Inundações na Europa: efeito das mudanças climáticas?
Passados cinco dias das violentas inundações que afetaram a Europa Central, surgem as primeiras discussões dos fatores que interferiram nesta catástrofe. Estaremos na presença de um sinal claro de mudança climática? Saiba tudo sobre este tema, connosco!
A passada semana ficou marcada na história da climatologia, principalmente na Europa Central, em países como a Bélgica, os Países Baixos, o Luxemburgo e a Alemanha. As violentas chuvas provocaram um número de vítimas mortais que se aproxima rapidamente dos 200, com centenas de pessoas ainda desaparecidas. Nas áreas mais afetadas, choveu em apenas dois dias, o que deveria ter chovido em dois meses.
Entretanto, foram já apontados inúmeros “responsáveis” por esta tragédia, com diferentes níveis de responsabilidade, sendo que o que terá desempenhado um papel fundamental é o tema cada vez mais atual das alterações climáticas. A Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), considera que este tipo de eventos catastróficos acontece com cada vez mais frequência, devido à ação do homem, nomeadamente através da emissão de gases com efeito de estufa.
Nos locais mais afetados pelas chuvas persistentes que caíram durantes os dias 14 e 15 de julho, a precipitação registou valores históricos, qualquer coisa como 250 litros por metro quadrado, o que provocou a rápida saturação dos terrenos, levando ao aumento exponencial da escorrência superficial, do caudal dos rios, bem como dos deslizamentos de terras. Correm pelas redes socias, um conjunto de fotografias de áreas residenciais nos dias anteriores a este evento, que foram completamente obliteradas pela força e pela violência do mesmo, num nível de destruição apenas equiparado à 2.ª Guerra Mundial.
O que pode ser feito para evitar esta situação
Enquanto decorre o rescaldo desta catástrofe, surge uma questão: como foi possível que isto tenha acontecido, num conjunto de países claramente desenvolvidos? Segundo Clare Nullis, da WMO, os países europeus estão preparados, “mas quando ocorrem eventos extremos, como os que vimos (…) é muito, muito difícil lidar com eles”. A comprovar esta afirmação, as autoridades alemãs confirmaram que emitiram centenas de avisos relacionados com a precipitação intensa, que mesmo assim, não foram suficientes para evitar um número elevado de fatalidades.
Enquanto a Europa Central sofria com chuvas intensas, a Escandinávia registava temperaturas muito acima do que é considerado normal. As cidades de Kouvola e Anjala, no sul da Finlândia, registou 27 dias consecutivos de temperatura máxima acima dos 25 °C. Na Sibéria, tal como aconteceu no Oeste americano, os incêndios florestais de grandes dimensões estão a consumir vastas áreas de floresta e estepe, com implicações diretas na qualidade do ar.
Para além das temperaturas à superfície associadas às ondas de calor (e de frio), também as temperaturas da água do mar preocupam a comunidade científica. No Golfo da Finlândia, o Mar Báltico registou no passado dia 14 deste mês uma temperatura próxima dos 27 °C, a mais elevada desde que há registos nos últimos 20 anos.
Posto isto, crê-se que neste momento, o mais importante é atacar o problema pela raiz, ou seja, tentar inverter este ciclo de mudança climática, sob pena de vermos estes eventos extremos a ocorrerem mais frequentemente e com cada vez mais intensidade. Estamos a passar por um padrão climático “muito incomum” que foi potenciado pela ação do homem. Por exemplo, as alterações antrópicas à atmosfera e à proporção de gases que a constituem tornaram 150 vezes mais provável a ocorrência de uma vaga de calor como aquela que varreu a área ocidental dos Estados Unidos da América e do Canadá, e onde se superaram vários recordes de temperatura.
Assim, segundo a WMO e a Organização das Nações Unidas (ONU), todos os países são responsáveis por tomar medidas concretas e imediatas que no futuro evitem “uma calamidade climática”. É necessário que se intensifique a ação climática, ainda antes da Cimeira Climática de Glasgow (COP 26) que vai decorrer em novembro próximo. É essencial que todos os países colaborem para cumprirem o Acordo de Paris, nomeadamente fixar o aumento da temperatura global abaixo dos 2 °C ou mesmo abaixo dos 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais.