Incêndios em Portugal: o 2.º valor mais reduzido em ignições desde 2013
Portugal registou entre 1 de janeiro e 15 de setembro deste ano, mais de 7 mil incêndios e pouco mais de 33 mil hectares de área queimada pelo fogo. Para já as notícias são animadoras. Teremos terminado já por aqui?
Portugal registou desde o início do ano, até meados do mês de setembro, um total de 7.097 incêndios rurais que se traduziram em 33.003 hectares de área ardida, segundo o mais recente relatório do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), publicado na passada segunda-feira, 25 de setembro.
Os mais de 33 mil hectares distribuem-se entre povoamentos florestais (18.904 ha), matos (11.967 ha) e áreas agrícolas (2.132 ha).
Estes dados representam uma diminuição de 40% no número de ocorrências, em relação à média dos últimos 10 anos, ou seja, o 2.º valor mais reduzido desde 2013 e de menos 64% de área ardida, o que o coloca, em comparação, no 3.º ano mais baixo em área queimada. Em 2017, por esta altura, haviam ardido 209.678 hectares em 13.346 incêndios.
A maioria das ignições ocorreu no mês de agosto, com um total de 1.798 ocorrências, o que representa 25% do número total registado no ano. As maiores cifras de área calcinada pelo fogo deram-se também no mês de agosto, com um total de 17.019 hectares ardidos, o que corresponde a 67% do total de área ardida registada.
Até ao dia de 15 de setembro, foram registados, em território continental, 33 grandes incêndios (área ardida total seja igual ou superior a 100 hectares), que se materializaram em 22.803 hectares de área ardida, o que representa cerca de 69% do total da área ardida.
Os incêndios rurais com área ardida inferior a um hectare foram os mais frequentes, correspondendo a 84% do total.
Distritos e concelhos mais afetados
Os distritos com maior número de incêndios foram os do Porto (1.416), Braga (670) e Viana do Castelo (589). As NUT's (Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos) com mais ignições registadas foram a Metropolitana do Porto (1.012), Tâmega e Sousa (784) e Alto Minho (589).
No que aos concelhos diz respeito, estes localizam-se todos a norte do Tejo, e caracterizam-se pela elevada densidade populacional, presença de grandes aglomerados urbanos ou utilização tradicional do fogo na gestão agroflorestal. São casos destacados os concelhos de Ponte da Barca (203), Paredes (162), Vila Nova de Gaia (140) Gondomar e Lousada (125).
No que à área ardida diz respeito, o distrito mais afetado foi Castelo Branco com 7.429 hectares, cerca de 23% da área total ardida, seguido de Beja com 5.908 hectares (18% do total) e de Faro com 2.652 hectares (8% do total). As NUT's com maior área queimada foram Beira Baixa (7.077 ha), Alentejo Litoral (5.653 ha) e Algarve (2.652 ha).
Os concelhos onde mais ardeu foram Odemira (5.581 ha), Proença-a-Nova (5.334 ha), Aljezur (1.806 ha), Castelo Branco (1.289) e Mogadouro (1.283 ha).
Dos incêndios investigados (6.000, o que corresponde a 85% do total e que foram responsáveis por 97% da área ardida) a que se pôde chegar a uma conclusão das suas causas (4.024 ignições), concluiu-se que a grande maioria, 42% resultam do uso do fogo (queimas, queimadas e fogueiras). O restante distribui-se entre 28% por incendiarismo, 13% resultado de responsabilidade acidental, 5% por reacendimentos e 11% por outras causas apuradas. Apenas 1% são consequência de causas naturais (quedas de raios).
O relatório evidencia que a grande maioria dos incêndios ocorreu em períodos de severidade meteorológica baixa e que apenas 450 deles ocorreram em períodos de temperaturas mais elevadas, vento forte, ausência de precipitação e humidade relativa baixa. Este é o 2º valor mais alto dos últimos 10 anos.
O verão com menos ocorrências desde 2013
Através da análise dos diferentes relatórios publicados pelo ICNF desde 2013 pode concluir-se que durante a mais quente e seca estação do ano, o verão, e por isso o período mais crítico, se registaram 3.128 ocorrências este ano, em que resultaram 24.134 hectares de área ardida.
Este foi o verão com menos ignições dos últimos 10 anos, que apresenta uma média de 6.271 ocorrências, e o 3º com menos área ardida, apenas atrás de 2014 e 2021. A média ardida neste período e nesta estação foi de 66.239 hectares.
Note-se que a análise foi realizada entre os dias 30 de junho e 15 de setembro de cada ano desde 2013, uma vez que são as datas que permitem uma análise mais próxima ao real período desta estação do ano.
O que podemos esperar para os tempos mais próximos?
A análise do Índice Meteorológico de Incêndio (FWI), ferramenta utilizada para a classificação da perigosidade meteorológica de incêndio que congrega o Índice de Humidade dos Combustíveis Finos (FFMC), o Índice de Propagação Inicial (ISI), o Índice de Combustível Disponível (BUI), o Índice de Seca (DC), o índice de Humus (DMC) e das previsões de parâmetros meteorológicos do ECMWF (modelo da nossa maior confiança), permite-nos concluir que os últimos dias de setembro e as primeira semanas de outubro tenderão a ser de acalmia do ponto de vista da ocorrência de eventos extremos de incêndio.