Investigadores do Algarve querem cultivar maternidades de ervas marinhas nas salinas do Sul da Europa
O projeto criou em Castro Marim um modelo de sequestro de carbono possível de replicar em qualquer parte do Mediterrâneo. As Salinas del Alemán, em Espanha, poderão ser agora o próximo passo.
As salinas tradicionais são uma parte importante das economias regionais do Sul da Europa. É o caso de Aveiro, de Castro Marim ou da Figueira da Foz, em Portugal, mas também da Isla Cristina, na província de Huelva, em Espanha, de Apúlia, em Itália, ou de Lesbos, na Grécia.
Nos anos mais recentes, as salinas têm sido um património cada vez mais valorizado pelos municípios e empresas que procuram não só rentabilizar a produção de sal como dinamizar o turismo à volta destas paisagens deslumbrantes, repletas de biodiversidade.
O que, no entanto, pode surpreender são as potencialidades destes lugares para ajudar as regiões mediterrânicas a mitigar os efeitos das alterações climáticas.
O intuito passa por desenvolver um ecossistema capaz de sequestrar o carbono a uma taxa 30 vezes mais eficiente do que uma floresta e ainda ajudar na produção do sal.
Pradarias verdes em tanques de piscicultura
As pradarias de ervas marinhas estão a desaparecer em todo o mundo, razão pela qual a BlueZ C Institute – Associação para a Conservação Marinha e Economia do Carbono, uma ONG spinoff da Universidade do Algarve, ter lançado este programa nas Salinas de MadeinSea, em Castro Marim, em finais de 2023.
Ao cultivar maternidades de ervas marinhas em tanques de piscicultura, foi possível desenvolver um modelo de sequestro de carbono que poderá agora ser replicado em qualquer salina tradicional.
O encontro serviu para partilhar os resultados do trabalho que está a ser desenvolvido em Castro Marim em parceria com a câmara municipal, a Eurocidade do Guadiana e a empresa algarvia MadeinSea.
Travar o declínio das pradarias marinhas e restaurar o ecossistema azul é a chave para proteger o sistema costeiro, restabelecendo a sua função de sequestrar carbono, mas também ampliando a capacidade das salinas para purificar a água do mar e aproveitar os seus nutrientes.
Para evitar retirar as ervas marinhas das suas populações naturais, as maternidades foram instaladas nos tanques de pisciculturas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera que se encontram em todas as salinas.
Sal sem microplásticos nem impurezas
A vertente ambiental foi fundamental neste piloto, mas não menos importante foi também a capacidade que este projeto apresentou para melhorar a produção de sal. A água utilizada no processo de extração de sal é filtrada ainda antes da sua evaporação, permitindo eliminar todas as impurezas, incluindo as partículas de microplásticos.
Com este método pretende-se, acima de tudo, aumentar a cadeia de valor de uma das atividades mais relevantes das economias regionais. Em Castro Marim, por exemplo, a salinicultura tradicional é ainda uma ocupação sazonal, mas o projeto Sal-C pretende criar as condições para convertê-la numa atividade permanente com novos postos de trabalho mais qualificados.
Após o sucesso da iniciativa em Castro Marim, os promotores do projeto Sal C preparam-se agora para instalar as maternidades nas Salinas del Alemán, as únicas da província de Huelva onde ainda se extrai sal por métodos tradicionais.
As salinas, localizadas no município de Isla Cristina, estão enquadradas num ambiente natural e produzem, além do sal marinho e da flor de sal, outro tipo de sal conhecido como flocos de sal, muito apreciado na alta cozinha.
O projeto Sal C tem um investimento total de 200 mil euros, apoiados em 75% pela Fundação La Caixa. A investigação, conduzida pela equipa algarvia do Instituto Bluez C, termina no primeiro trimestre de 2026.