Incêndios florestais devastadores no Hemisfério Norte: o porquê de um verão complexo

A parte norte da linha do equador conheceu no verão de 2023 um período dramático com extrema atividade de incêndios florestais, que causou devastação, dezenas de vítimas e forçou à evacuação de milhares de pessoas em vários locais.

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O Hemisfério Norte conheceu, no verão de 2023, condições ideais para que incêndios catastróficos tenham aqui eclodido e alastrado.

A atividade de incêndios florestais que começou no Hemisfério Norte em maio aumentou em gravidade durante os meses mais quentes do ano. Esta atividade é sazonal, com incêndios a ocorrerem, normalmente, entre os meses de maio e outubro, com picos em julho e agosto, os meses mais quentes e secos do ano.

O verão de 2023 não foi exceção e não deu tréguas, com incêndios de dimensões dramáticas na Europa, Canadá e Hawai. Os incêndios florestais no Canadá duram há mais de quatro meses, em locais que geraram (e continuam a gerar) algumas das maiores emissões de carbono já registadas no país. Na Europa, o maior incêndio florestal alguma vez registado na União Europeia atingiu o norte da Grécia.

Canadá experienciou a pior época de incêndios da sua história, emissões de carbono recorde

Após três meses de atividade extrema entre os meses maio e julho, os incêndios florestais continuaram a não dar tréguas no mês de agosto no Canadá, e seguiram a sua senda destrutiva um pouco por todo o país, especialmente no oeste e noroeste, com os Territórios do Noroeste, a Columbia Britânica e Alberta a experimentarem um aumento excecional neste mês.

Arderam este ano, pelo menos, 170 mil quilómetros quadrados (km²), praticamente o dobro do território português. Para que tenhamos noção, o máximo situava-se em 71 mil km², registados em 1995.

De acordo com o sistema Copernicus, os incêndios florestais no Canadá continuam a decorrer em larga escala. A 12 de setembro, estavam ativos 145 incêndios na região de Yukon, que já viu quase 224.000 hectares do seu território devastados. Ontem, 18 de setembro, estavam ativos 121 incêndios na região dos Territórios do Noroeste, o que contribui para uma área total queimada, este ano, de mais de 4 milhões de hectares, só nesta região.

As emissões de carbono geradas pelos incêndios desta estação atingiram as 405 megatoneladas (milhões de toneladas) em todo o país, o triplo do recorde anterior registado no ano de 2014, onde se conheceu a libertação de 138 megatoneladas de carbono para a atmosfera.

Se bem nos recordamos, o fumo dos incêndios no Canadá afetou, em junho, a Europa e os Estados Unidos da América, com a transferência de partículas que fizeram piorar a qualidade do ar. O céu da Península Ibérica ficou escuro durante o dia, coberto com uma nuvem escura devido à deslocação do fumo, cinzas e partículas.

Também nos últimos dias de agosto e início de setembro, se deu um novo transporte de longo alcance de partículas dos incêndios florestais canadianos através do Atlântico, com o fumo a resultar em céus nebulosos nas Ilhas Britânicas e no noroeste, centro e sul da Europa.

Também a Europa teve grandes incêndios

A Grécia registou a pior atividade de incêndios florestais em 20 anos. O incêndio que eclodiu perto da cidade de Alexandroupolis, no nordeste da Grécia, e que se propagou rapidamente pela região de Evros, foi classificado como o maior alguma vez registado na União Europeia.

De acordo com dados do Serviço Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), os incêndios florestais na Grécia resultaram numa área acumulada queimada, desde o início do ano, de mais de 173.000 hectares.

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Como resultado, as emissões de carbono geradas pelos incêndios no mês de julho no país helénico, foram as mais elevadas no registo do Serviço de Monitorização da Atmosfera Copernicus (CAMS) e as emissões conjuntas dos eventos ocorridos nos meses de julho e agosto foram as terceiras mais elevadas já registadas, depois dos anos de 2007 e 2021.

Também em Portugal se deram alguns grandes incêndios florestais na primeira quinzena de agosto onde, de 4 a 9 de agosto, se registaram valores de emissões de carbono significativamente superiores à média dos últimos 20 anos. Esses incêndios geraram espessas nuvens de fumo, que foram transportadas principalmente para o Atlântico, entre os dias 6 e 7 de agosto.

Na vizinha Espanha, um grande incêndio florestal desenvolveu-se na ilha espanhola de Tenerife, a 16 de agosto, e espalhou-se rapidamente, destruindo 15.000 hectares de floresta no parque nacional em redor do vulcão Teide, o pico mais alto do país. Os dados do CAMS mostram que foi detetado um pico total de emissões de carbono entre os dias 16 e 22 de agosto, sendo as mais altas desde 2003 registadas nas Canárias.

Hawai e Rússia igualmente afetadas por incêndios devastadores

A ilha havaiana de Maui sofreu alguns incêndios florestais extremos em agosto, que resultaram na morte de, pelo menos, 115 pessoas. A escala e a intensidade dos incêndios florestais no Hawai foram exponenciados devido à proximidade do furacão Dora, com ventos fortes que estimularam as chamas e fizeram com que o incêndio se espalhasse que uma forma impressionante.

Já na Rússia, vários incêndios de grandes dimensões também ocorreram e, apesar das emissões de carbono aqui registadas serem inferiores à média dos últimos 20 anos, as emissões decorrentes dos incêndios ocorridos entres os meses de julho e agosto, no Ártico, foram as terceiras mais altas de que há registo.