Incêndios em Portugal: mais de 27 mil hectares ardidos até meados de agosto
Portugal registou, entre 1 de janeiro e 15 de agosto, mais de 6 mil incêndios e praticamente 28 mil hectares de área calcinada pelo fogo. Com o que poderemos contar até ao final do mês? Veja aqui!
Portugal registou desde o início o ano, até meados do mês de agosto, um total de 6.085 incêndios rurais que se traduziram em 27.802 hectares de área ardida, segundo o mais recente relatório do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), publicado a 16 agosto.
Os quase 28 mil hectares distribuem-se entre povoamentos florestais (15.848 ha), matos (10.218 ha) e áreas agrícolas (1.736 ha).
Estes dados representam uma diminuição de 31% no número de incêndios, em relação à média dos últimos 10 anos, ou seja, o 2.º valor mais reduzido desde 2013 e de menos 56% de área ardida, o que o coloca, em comparação, no 4.º ano mais baixo em área queimada. No ano passado, por esta altura, haviam ardido 91.730 hectares em 8.148 incêndios.
A maioria dos incêndios ocorreu no mês de julho, com um total de 1.258 ocorrências, o que representa 21% do número total registado no ano. No entanto, as maiores cifras de área ardida deram-se entre 1 e 15 de agosto, com um total de 17.153 hectares calcinados pelo fogo, o que corresponde a 62% do total de área ardida registada.
Até ao dia de 15 de agosto, foram registados, em território continental, 24 grandes incêndios (área ardida total seja igual ou superior a 100 hectares), que se manifestaram em 18.862 hectares de área ardida, o que representa cerca de 68% do total da área queimada pelo fogo.
Cerca de 83% das ocorrências de incêndio rural foram dadas como terminadas ainda na fase de ataque inicial, o que evidencia que, de 1 de janeiro a 15 de agosto de 2023, os incêndios com área ardida inferior a 1 hectare foram os mais frequentes.
Distritos e concelhos mais afetados
Os distritos com maior número de incêndios foram os do Porto (1 157), Braga (582) e Viana do Castelo (525). No que aos concelhos diz respeito, estes localizam-se todos a norte do Tejo, e caracterizam-se pela elevada densidade populacional, presença de grandes aglomerados urbanos ou utilização tradicional do fogo na gestão agroflorestal. São casos destacados os concelhos de Ponte da Barca (168), Paredes (140), Gondomar (109), Vila Nova de Gaia (107) e Lousada (105).
No que à área ardida diz respeito, o distrito mais afetado foi Castelo Branco com 6.806 hectares, cerca de 24% da área total ardida, seguido de Beja com 5.899 hectares (21% do total) e de Faro com 2.607 hectares (9% do total). Os concelhos onde mais ardeu foram Odemira (5.580 ha), Proença-a-Nova (5.334 ha), Aljezur (1.1819 ha), Castelo Branco (1.287) e Montalegre (1.258 ha).
Dos incêndios investigados a que se pôde chegar a uma conclusão das suas causas (76% do total), concluiu-se que a grande maioria, 49% resultam do uso do fogo (queimas, queimadas e fogueiras). O restante distribui-se entre 22% por incendiarismo, 6% resultado de responsabilidade acidental, 4% por reacendimentos e 11% por outras causas apuradas. Apenas 1% são consequência de causas naturais (quedas de raios).
O relatório evidencia que a grande maioria dos incêndios ocorreu em períodos de severidade meteorológica baixa e que apenas 342 deles ocorreram em períodos de temperaturas mais elevadas, vento forte, ausência de precipitação e humidade relativa baixa.
O que podemos esperar até ao final do mês?
Como vimos em edições anteriores, estes fenómenos conhecem um comportamento ideal de propagação quando registados valores de humidade relativa abaixo dos 30%, temperaturas superiores a 30 ºC e velocidade do vento superior a 30 km/h.
Ainda assim, o período de desregulação climática que vivemos tem exercido uma pressão cada vez maior sobre o comportamento destes fenómenos e também esta, até agora verdade, parece estar a mudar (para pior).
Apesar de serem menos representativos, estatisticamente, a realidade é que os incêndios que ocorrem em períodos de maior severidade meteorológica são responsáveis, em regra, por mais expressivas área ardidas, como vimos com os 2 maiores incêndios até agora registados este ano: Odemira e Castelo Branco.
Estes ocorreram na primeira semana da primeira quinzena de agosto de 2023, que se caracterizou por alguns dias de calor extremo, baixa humidade relativa e vento moderado, maioritariamente proveniente do quadrante leste (geralmente mais quente e seco).
A previsão global para as próximas semanas aponta para um cenário de subida gradual e acentuada da temperatura, principalmente a partir do dia 20 de agosto, que se deverá sentir, expectavelmente, aproximadamente, por uma semana, existindo a possibilidade dos termómetros registarem temperaturas máximas próximas ou acima dos 40.ºC, em grande parte do território nacional, em especial na Beira Baixa e em praticamente todo o Alentejo.
É, por isso, natural que existindo ocorrências de incêndio rural, principalmente nestas geografias, e no período expectável de maior severidade meteorológica, que estas possam vir a adotar um comportamento extremo, sendo expectável que o que nos resta do mês de agosto possa vir a ser um período particularmente complexo e desafiador para todos aqueles que combatem este flagelo.