Há cada vez menos neve nos Alpes: novo recorde em 600 anos
Nos últimos 50 anos os Alpes sofreram uma redução de 5,6%, por década, na duração da cobertura de neve, o que já afeta uma região onde a economia e a cultura giram em grande medida em torno do inverno.
Um novo estudo feito pela Universidade de Pádua e pelo Instituto de Ciência da Atmosfera e Clima (ISAC-CNR), publicado na Nature Climate Change, mostra que a duração da cobertura da neve nos Alpes tem vindo a reduzir e que está no ponto mais baixo dos últimos 600 anos.
Os dados deste estudo são irrefutáveis e pesam como uma rocha sobre o futuro da saúde dos ecossistemas e da economia das montanhas. Os investigadores afirmam que o que está a ser experienciado nos últimos anos, nos Alpes, “é algo que não se via desde antes da descoberta das Américas”.
A importância da paleoclimatologia
"Para o estudo das alterações climáticas, é necessária uma ampla perspetiva temporal. Infelizmente, em quase todo o lado, a informação relativa ao snowpack só foi recolhida durante algumas décadas", explica Michele Brunetti, que juntamente com Raffaella Dibona, Angela Luisa Prendin e Marco Carrer contribuiu para este estudo.
Estudo este que é de grande interesse não só pelos seus resultados, mas também pelo método com que foi conduzido. O instrumento que apoiou a investigação não tem nada de tecnológico. Trata-se de uma planta comum de zimbro, uma conífera que resiste e cresce, apesar de as montanhas em que cresce serem fustigadas pelo vento e pela chuva, ou cobertas por camadas de neve.
Além disso, esta é a primeira vez que se dispõe de dados sobre a presença de neve no solo durante um período tão longo. De facto, o snowpack desempenha um papel fundamental no equilíbrio energético da Terra, sendo também fundamental para os sistemas naturais, sociais e económicos da região alpina, que são sustentados pela sua disponibilidade.
O método de investigação e conclusões
Segundo os investigadores: "O zimbro tem apenas algumas dezenas de centímetros de altura, e a sua época de crescimento está dependente do quão cedo este se consegue emergir do manto branco que o cobre".
Ao cruzar as medições dos anéis de crescimento do zimbro, que podem atingir uma idade considerável (mais de 400 anos), com um modelo especialmente desenvolvido de permanência da cobertura de neve, a equipa foi capaz de reconstruir as condições da neve ao longo dos últimos seis séculos. Numa das plantas estudadas, em Val Ventina, na Lombardia, foram contados 572 anéis de crescimento.
Os cientistas concluíram então que a duração atual da cobertura de neve é 36 dias mais curta do que a média a longo prazo. Este número é impressionante e deve ser tido em conta para as estratégias e políticas ambientais, uma vez que a sobrevivência dos glaciares e a quantidade de água doce depende da presença de neve.