Incêndios em Portugal: mais de 8 mil hectares ardidos até junho
Portugal registou, de 1 de janeiro a 30 de junho, praticamente 4 mil incêndios e quase 9 mil hectares de área calcinada pelo fogo. O que nos podem trazer os próximos tempos? Veja aqui!
Portugal registou nos primeiros seis meses do ano um total de 3.969 incêndios rurais que se traduzem numa área ardida de 8 869 hectares, segundo o primeiro relatório de autoria do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), publicado este ano.
Representa uma diminuição de 15% no número de incêndios em relação à média dos últimos 10 anos, ou seja, o 5.º valor mais reduzido desde 2013 e de menos 40% de área ardida, o que o coloca, ainda assim, em comparação, no 6.º ano mais elevado em área queimada.
A maioria dos incêndios ocorreu no mês de maio, com um total de 1.054 incêndios, o que representa 27% do número total registado no ano. No entanto, as maiores cifras de área ardida deram-se em fevereiro, com um total de 5.116 hectares calcinados pelo fogo, o que corresponde a 58% do total de área ardida registada.
Até ao final do mês de junho, o território continental registou 11 grandes incêndios (área ardida total seja igual ou superior a 100 hectares), que se manifestaram em 1.911 hectares de área ardida, o que representa cerca de 22% do total da área queimada pelo fogo.
A larga maioria das ocorrências de incêndio rural registadas, 80% destes, foi dada como terminada ainda na fase de ataque inicial, o que evidencia que de janeiro a junho de 2023, os incêndios com área ardida inferior a 1 hectare tenham sido os mais frequentes.
Distritos e concelhos mais afetados
Os distritos com maior número de incêndios foram os do Porto (690), Braga (447) e Viana do Castelo (391). No que aos concelhos diz respeito, estes localizam-se todos a norte do Tejo, e caracterizam-se pela elevada densidade populacional, presença de grandes aglomerados urbanos ou utilização tradicional do fogo na gestão agroflorestal. São casos destacados os concelhos de Ponte da Barca (126), Montalegre (93), Paredes (81), Vila Nova de Gaia (80) e Vieira do Minho (77).
No que à área ardida diz respeito, o distrito mais afetado foi Braga com 2 383 hectares, cerca de 27% da área total ardida, seguido de Vila Real com 1 761 hectares (20% do total) e de Viana do Castelo com 1 430 hectares (16% do total). Os concelhos onde mais ardeu, localizam-se igualmente a norte do Tejo, à exceção de Castro Marim (330 ha), no sotavento algarvio. Destacam-se os concelhos de Montalegre (1256 ha), Vieira do Minho (543 ha), Terras de Bouro (506 ha), Cabeceiras de Basto (407 ha) e Melgaço (367 ha).
A imprudência, a negligência e o crime jogam um importante papel na causa destes eventos. Dos incêndios investigados (77% do total), concluiu-se que a grande maioria, 61% resultam do uso do fogo (queimas, queimadas e fogueiras). O restante distribui-se entre 16% por culpa de incendiarismo, 9% resultado de responsabilidade acidental, 3% por reacendimentos e 10% por outras causas apuradas. Apenas 1% são consequência de causas naturais (quedas de raios).
O relatório mostra que a grande maioria dos incêndios ocorreu em períodos de severidade meteorológica baixa e que apenas 118 deles ocorreram em períodos de temperaturas mais elevadas, vento forte, ausência de precipitação e humidade relativa baixa.
E o futuro próximo, o que nos pode reservar?
Prever como serão os números relativos aos incêndios rurais (vulgos florestais) revela-se complexo a curto prazo, uma vez que as condições meteorológicas não explicam, por si sós, estes fenómenos, ainda que sejam a principal condicionante. No entanto, a realidade pode sustentar uma teoria mais simples de prever, a de que estes serão cada vez mais frequentes em número e grau.
A "verdade" é que estes fenómenos conhecem um comportamento ideal de propagação quando registados valores de humidade relativa abaixo dos 30%, temperaturas superiores a 30 ºC e velocidade do vento superior a 30 km/h. O período de desregulação climática que vivemos tem exercido uma pressão cada vez maior sobre o comportamento destes fenómenos e também esta, até agora verdade, parece estar a mudar (para pior).
O aumento das ondas de calor e das secas meteorológicas, eventos extremos cada vez mais comuns e intensos no espaço e no tempo, ajudam a explicar a cada vez maior frequência, intensidade e severidade dos incêndios de cada vez mais devastadora dimensão.
Apesar do mês de junho, tipicamente integrado na chamada época de incêndios (ainda que não na sua fase mais crítica), se ter revelado o 5º junho mais quente desde 1931, com um valor da temperatura média do ar de 21.92 °C, 2.49 °C superior em relação ao valor normal 1971-2000, a realidade é que o território nacional continental viu, felizmente, escapar grande parte das mais negativas previsões admitidas, que apontavam já para um elevado número de ocorrências.
Muito se deve, em grande parte, à precipitação registada um pouco por todo o território continental, a 3ª mais elevada para o mês de junho desde 2000, que permitiu aos combustíveis (aquilo que arde) adquirir alguma humidade e igualmente, diminuir-se a área do território nacional em seca meteorológica.
Ora, estatisticamente, o período de 15 de julho a 15 de agosto, apresenta uma severidade meteorológica mais elevada no nosso país, caracterizada pelo tempo quente e seco, sendo por isso normal que se venha a assistir a um elevado número de ocorrências de incêndios, que poderão vir adotar um comportamento extremo. Espera-se, por isso, que este deva ser um período particularmente complexo e desafiador.