intervenção a realizar nos baldios, desde seguir as orientações técnicas e a regulamentação necessárias para criar o Mercado Voluntário de Carbono português, até assegurar serviços de planeamento, monitorização e medição do sequestro de carbono.

Parque Nacional da Peneda-Gerês
Os parceiros do programa Hectares de Biosfera vão apresentar uma candidatura para incluir as zonas reflorestadas no Mercado Voluntário de Carbono. Foto: nmmacedo/ CC BY-NC-ND 2.0, via Flickr

Os trabalhos serão articulados entre a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a Nature Business Intelligence, consultora de negócios e ecologia. A Casa Comum da Humanidade, por seu turno, ficará com a responsabilidade de preparar e apresentar a candidatura para a certificação do Hectares de Biosfera no Mercado Voluntário de Carbono.

Referência da notícia

Auditório Municipal acolheu apresentação do Programa Hectares da Biosfera. Município de Terras do Bouro.