Hollywood da Europa: o único semi-deserto europeu tornou-se casa do Velho Oeste

Existem poucos géneros de filmes que são tão ligados a um lugar e tempo como os que retratam o Velho Oeste Americano do século XIX, com cowboys, saloons e pistoleiros. Este estilo tornou-se tão popular ao longo das primeiras décadas de Hollywood, que hoje não há quem não se lembre de pelo menos um filme ou do nome de um famoso cowboy do faroeste.

O que poucos sabem, porém, é que nem todos foram filmados em Hollywood ou nos EUA, tampouco. Aliás, alguns dos mais famosos do género foram, na verdade, gravados numa província espanhola: Almería.

“O Rei dos Reis” (1960), “Lawrence da Arábia” (1962), “Cleópatra” (1963), “O Bom, o Mau e o Vilão” (1966), e até “Indiana Jones e a Grande Cruzada” (1989), são todos nomes nos quais os cenários de Almería não são desconhecidos.

O género que mudou o destino desta província

Mas a história desta província nem sempre foi de sucesso. Quando as produções ocidentais estrangeiras descobriram Almería nos anos 60, a província era uma das mais pobres de Espanha, atormentada por alto desemprego e emigração.

Além disso, “as paisagens do deserto das Tabernas — o único semi-deserto da Europa —, com uma extensão de cerca de 280 quilómetros quadrados, fazia recordar os desertos americanos” lê-se na revista ‘NiT’. Estaria tudo a favor do sucesso. Ou será que não é bem assim?

Uma reviravolta inesperada

Não há dúvidas de que o deserto de Tabernas é um cenário árido e impressionante, com montanhas secas e formações rochosas que parecem ter saído de um filme de faroeste — literalmente. O Deserto de Tabernas fez mesmo história no grande ecrã. Tanta, que ficou conhecido como Hollywood da Europa.

“A região mal tinha estradas pavimentadas naquela época, e a indústria cinematográfica foi fundamental na construção do aeroporto de Almería e dos primeiros hotéis. Em apenas alguns anos, a cidade deixou de ser um lugar remoto para se tornar uma versão europeia de Hollywood, com celebridades como Claudia Cardinale, Alain Delon e Charles Bronson”, nota o ‘The Guardian’.

O desafio surgiu, porém, quando os chamados ‘filmes de cowboys’ entraram em declínio ainda no século passado. Por essa altura, começaram a aparecer as superproduções, passou a investir-se no aperfeiçoamento contínuo da qualidade e verificou-se uma mudança do interesse público.

Sem uso cinematográfico, os cenários foram deixados ao abandono — mas não por muito tempo. Porquê? Porque alguns habitantes começaram a fazer espetáculos de western para turistas. Afinal, tinham de subsistir de alguma forma. E não é que esta alternativa também correu bem?

Ao longo dos anos, foram-se, então, criando vários parques temáticos que preservavam os cenários que estariam a degradar-se. Um deles foi o Mini Hollywood Oasys, cujo cenário foi construído para “Por Mais Alguns Dólares”, em 1965.

“Mais de cem filmes foram filmados neste local nas décadas de 1960 e 1970, antes de os cenários iniciarem a sua segunda vida como parque temático de estilo americano, com uma cidade da época da corrida do ouro com lojas de recordações e um restaurante de grelhados sofisticado com vista para as montanhas acidentadas — atraindo uns saudáveis 180.000 visitantes por ano”, escreve o ‘National Geographic’.

E como se os edifícios no estilo ocidental, as ruas empoeiradas e as roupas da época não fossem suficientes, em junho de 1997, o Mini Hollywood Oasys abriu uma reserva zoológica. Hoje este espaço conta com mais de 800 animais de 200 espécies diferentes e mais de quatro mil árvores no coração do deserto de Tabernas.

Um dia passado no Mini Hollywood Oasys

“Bem-vindo a um parque temático ocidental como nunca viu antes! Uma cidade ocidental ao vivo, mais de 800 animais e uma área aquática com um grande oásis refrescante esperam por si no Mini Hollywood Oasys, no coração do deserto de Tabernas”, começam por saudar os responsáveis no site.

Todos os dias, às 12:00 e às 17:00 horas, a praça principal recebe — entre um hotel, banco, salão e até um gabinete do xerife — o “espetáculo favorito dos visitantes”. Durante este momento, o xerife anda atrás de um bandido, ao som de canções épicas. Mais tarde, às 13:00 e às 19:00 horas, está marcado, no Yellow Rose Saloon, uma “experiência energética com dançarinos que vão ensinar ao público a origem da dança francesa cancan, que se tornou popular nos salões de música na década de 1840”, explica a 'NiT.

Aqui há ainda espaço para protagonistas cowgirls que têm o seu próprio espetáculo, e para um Museu do Cinema e outro de Carruagens. Além dos grandes oásis, o complexo possui um pequeno parque aquático com uma piscina gigante cercada por grandes palmeiras, um jacuzzi para adultos e uma piscina infantil com escorregas para os mais novos.

E, claro, não nos podemos esquecer daquela que é uma das zonas mais adoradas: a reserva animal. Ali, o objetivo é proporcionar uma área para a conservação de espécies, bem como um espaço educativo, sendo possível fazer visitas guiadas.

Em 2025, como forma de celebração do 50.º aniversário do Mini Hollywood, os responsáveis estão a preparar a abertura de um parque de campismo, com capacidade para 150 autocaravanas e 40 espaços glamping. Será, garantem, um local para “os amantes dos westerns e das noites desérticas”.

“Além do Camper Park, já anunciaram a criação de um complexo hoteleiro com 150 quartos, inspirado no mundo do cinema ocidental, com abertura prevista daqui a cinco anos”, acrescenta a ‘NiT’.

Com altos e baixos, hoje, o sucesso é tanto que os sets continuam a hospedar dezenas de produções todos os anos. Até "Black Mirror", "Blade Runner" e a "Mulher-Maravilha" fazem parte desta lista.