Já visitou a cidade de sal secreta debaixo de Loulé?
A 230 metros de profundidade, a mina de sal-gema descoberta nos anos 50 é a única do género que está aberta a visitas em Portugal.
Despertando a curiosidade dos viajantes e atraindo os amantes da história e da beleza natural, as minas de sal-gema surgem como tesouros subterrâneos à espera de serem descobertos. Foi exatamente isso que aconteceu a sul de Portugal.
A 230 metros de profundidade, debaixo da cidade de Loulé, no Algarve, esconde-se uma vasta rede de catedrais e galerias de sal-gema. Feitas as contas, há nada mais nada menos do que 45 quilómetros de extensões de formações geológicas com milhões de anos.
Já conhece a mina de sal-gema de Loulé? Trata-se de uma mina única portuguesa localizada abaixo do nível do mar, onde a extração de sal-gema ocorre em túneis e não por salmoura. O melhor é que é visitável.
Uma descoberta acidental
A história, essa, começa por mero acaso, na década de 1950. Num período de seca prolongada, numa zona de quintas agrícolas que se dedicavam à criação de gado, a água era essencial para o sustento agrícola.
Devido a essa necessidade, iniciaram-se um conjunto de sondagens para a captação de água em aquíferos profundos, mas o que encontraram surpreendeu todos: em vez da água habitual, chegava dos poços água salobra. Tinha-se acabado de descobrir uma enorme mina subterrânea de sal-gema!
Na década seguinte, após a comprovação das sondagens, iniciou-se um projeto de investimento de extração de sal em grande quantidade para utilização na indústria química.
“O senhor [Manuel Pereira Junior, um dos grandes industriais da região] decidiu fazer um investimento com o objetivo de explorar sal para a indústria química, que é o maior consumidor de sal a nível global. É uma importante matéria-prima nesta indústria para a produção de hidróxido de sódio, cloro, ácido clorídrico, entre outros produtos”, explicou à NiT Alexandre Andrade, chefe de operações da única mina subterrânea aberta ao público em Portugal.
Com o tempo, rasgaram-se galerias e câmaras com 45 quilómetros de extensão para extrair milhares de toneladas de sal-gema.
“É como se uma toupeira gigante tivesse esventrado o subsolo bem por baixo de Loulé em incansáveis deambulações”, lê-se num artigo publicado pelo “National Geographic Portugal”.
Os anos foram passando, as necessidades foram mudando, e o foco da empresa também. Da indústria química passaram para a da segurança rodoviária e a das rações dos animais. Isto até 2019, ano em que a mina passou a ser detida pela Tech Salt, empresa responsável por introduzir um novo conceito e por abrir o espaço mineiro ao turismo.
As visitas especiais à mina
“Queríamos aproveitar da melhor forma esta mina com características únicas, dentro do reino das minas. São bastante largas, ao ponto dos túneis do metro parecem pequenos, em comparação”, explicou Alexandre Andrade à NiT. Chegam a ter 10 metros de largura e 20 de altura.
Foi nessa altura, então, que começaram a realizar visitas à mina de sal-gema, mina esta que continua a extrair cerca de seis mil toneladas por ano.
“O tipo de rocha (sal-gema) em que as galerias foram escavadas é muito estável, permitindo a visitação com segurança. Na mina, o ambiente térmico e higroscópico é constante durante todo o ano, tornando as visitas uma experiência sensorial única em Portugal”, explica o portal de notícias do Algarve “Barlavento”.
Com 45 quilómetros de galerias, dos quais 1500 metros são visitáveis por turistas, torna-se, assim, o maior espaço subterrâneo visitável em Portugal.
“É um turismo industrial e geológico, onde contamos a história do sal e falamos sobre o seu enquadramento da Península Ibérica. Mostramos ao público como se explora e trabalha o sal”, sublinha o geólogo à NiT. Segundo a National Geographic, a experiência é acentuada pela presença de oito mineiros e uma equipa de apoio, conferindo uma autenticidade única à visita.
Uma mina de sal-gema com exposições
Ainda assim, não satisfeitos, quiseram implementar novas ideias, desta vez, ligadas à arte e a exposições. Em 2022, por exemplo, inauguraram a exposição permanente de arte sacra dedicada a Santa Bárbara. A mostra reúne 160 das mais emblemáticas peças da coleção de Fernando de Mello Mendes, engenheiro de minas e professor no Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Outra das exposições permanentes é da autoria do artista alemão Klaus Zylla, que pintou 12 quadros sobre a história de Santa Bárbara, um desafio que lhe foi proposto pelos responsáveis pela mina. A lista, porém, não fica por aqui.
Ao longo dos meses, a mina de sal-gema tem vindo a receber uma série de eventos, desde sessões de cinema a mostras temporárias. No dia 16 de fevereiro foi mesmo inaugurada a exposição “Oceano-Mar é Vida”, uma mostra coletiva da Associação David Melgueiro, que tem o ambiente aquático como pano de fundo.
As visitas ao mundo subterrâneo de sal, com as exposições incluídas, demoram cerca de duas horas. Os bilhetes têm um custo de 25€ para adultos, 20€ para seniores e 15€ para miúdos. Também é possível adquirir o pacote familiar, para quatro pessoas, por 65€. Os bilhetes podem ser comprados online.