Há uma vila fantasma a afundar na Grécia, e ali esconde-se uma igreja mais inclinada do que a Torre de Pisa
Ropoto, nas encostas do Monte Karavoula, é inabitável pelo risco de deslizamentos de terra. Ainda assim, tem vindo a atrair vários curiosos pelas construções de cabeça para baixo.
Já todos conhecemos torres inclinadas que fazem de cenários criativos para selfies de milhões de turistas. Claro que, de todas elas, a mais famosa fica em Itália — e não precisamos de dizer muito mais para perceber imediatamente a que estrutura nos referimos.
A verdade, porém, é que a Torre de Pisa não é a mais inclinada do mundo — nem mesmo a mais antiga. Na realidade, a torre mais inclinada do mundo encontra-se na China, nos arredores de Xangai. Contudo, tem sido noutro país que o teste à gravidade tem vindo a atrair cada vez mais aventureiros.
Na Grécia, o que foi em tempos uma vila tranquila idêntica a tantas outras, hoje é motivo de falatório — e até de revolta — depois de se ter tornado uma cidade fantasma a afundar.
Ropoto, uma vila de desilusões e fantasias
“Tudo se foi, não há sequer um café aqui. Se alguém ficar doente, não vai ser capaz de encontrar nem um copo de água para beber”, disse o ex-presidente do concelho da vila, Yorgos Roubies, num documentário produzido pela “GreekReporter”.
“Antes da catástrofe, aqui costumava haver muitos agricultores, que eram famosos pelas suas maçãs”, recorda Roubies, ao percorrer, no documentário, uma área que anteriormente estava repleta de macieiras.
Localizada a pouco mais de 20 quilómetros da cidade de Trikala, nas encostas do Monte Karavoula, Ropoto está lentamente a escorregar. Entre casas inclinadas e derrubadas há, porém, uma igreja que é a grande protagonista desta história.
O início do desastre
Tudo começou nos anos 60, quando o solo na aldeia de Ropoto começou a afundar. Naquela época, ninguém poderia imaginar que a vila, situada no sul de Pindos, acabaria por desaparecer.
Em 2012, porém, o cenário mudou bruscamente — e todos disseram adeus à tranquilidade a que estavam habituados. Um intenso fenómeno geológico engoliu literalmente o chão, destruindo casas e ruas.
“A primeira grande catástrofe ocorreu a 12 de abril de 2012. Estávamos a empurrar as águas para fora da aldeia, como acontece em todos os outonos. Porém, em 2011, não havia máquinas para empurrar a água das chuvas e foi assim que tudo aconteceu”, contou Roubies.
Apesar de não se terem registado mortes, muitos edifícios ficaram enterrados. Outros deslizaram montanha abaixo, onde permaneceram de cabeça para baixo.
Sem condições, portanto, para acomodar as famílias, todos os moradores foram deslocados, tendo que deixar para trás tudo o que haviam construído até então.
As poucas pessoas que decidiram permanecer na vila moram agora em barracos e cabanas que elas mesmas construíram — mas a mágoa não as abandona. A aparente indiferença do governo para com a sua aldeia e para com o contínuo afundamento são a causa de muita dor e frustração.
“É realmente uma visão horrível. Edifícios e estradas foram cortados pela metade e as fundações das casas foram irrevogavelmente danificadas. A maioria dos moradores conseguiu salvar apenas alguns dos seus pertences”, diz quem já lá esteve.
A igreja inclinada
No meio do caos, contudo, há algo que se destaca, e que convida a visitas turísticas à vila grega: a igreja inclinada de Panagia Theotokos.
Ninguém sabe como, mas a verdade é que, apesar de ter deslizado cerca de 200 metros, esta ainda não caiu pela colina abaixo. E é mesmo esse fenómeno que tem intrigado e encantado os visitantes de todo o mundo.
Perante o perigo eminente de derrubamento, a igreja esteve muitos anos ao abandono, mas, atualmente, é dos sítios mais visitados na zona. Nem mesmo o sinal de proibida a entrada e a instabilidade evidente afastam os mais curiosos.
Hoje, visitá-la pode ser bastante desafiante, já que a inclinação é de 17 graus — mais 13 do que a famosa Torre de Pisa. Surpreendentemente, e apesar da inclinação, tanto o exterior como o interior permanecem praticamente intactos, com os quadros (também eles tortos) ainda a enfeitarem as paredes brancas.
Chegar lá, porém, não é propriamente fácil. Para fazê-lo é necessário atravessar uma estreita estrada de montanha. Depois, já na igreja, só tem de encontrar um ponto de equilíbrio — o que deverá ser complicado, tendo em conta a inclinação.