Lentilhas: um potencial superalimento e descontaminante de águas?

A escassez de alimentos pode vir a ser uma realidade, mesmo em países desenvolvidos. Assim, a descoberta de novas características de um determinado alimento pode levá-lo a um outro nível… o do superalimento. Fique a saber mais, connosco!

Lentilhas-de-água.
Imagem que ilustra a fácil proliferação da lentilha-de-água, mesmo em condições de temperaturas elevadas, como acontece no verão.

A lentilha é uma leguminosa muito apreciada na alimentação a nível mundial, mas com uma expressão mais tradicional na Ásia. Já a sua parente, lentilha-de-água, tem-se tornado cada vez mais importante neste capítulo, pois é vista como uma solução para a alimentação de um planeta que está a caminho dos 9 mil milhões de habitantes.

Nos últimos anos, a modificação dos padrões de alimentação a nível mundial e europeu, nomeadamente a substituição do consumo de carne e peixe por algumas plantas e leguminosas como lentilhas, feijão e ervilhas fez com que a estas tenham ganho expressão nas dietas vegetariana, vegan e sem glúten.

(...) a forma como olhamos para este tipo de planta pode estar a mudar (...)

Estudos mais recentes comprovam que a lentilha-de-água, para além de ser rica em nutrientes, é também guardiã de um número considerável de terras raras, um grupo de 17 elementos químicos, que quando minerados se tornam em metais macios maleáveis e dúcteis com aplicações diversas no campo das tecnologias (catalisadores, televisores e computadores).

Certas plantas e fungos presentes no planeta Terra são conhecidos por acumularem alguns micronutrientes (ou oligoelementos), num processo designado por “hiperacumulação”. A lentilha-de-água é uma destas plantas, que apresenta um mecanismo de absorção muito eficaz. Esta informação leva a crer que esta planta, que cresce em meio aquático terá, no futuro, pelo menos duas aplicações de extrema importância.

Que alimento queremos no futuro?

Tendo em conta a forma como a lentilha-de-água absorve certos micronutrientes e as terras raras, passando a usá-las como filtros, esta poderá ter um papel importante precisamente na filtragem de águas provenientes de explorações mineiras. A concentração das terras raras presentes permite “tratar” as águas contaminadas, que assim podem voltar a entrar no ciclo da água.

Para além disso, os estudos apontam para a impossibilidade dos tradicionais agentes poluentes das águas entrarem na cadeia alimentar, já que o refinado sistema de absorção destas plantas deixa de lado os principais micro-poluentes que afetam as águas subterrâneas, dos rios e da rede de abastecimento público.

Outra das aplicações de futuro será a nutrição, tanto do ponto de vista animal como humana. Do ponto de vista da alimentação humana, é já considerada um superalimento pois contém cerca de 7 vezes mais proteína do que a soja, para além de ser extremamente rica em ómega-3 e de crescer através de um processo que é neutro ao nível das emissões de carbono.

Tem ainda uma grande vantagem em relação a outras plantas: a lentilha-de-água, sendo uma planta aquática, não ocupa terrenos agrícolas, cada vez mais valiosos. Assim, a forma como olhamos para este tipo de planta pode estar a mudar, tendo um papel cada vez mais relevante na nossa alimentação diária.