Haverá danos desiguais na população do globo causados pelas alterações climáticas
O aumento das emissões globais de gases com efeito de estufa irá causar danos desiguais na população a nível global em diversas áreas, dependendo da localização geográfica e não só.
A nova plataforma de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP) fornece as primeiras provas de que os impactos climáticos recairão desproporcionadamente sobre os pobres.
Impactos climáticos a nível global na mortalidade
O trabalho conjunto do Laboratório de Impacto Climático (CIL), que mede os custos reais a nível global das alterações climáticas, e do UNDP levou à criação de uma plataforma de dados sobre os impactos climáticos a nível global.
Esta plataforma quantifica os efeitos das temperaturas mais elevadas em algumas áreas, designadamente nas taxas de mortalidade por todas as causas e na utilização de energia em todos os países e territórios, bem como nas cidades e regiões dentro dessas fronteiras.
Com base em dados obtidos desta plataforma, verifica-se que o efeito da temperatura nas taxas de mortalidade vai ser importante em todo o mundo à medida que enfrentamos um clima mais quente, mas será muito diferente nos lugares ricos e quentes que têm os meios para responder e adaptar-se, por exemplo através da utilização de ares condicionados, do que nos lugares pobres e quentes que não têm.
Apresenta-se de seguida o exemplo para duas cidades em países diferentes. Em meados do século, prevê-se para Faisalabad, no Paquistão, que as taxas anuais de mortalidade por todas as causas aumentassem em quase 67 mortes por 100 000 habitantes, em comparação com um futuro sem alterações climáticas. Este efeito seria quase tão mortífero como os acidentes vasculares cerebrais, atualmente a terceira principal causa de morte no Paquistão.
Para o caso de Riade, na Arábia Saudita, que apresenta padrões semelhantes de aquecimento e calor extremo, mas as pessoas têm mais recursos, incluindo acesso a eletricidade e cuidados de saúde, fatores que se refletem na investigação do Laboratório, a mortalidade não seria tão grande.
Neste caso prevê-se que as taxas anuais de mortalidade por todas as causas aumentassem em 35 mortes por 100.000 habitantes, em comparação com um futuro sem alterações climáticas. Ainda assim, 35 mortes por 100 000 é mais letal do que a doença de Alzheimer, atualmente a 7ª principal causa de morte a nível mundial.
Além da taxa de mortalidade, o Laboratório de Impacto Climático quantificou ainda o custo destes impactos na mortalidade e o custo das adaptações que as pessoas fazem para se protegerem (ar condicionado, centros de refrigeração). O CIL conclui que o impacto no Paquistão em meados do século, neste mesmo cenário, é equivalente a 8% do seu PIB futuro, enquanto para a Arábia Saudita, o impacto é equivalente a 2% do PIB futuro.
A nível global, a plataforma mostra que o aquecimento deverá ter um impacto benéfico na saúde em certas regiões frias, reduzindo as taxas de mortalidade, mas, em geral, o impacto é prejudicial.
Os dados revelam uma clara divisão entre ricos e pobres. Nesse mesmo cenário, prevê-se que as alterações climáticas causem um aumento das taxas de mortalidade em 35% dos países do G20, enquanto que 74% dos países menos desenvolvidos registarão um aumento das taxas de mortalidade, em relação a um futuro sem alterações climáticas.
Impactos climáticos a nível global no consumo de energia
À medida que o planeta aquece e as tecnologias de arrefecimento, como o ar condicionado, continuam a estar fora do alcance de mais de metade da população mundial, maior será a desigualdade entre as populações ricas e pobres no consumo de energia.
Embora o consumo de eletricidade aumente nos dias quentes entre os 10% dos países mais ricos da população mundial, tal como Singapura, que tem acesso a ar condicionado, prevê-se que as zonas quentes com rendimentos mais baixos continuem a ser relativamente pobres até ao final do século e, por conseguinte, não disponham dos meios para se protegerem em relação ao aumento do calor, como é o caso de grande parte da África Subsariana.
Prevê-se que as regiões de rendimento médio, tais como algumas regiões da Índia, China, Indonésia e México, beneficiem de um maior acesso à eletricidade. Estima-se que a Índia, por exemplo, registe um aumento de 145% no consumo de eletricidade em alguns cenários, o que poderá constituir um enorme desafio para o planeamento de infraestruturas.