Hoje sexta, ainda se prevê que o furacão Danielle possa chegar a Portugal?

Danielle está a intensificar-se rapidamente e a adquirir uma intensidade pouco habitual na área onde se formou, a oeste do Arquipélago dos Açores. Mal se deslocou nas últimas horas, mas poderá deslocar-se para leste a partir de domingo.

Furacão Danielle
O NHC espera que em breve se possa tornar um furacão de categoria 2.

A ex-tempestade tropical Danielle acabou de se tornar no primeiro furacão da temporada de furacões do Atlântico de 2022 esta sexta-feira, dia 2 setembro, tendo-se desenvolvido numa área invulgar. Não foi a única a fazê-lo, nos últimos anos outros ciclones tropicais estabeleceram precedentes neste setor do Atlântico, no entanto, Danielle parece querer ir mais longe e adquirir um nível de desenvolvimento raramente visto em latitudes tão distantes dos trópicos.

Este ciclone tropical desenvolveu-se numa zona do Atlântico marcada por fortes anomalias de temperatura. No setor central e ocidental do Atlântico Norte, entre os paralelos 40º N e 50º N, a temperatura do mar atingiu valores nunca antes observados nesta área, com anomalias até 5ºC acima dos valores normais. Estas elevadas temperaturas da superfície do mar são favoráveis ao desenvolvimento de ciclones tropicais nesta área e estão a desempenhar um papel muito importante na evolução de Danielle.

Para além do enorme interesse científico despertado pela evolução deste ciclone tropical, há também um interesse geral acentuado pela possível evolução da sua trajetória. Após permanecer este fim de semana praticamente estacionário, já como um furacão, começará a deslocar-se para leste ou nordeste, possivelmente aproximando-se da Europa, sem excluir a possibilidade de poder afetar o continente direta ou indiretamente.

Pode acompanhar a sua evolução em direto e ver as últimas previsões de trajetória e intensidade no nosso visor de satélites.

A incerteza na previsão ainda é elevada e, de facto, o Centro Nacional de Furacões (NHC) não faz previsões para estes sistemas com mais de 5 dias de antecedência, pelo que é aconselhável ser prudente com estes prazos.

Atualmente, a evolução mais provável coloca Danielle a deslocar-se para leste, passando a norte dos Açores e a ser absorvida por uma baixa de latitudes médias nas proximidades das Ilhas Britânicas. No entanto, existem outros caminhos prováveis tanto para norte como para leste que não podem sercompletamente descartados.

Sim, prevê-se que possa definir um rumo até à Península Ibérica

A sua deslocação em direção a Portugal e Espanha é uma possibilidade que os modelos atualmente contemplam, mas a probabilidade de atingir a nossa costa é atualmente de cerca de 20% de acordo com os cenários IFS do ECMWF, nosso modelo de referência, sendo entre 5 e 10% a probabilidade de o fazer com intensidade de tempestade tropical ou superior.

Mais perigoso como extratropical do que como tropical?

A possibilidade de um ciclone tropical chegar à Península Ibérica, dados os precedentes de anos anteriores, é um tema já recorrente. No entanto, um ciclone tropical precisa de um mar quente que o sustente e forneça a energia de que necessita. Assim que tal sistema entrar na Península, tenderá a perder intensidade muito rapidamente, sendo que apenas as áreas costeiras seriam severamente afetadas. Contudo, se o ciclone começou o seu processo de extratropicalização, a sua fonte de energia já não será apenas o oceano.

Se existir uma forte instabilidade baroclínica, começará a desenvolver-se como um ciclone extratropical. O resultado em tal caso será uma tempestade com ventos muito fortes (ou ventos com força de furacão) que não terá nada a invejar aos da sua fase enquanto ciclone tropical, além disso, conterá ainda grandes quantidades de humidade que conservará da sua fase tropical, resultando em chuva intensa e generalizada.