Incêndios na Indonésia cobrem de fumo Singapura e Malásia
O cultivo de óleo de palma está por trás dos incêndios que consomem grande parte da Indonésia e ameaçam Singapura e Malásia. Se não chover, a catástrofe do meio ambiente será enorme.
A queimada de florestas nativas para permitir o cultivo de óleo de palma é um problema que parece não ter solução na Indonésia. O problema tem uma fase inicial nos métodos que usados para libertar terras, gerando fogo que devasta áreas de selva em grande escala. De facto uma mistura de corrupção e interesses económicos fazem com que estas práticas continuem apesar das críticas internacionais.
Se a esse esquema imposto sobre as terras lhe somarmos uma seca persistente, o panorama é desconcertante e desolador. E é isso o que está a ocorrer em grande parte da Indonésia. Segundo relatos do diário El País, e tendo como fonte o Centro Meteorológico de la Asociación de Naciones del Sudeste Asiático (ASEAN), a meio de setembro existem 474 incêndios ativos no Bornéu (Kalimantan) e 387 na Sumatra.
Se a chuva não surgir em poucos dias, o mais provável é que se desencadeie uma grande catástrofe ambiental, somada à já catastrófica situação que vivem os bosques desse país. O óleo de palma está presente numa grande variedade de produtos de consumo diário, ainda que nutricionalmente não seja uma boa alternativa já que é rico em gorduras saturadas. Está presente em cremes, produtos para untar, pastelaria industrial, pratos de comida preparada, produtos de limpeza, cosméticos e velas.
O ar está cada vez mais contaminado
85 % de cultivo de óleo de palma concentra-se na Indonésia e na Malásia, onde o impacto ambiental e social é enorme. A contínua queimada de florestas na Indonésia implica enormes quantidades de dióxido de carbono a para a atmosfera, e se de facto o governo prometeu controlar a atividade, o certo é que na prática faz muito pouco.
Para poder controlar o poder imparável do fogo mais de 9.000 efetivos foram destacados em grande parte da Indonésia. Os operários repartem-se por turnos de 12 horas e a maioria encontra-se no limite das suas forças. E os prognósticos não são animadores já que a época de chuvas poderá só chegar em novembro.
Em 2015 uma situação semelhante, com a ajuda do El Niño que estava ativo, consumiu mais de 2 milhões de hectares. O problema colateral é que devido os ventos na zona, o fumo destes incêndios contamina o ar que avança para norte submetendo a Singapura e a Malásia dentro de uma nuvem tóxica. Nessa ocorrência, a concentração de partículas PM2,5 (muito pequenas e prejudiciais para a saúde) superaram os 400 microgramas por metro cúbico. Para comparar, basta dizer que para a Organização Mundial da Saúde (OMS) com apenas 25 o ar já não é saudável.
Milhares de vidas em perigo
De momento a situação não alcança a gravidade de 2015, mas irá rapidamente alcançar esse patamar já que em vários pontos a concentração de PM2,5 alcançou a metade desse ano. No dia de hoje já cerca de 23 milhões de pessoas estão a ser afetadas. Singapura está a ser muito afetada e a cada dia amanhece envolta em neblina e smog com a qualidade do ar dentro do alcance de insalubre.
Na Malásia as autoridades tiveram que distribuir meio milhão de máscaras aos seus residentes e encerraram colégios em várias províncias. A comunidade científica calcula que a exposição prolongada a este ar tóxico poderá provocar 36.000 mortes prematuras por ano na Indonésia, Singapura e Malásia nas próximas décadas se não se detiver este modo de produção.
Na Indonésia, nos primeiros dias de setembro ardiam mais de 930.000 hectares. Se a falta de chuva se mantiver, como indicam os prognósticos, essa cifra pode escalar rapidamente. A verdade é que se misturam os interesses de grandes empresas que avançam com o cultivo, e pequenos produtores que iniciam fogos para “limpar” campos, ainda que muitas vezes não consigam conter o incêndio que se inicia.