Madeira vai ter um teleférico com o segundo maior vão suspenso do mundo
O megaprojeto no Curral das Freiras inclui ainda um Centro de Interpretação da Natureza e um Parque Aventura, com um slide de 2300 metros (o maior da Europa).
O início de maio está a ser marcado por uma grande variabilidade de estados de tempo em Portugal continental. Primeiro muito frio, chuva, neve, granizo e trovoadas, depois estabilidade e calor e agora… a previsão de aguaceiros e trovoadas para o fim de semana (11 e 12 de maio). É caso para dizer que a situação está instável — e parece que não é só o tempo que assim está.
Não, não nos estamos a referir ao contexto político atual em Portugal — mas também está relacionado com isso. Na verdade, falamos sobre o teleférico com o segundo maior vão suspenso do mundo. E como é que estes temas estão todos interligados? É que este transporte aéreo por cabo será construído no Curral das Freiras, no concelho de Câmara de Lobos, na Madeira. Isto se o executivo regional o permitir.
Sim, é mesmo isso. Com 3070 metros de percurso e um desnível de 230 metros, este teleférico terá o segundo maior vão suspenso do mundo. Um marco, diríamos, no mínimo ambicioso.
Feitas as contas, este transporte vai proporcionar uma viagem com uma duração de 6 minutos e 30 segundos. O megaprojeto inclui ainda um Centro de Interpretação da Natureza e um Parque Aventura, onde os visitantes vão encontrar um Zip Line (slide) de 2300 metros — que será não só maior da Europa, mas o segundo maior do mundo.
“Este projeto inédito e pioneiro é estruturante para o turismo da Madeira e, em particular, para o desenvolvimento do Curral das Freiras, devido ao impacto direto na criação de emprego e no comércio local”, afirma Nuno Freiras, CEO do Madeira SkyPark Adventure. O gestor revela ainda que o “investimento, totalmente privado, vai ascender aos 47 milhões de euros”, tendo sido já executados mais de 8,5 milhões de euros.
Em comunicado enviado às redações em abril, a Madeira SkyPark Adventure revelou que o projeto criará cerca de 40 postos de trabalho diretos numa localidade que tem, atualmente, cerca de 1500 habitantes.
Um megaprojeto
O empreendimento envolve dois teleféricos, ambos com duas cabinas em sistema de vai-vem. Um deles, com cabinas para 15 pessoas, ligará, num percurso de 1012 metros de comprimento e um desnível de 789 metros, o centro do Curral das Freiras ao Miradouro do Paredão. Um segundo teleférico, com cabinas para 50 pessoas, vai ligar o Miradouro do Paredão à Boca da Corrida, numa distância de 3070 metros e com um desnível de 230 metros.
É precisamente este último que será o teleférico com o segundo maior vão suspenso do mundo, superado apenas pelo instalado em Zugspitz, na Alemanha. Coincidência ou não, este foi construído pela Doppelmayr, que é também a empresa responsável pela execução do projeto dos teleféricos do Curral das Freiras.
Além dos dois transportes aéreos por cabo, está projetado um Centro de Interpretação da Natureza. Este ficará na Boca da Corrida e será implementado em parceria com a Secretaria regional da Agricultura e Ambiente.
Está ainda compreendido um Parque Aventura para atividades radicais, que será complementado com aquele que será o zip line mais longo da Europa, com 2300 metros de percurso até ao Curral das Freiras — apenas superado pelo existente nos Emirados Árabes Unidos.
Comprometido com o desenvolvimento sustentável, o projeto segue “as melhores práticas ambientais”, enquadradas pelas diretrizes internacionais de ESG (ambiental, social e governança). Aliás, um estudo de impacto ambiental concluiu que não há impactos significativos associados ao teleférico, garantindo a preservação do ecossistema local. Ainda assim, nem todos estão convencidos com esta conclusão.
Projeto polémico
Apesar de todo o investimento e ambição, o projeto não tem fugido às polémicas — e encontra-se mesmo suspenso pelo executivo regional.
Recentemente, um movimento intitulado “É Possível Impedir a Destruição” pediu uma audiência com a Procuradora Geral da República, Lucília Gago, para expressar as suas preocupações relativamente à iniciativa.
“Este mesmo movimento defende que o plano em causa apresenta ‘desrespeito pelo interesse público, por processos de violação da legalidade e por duvidoso uso de dinheiros públicos’, além de querer ver esclarecida a ‘nublosa expropriação de terrenos’ para a localização do ‘parque de diversões para turistas empacotados’”, informou o Jornal Económico.
Já em dezembro de 2023, este mesmo movimento organizar uma concentração ecologista contra o projeto dos teleféricos para o Curral das Freiras. Isto por considerar que este “atenta contra a área classificada e protegida” que existe no local.
No campo político vários partidos já se pronunciaram sobre o mesmo. O Juntos pelo Povo (JPP), por exemplo, sugeriu a realização de audições parlamentares sobre este sistema de teleféricos; e a Iniciativa Liberal chegou a pedir a suspensão do empreendimento. E as polémicas não ficaram por aqui.
Este projeto foi um dos investimentos que esteve em investigação no processo que culminou em buscas em várias partes do país, a 24 de janeiro, e que levou à renúncia do presidente da Câmara do Funchal e do Governo Regional da Madeira, Pedro Calado e Miguel Albuquerque.
“Acredito que as entidades oficiais estão a fazer o que têm de fazer para retomar a normalidade do decorrer do projeto. Não temos razão nenhuma para duvidar de que o projeto irá retomar a sua normalidade e, portanto, continuamos a fazer a nossa parte de acordo com o que foi contratualizado”, indicou Nuno Freitas, em declarações aos jornalistas.
António João Costa, porta-voz de um grupo que tem contestado o empreendimento nas redes sociais, afirmou (citado pela Lusa), no entanto, que acompanha com “alguma preocupação e constrangimento” esta construção. No seu entender, a missão do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza da Madeira, promotor do sistema de teleféricos, “não será de promover este tipo de investimentos, turísticos na sua larga essência, ainda que tenha sido apresentado um centro de interpretação da natureza”.