Incêndios na Madeira. Situação atual e como repensar a prevenção no futuro?

Incêndios de grandes proporções na Madeira, alimentados por ventos fortes e condições meteorológicas adversas, já levaram à evacuação de centenas de pessoas e ao encerramento de acessos. Saiba mais aqui sobre os avanços!

Incêndio Madeira
Incêndio no arquipélago da Madeira progride em três frentes, sendo a mais problemática a de Serra d'Água.

A ilha da Madeira defronta uma das suas piores crises associadas aos incêndios florestais em anos, com múltiplas frentes ativas que têm devastado vastas áreas territoriais, ameaçando vidas e causando danos às infraestruturas locais. Desde a manhã de quarta-feira, 14 de agosto, quando o fogo deflagrou na Serra de Água, a situação tem-se agravado, com o vento forte e as condições meteorológicas adversas a dificultarem o combate às chamas.

Situação atual

Os incêndios na Madeira afetam principalmente as áreas do Curral das Freiras, Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, e a Serra de Água, no município vizinho de Ribeira Brava. Destaca-se, aliás, a coexistência de três frentes ativas, com uma evolução para norte, sobretudo o da Serra de Água. De acordo com o balanço mais recente do Serviço Regional de Proteção Civil, mais de 160 pessoas foram evacuadas de suas casas.

O fogo tem-se alastrado para norte, em direção ao Paul da Serra, uma área não habitada, mas de difícil acesso e grande valor ambiental e reativou, entretanto, na Fajã das Galinhas. Embora a situação no Curral das Freiras também permaneça com reservas, destaca-se o facto do incêndio não ter subido ao Pico do Areeiro, um dos pontos mais altos da ilha.

O vento tem sido um dos principais obstáculos ao combate às chamas, aliado à própria orografia, que favorece a progressão das chamas. Com rajadas que chegam a 70 km/h nas áreas altas da ilha, o vento impede a ação eficaz dos meios aéreos, tornando o trabalho dos cerca de 120 operacionais alocados à intervenção e apoiados por 43 veículos e uma aeronave, ainda mais difícil.

De igual modo, foram mobilizados também 76 operacionais da Força Especial dos Bombeiros do Continente para reforçar os esforços locais e são esperados operacionais dos Açores, após a luz verde do Governo Regional da Madeira para o envio de mais recursos. A capitania do Porto do Funchal reforçou alguns avisos sobre o vento forte até às 18 horas desta segunda-feira.

Copernicus área ardida
Área ardida na Madeira, segundo imagens do Copernicus.

Além de a situação meteorológica colocar a ilha da Madeira em aviso de calor extremo (nível 3) pelo IPMA, o Plano Regional de Emergência de Proteção Civil da Região Autónoma da Madeira (PREPCRAM) foi também ativado nas últimas horas para responder a este momento vivenciado.

Neste momento, além dos problemas decorrentes da progressão dos incêndios, não é de olvidar a possibilidade de derrocadas em áreas queimadas, bem como enxurradas, inundações urbanas e cheias repentinas, que possam vir a acontecer, a médio prazo, com as primeiras chuvas (tal como sucedeu em 2010).

Mas o que se pode então fazer para a prevenção no futuro?

São vários os investigadores, a nível continental, tais como António Bento-Gonçalves, especialista e investigador da Universidade do Minho, ou insular, como Raimundo Quintal, geógrafo e botânico madeirense, formado pela Universidade de Lisboa, que reforçam a necessidade de transitar para uma cultura de prevenção mais versada.

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Desta forma, a situação na Madeira vem colocar em ênfase esta premissa, salientando-se a necessidade urgente de repensar as estratégias de prevenção e gestão de incêndios na ilha da Madeira.

Quintal apontou na manhã do passado domingo (18), em declarações à RTP1, várias falhas na gestão florestal da ilha que têm contribuído para a propagação dos incêndios. Entre as principais críticas, estão a proliferação de espécies invasoras, como as acácias e os eucaliptos, que são altamente inflamáveis e contribuem para elevar a intensidade dos incêndios.

De facto, há a necessidade de valorizar a importância de uma gestão florestal mais eficaz, que inclua a remoção de espécies invasoras e a promoção e preservação de espécies nativas, como as da floresta Laurissilva, que são menos suscetíveis a incêndios. Destaque-se também a dependência excessiva de métodos inadequados na ilha da Madeira de controle de vegetação, tal como é referido por Quintal, com o uso de "cabras sapadoras" e gado bovino, que não são eficazes na redução de material inflamável.

Doravante, outras medidas e técnicas merecem particular ênfase, designadamente a manutenção regular dos terrenos limpos e livres de material inflamável e, por outro, a reconsideração da estratégia de prevenção face a incêndios, com a incorporação de novas tecnologias e métodos de monitorização e resposta rápida.

Deste conjunto de medidas fundamentais, não se pode olvidar, claro, as campanhas de sensibilização e educação para a população. Muitas vezes, os incêndios são causados por ação humana, seja por negligência ou, em casos mais graves, por fogo posto, reforçando-se a força da consciencialização da população e a importância de medidas de autoproteção.

Mais do que uma cultura de combate, é fundamental apostar-se na prevenção, bem como em áreas-chave como educação e proteção civil.