Investimento de mil milhões nas eólicas offshore e novo leilão em 2025 prometem transformar a economia portuguesa

Portugal avança com o primeiro leilão eólico offshore em 2025. O investimento de 9 mil milhões de euros promete gerar 2 GW até 2030 e impulsionar a economia com até 13 561 empregos.

leilão eólico offshore
O leilão eólico offshore tem vindo a sofrer atrasos sucessivos relacionados com a complexidade de procedimentos técnicos e mudanças políticas.

O futuro da energia eólica offshore em Portugal está finalmente a ganhar forma, com o primeiro leilão previsto para 2025, segundo o Governo. Após anos de adiamentos e revisões de metas, o país prepara-se para investir 9 mil milhões de euros na instalação de turbinas eólicas flutuantes ao longo da costa, com o objetivo de gerar 2 gigawatts (GW) de eletricidade até 2030.

Este plano ambicioso promete injetar até 1,7 mil milhões de euros no Produto Interno Bruto (PIB) nacional e criar entre 5 000 e 13 561 novos empregos, de acordo com estimativas da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN).

Energias renováveis. Do atraso ao alinhamento estratégico

Inicialmente apontado para 2023, o leilão eólico offshore sofreu sucessivos atrasos devido à complexidade dos procedimentos técnicos e às mudanças políticas. Com a revisão do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030), o objetivo inicial de 10 GW foi reduzido para 2 GW, uma meta mais realista para os próximos anos. O presidente da APREN, Pedro Amaral Jorge, considera, aliás, que, embora não seja garantido que os 2 GW estejam completamente instalados até 2030, a prioridade é iniciar o processo e alinhar toda a cadeia de valor.

“Parece-nos realista ter o primeiro leilão em 2025”, comentou o responsável, destacando a importância estratégica de acelerar a produção de energia eólica no mar. “Ter turbinas eólicas a gerar energia na costa portuguesa não é apenas relevante para a eletricidade. Também abre portas para a produção de hidrogénio verde offshore e para o fortalecimento da cadeia industrial e de serviços associada”, acrescentou.

O impacte económico esperado é expressivo. Com um custo médio de 4,5 milhões de euros por megawatt (MW), os futuros parques eólicos offshore podem movimentar até 1,7 mil milhões de euros na economia portuguesa até ao final da década. Este valor, segundo dados da APREN, representa 20% do impacte estimado para uma capacidade total de 10 GW, que era o plano inicial.

Além da energia, a instalação de turbinas eólicas no mar poderá beneficiar setores como a metalomecânica, a construção naval e outras indústrias ligadas às energias renováveis. A expansão da cadeia de valor, desde o fabrico até aos serviços técnicos especializados, é vista como uma oportunidade para impulsionar a economia nacional e criar milhares de postos de trabalho.

Portugal no contexto europeu: entre desafios e oportunidades de mercado

No panorama europeu, Portugal ainda está a dar os primeiros passos no setor de energia eólica offshore. Atualmente, apenas 0,03 GW da eletricidade consumida no país provém do vento marítimo. Em contrapartida, países como a Alemanha, a França, a Bélgica e a Noruega já possuem infraestruturas eólicas offshore bem estabelecidas. A União Europeia espera que a energia eólica no mar passe de 3% para 25% do consumo de eletricidade até 2050, um objetivo ambicioso que Portugal começa agora a integrar.

A instalação de turbinas eólicas flutuantes ao largo da costa é considerada uma solução ideal para o país devido às características do fundo marinho português, que apresenta grandes profundidades perto da costa, dificultando a instalação de turbinas fixas.

Apesar das oportunidades, existem desafios significativos a superar. O investimento necessário para o desenvolvimento das infraestruturas, que poderá oscilar entre 2,3 mil milhões e 13,1 mil milhões de euros até 2040, depende de parcerias estratégicas e da atração de investidores internacionais. Além disso, o alinhamento das metas do PNEC 2030 com as ambições europeias será crucial para assegurar que o país continua a avançar de forma sustentável.

Pedro Amaral Jorge destacou que “não podemos pôr em causa as metas e o PNEC 2030 se projetos para 15 ou 20 anos se atrasarem 18 ou 24 meses”. Contudo, o gestor sublinha a urgência de arrancar com o primeiro leilão em 2025, para não comprometer o desenvolvimento do setor no país.

Além da eletricidade: hidrogénio verde e inovação

Um dos aspetos mais promissores do projeto é a produção de hidrogénio verde offshore. Com a crescente procura por soluções energéticas sustentáveis, Portugal poderá posicionar-se como um líder na exportação de hidrogénio, atraindo novos investimentos e promovendo a descarbonização da economia.

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Um dos aspetos mais promissores do projeto é a produção de hidrogénio verde offshore. (Imagem criada por IA)

Além disso, a aposta em energias renováveis alinha-se com os objetivos de neutralidade carbónica e transição energética da União Europeia, permitindo que Portugal desempenhe um papel ativo na mitigação das alterações climáticas.

Embora a meta de 2 GW até 2030 possa não ser atingida na totalidade, o início do processo em 2025 será um marco importante para o setor energético português. Com a promessa de injetar milhões na economia e criar milhares de empregos, a energia eólica offshore tem o potencial de transformar a paisagem económica e industrial do país, enquanto contribui para a sustentabilidade ambiental.

Portugal enfrenta agora o desafio de acelerar o processo, garantir a transparência nos leilões e atrair os investimentos necessários para tornar este projeto uma realidade. O futuro energético do país está ao alcance do vento, pelo menos é a expressão que esperamos ver cumprida até 2030.