Internacionalização vs. regionalização nas exportações agroalimentares de Portugal e Espanha

Portugal e Espanha, membros da UE desde 1986, destacam-se nas exportações agroalimentares. O setor reforça a economia ibérica, apesar dos desafios da dependência regional e da crescente concorrência global.

Crescimento agroalimentar
Portugal e Espanha destacam-se pela capacidade de especialização agroalimentar. Entre 2008 e 2022, as exportações do setor cresceram mais de 100%.

Portugal e Espanha, membros da União Europeia desde 1986, têm consolidado a sua especialização no setor agroalimentar, com um peso relevante para o comércio internacional de produtos agrícolas e alimentares. Com base em dados do Eurostat, do Banco Mundial e do Centre d'Etudes Prospectives et d'Informations Internationales (CEPII), é evidente a crescente importância deste setor para as economias ibéricas.

Em 2022, as exportações agroalimentares espanholas alcançaram os 70 mil milhões de euros, representando 9,93% do total da União Europeia (UE). Este valor destaca-se pela relevância do setor para o PIB espanhol, com uma contribuição de 8,46%, e pela quota de 5,79% no volume total de exportações europeias.

Portugal, embora com menor expressão, também registou alguns avanços notáveis. A sua participação na exportação agroalimentar da UE foi de 1,44% em 2022, enquanto as exportações deste setor representaram 1,15% do total do país e 1,52% do seu PIB.

Importância económica e recursos naturais

O setor agroalimentar é um dos pilares fundamentais das economias de ambos os países, refletindo-se na gestão de recursos naturais e na relevância da indústria alimentar dentro da produção manufatureira. Desde 2008, as exportações do setor têm vindo a ser desafiadas pelo agravamento dos impostos associados às práticas restritivas de mercados nacionais e pela dinâmica de acordos comerciais da UE com terceiros países – que ultrapassaram 50 desde 2022.

Apesar das crises económicas, tensões geopolíticas e emergências sanitárias, entre 2008 e 2022, as exportações agroalimentares cresceram 141,71% em Espanha e 101,32% em Portugal. Este crescimento reforça a especialização exportadora do setor.

Para isso, contribui a diversidade de produtos agroalimentares exportados, com destaque para o vinho e o azeite. Em Espanha, a colaboração entre pequenas empresas tem fomentado a internacionalização e sofisticação da oferta, com um aumento das exportações de produtos ecológicos e certificados por Denominações de Origem Protegida (DOP) e Indicações Geográficas Protegidas (IGP). Este esforço conjunto tem melhorado a estrutura exportadora e promovido um crescimento económico sustentado.

Do nosso lado, em Portugal, também se tem ampliado a variedade de produtos exportados, destacando-se pelo azeite e vinhos reconhecidos internacionalmente, com uma aposta em mercados mais diversificados.

Mercados de destino e dependência intracomunitária

O número de mercados internacionais para os produtos agroalimentares ibéricos tem aumentado. Em 2022, Espanha exportava para 175 países, enquanto Portugal atingia 132 mercados. Contudo, a dependência de mercados intracomunitários permanece elevada. Em 2022, cinco economias europeias (Alemanha, França, Portugal, Reino Unido e Países Baixos) representaram 47,63% das exportações espanholas. No caso português, 39,05% das suas exportações destinaram-se a Espanha.

exportação de produtos
Entre os principais produtos especializados, destacam-se o azeite e vinho reconhecidos internacionalmente. Além do mercado europeu, outros países distantes também são fontes de receita para as economias ibéricas.

Esta dependência dos mercados da UE coloca desafios adicionais devido à baixa dinâmica de crescimento populacional e ao envelhecimento demográfico, que reduzem o consumo alimentar. Paralelamente, a concorrência é intensa, tanto de países europeus como de economias do Mediterrâneo e da Ásia.

Para mitigar os desafios do mercado europeu, ambos os países têm procurado mercados mais distantes, como os Estados Unidos, a China, o Japão e Marrocos. Apesar das restrições e custos de transação, estas economias têm mostrado um aumento positivo nas compras de produtos ibéricos. Contudo, os riscos de guerras comerciais e aumento de tarifas continuam a ameaçar a estabilidade das exportações.

De facto, a diversificação das exportações agroalimentares é uma resposta ao processo de internacionalização e às exigências dos mercados globais. Partindo da premissa de identificação de mudanças recentes neste setor, possibilita desenvolver políticas que reforcem a presença internacional das empresas, assegurando a sustentabilidade e o crescimento económico a longo prazo.

O setor agroalimentar de Espanha e Portugal demonstra resiliência e capacidade de adaptação, equilibrando a dependência regional com a busca de novos mercados, num esforço conjunto para consolidar a sua posição global.