Insetos: será este o futuro da alimentação mundial?
Vários especialistas concordam que os atuais padrões de alimentação da população mundial são insustentáveis a médio prazo. Assim, é necessário tomar algumas ações específicas que podem chocar os estômagos mais sensíveis. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
Os insetos vivem entre nós há milhões de anos, acompanharam a evolução da espécie humana e estão presentes em todos os lugares. Estão geralmente conotados com situações negativas ou prejudiciais à saúde humana, como a transmissão de doenças e são muitas vezes um símbolo de degradação, daí o imediato sentimento de repulsa quando se fala (ou escreve) sobre insetos.
Nos últimos anos tem-se assistido a uma tentativa de minimizar os aspetos negativos dos insetos, promovendo algumas características positivas, como o facto de serem essenciais aos ecossistemas e às cadeias alimentares associadas. O nosso país, com um forte pendor de produção frutícola, está cada vez mais consciente de que os insetos são essenciais à polinização das árvores de fruto.
Por outro lado, os insetos também ajudam no controlo de pragas, ou seja, evitam prejuízos maiores na atividade agrícola. Os insetos alimentam outros animais, numa hierarquia superior na cadeia alimentar, dando continuidade a um processo que permite que os seres humanos se alimentem com carne de porco, galinha ou peixe.
Estratégias a adotar
Os insetos são importantes a vários níveis, mas desempenham um papel preponderante na atividade agrícola. Há cada vez mais agricultores a adotarem o uso de insetos com o objetivo de controlar pragas nas plantações. O uso de insetos diminui substancialmente utilização de produtos químicos, tóxicos para o ambiente, fomentando uma agricultura biológica, mais sustentável.
São cada vez mais comuns os estudos que têm como principal objetivo a manutenção do mesmo nível de produtividade agrícola, evitando o uso intensivo de pesticidas, utilizando os insetos como agente de procura do equilíbrio natural de pragas. Toda a investigação e todo o trabalho desenvolvido neste campo vão permitir que a qualidade da água se mantenha aceitável num futuro próximo. É possível constatar que a utilização de insetos pode permitir a manutenção da qualidade da água, tanto superficial como subterrânea.
Outra estratégia possível, passa pela introdução de alguns insetos na gastronomia popular. No continente europeu não é comum o consumo de insetos, mas tanto na Ásia como na América, algumas comunidades já utilizam alguns insetos na alimentação de forma bastante regular. A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), está a estudar, neste momento, a inclusão de determinadas espécies de insetos na alimentação humana.
Estes novos alimentos, nomeadamente grilos, larvas e outros vermes apresentam uma elevada concentração de proteínas, logo podem considerar-se alimentos altamente nutritivos. Para além disso, a sua produção consome poucos recursos, sendo que não contribui para as emissões de gases com efeitos de estufa, garantido, desta forma, a neutralidade carbónica.
O primeiro exemplo de um inseto que pode ser inserido legalmente na alimentação dos seres humanos é o Tenebrio molitor, também conhecido como larva da farinha, besouro da farinha ou tenébrio.
Pontos negativos e positivos
Este novo paradigma da alimentação está a ser visto como uma excelente oportunidade de negócio, para muito empresários. Contudo, existe ainda um conjunto de preocupações relacionadas com a segurança alimentar. Ainda não está totalmente descartada a hipótese destes insetos poderem transmitir doenças aquando da sua ingestão. Há ainda a questão de possíveis reações alérgicas ao consumo destes novos alimentos, ainda pouco estudadas.
Como ponto negativo é impossível não salientar a falta de legislação relacionada com a produção, tratamento e comercialização destes produtos, a nível europeu. Este vazio deve ser preenchido de forma a que este setor de atividade económica floresça.
Como pontos positivos, é possível salientar que as diversas utilizações dos insetos podem ter um papel preponderante na luta contra as alterações climáticas. Numa questão tão sensível como a dos plásticos, sabe-se que a larva-da-farinha ingere plástico (pois tem uma estrutura química muito semelhante à da farinha), mas após a sua digestão não são encontrados vestígios de plásticos nas suas fezes.
Este facto, que por si só não resolve a situação do excesso de emissões de resíduos plásticos, pode ser muito útil no futuro das indústrias alimentar e farmacêutica. Outro ponto positivo é que o consumo de insetos pode ajudar a combater a escassez de alimentos no futuro, tendo em conta que se prevê que em 2050 haja 9 mil milhões de pessoas no mundo.