Guia prático para todos os dias: nove hábitos que reduzem a exposição ao microplástico

As partículas de plástico já entraram no nosso organismo, mas os especialistas dizem ser possível reduzir a sua ingestão. Saiba o que está ao seu alcance para se proteger contra esta praga silenciosa.

Homem come uma salada
Os estudos sobre o impacto da poluição plástica na saúde humana começaram a apenas algumas décadas e há ainda muita investigação a fazer sobre os seus efeitos a longo prazo. Foto: All king of people/Adobe Stock

A ciência só recentemente começou a debruçar-se sobre as consequências da poluição dos plásticos na saúde humana. Mas estando as suas partículas em todo o lado – no ar, no solo, na água ou nos alimentos – não surpreende que tenham já entrado no nosso organismo.

Os estudos revelam que o micro/nanoplástico já se infiltrou nos nossos pulmões, fígado, órgãos reprodutores, intestinos e tecido cerebral.

Os investigadores desconhecem ainda quais os impactos a longo prazo desta nova fonte de poluição, mas os indícios mostram que podem vir a ser prejudiciais para a nossa saúde.

O plástico é a uma praga contemporânea que invadiu silenciosamente o nosso quotidiano, mas não é impossível combatê-la. As investigações mais recentes apontam várias medidas para reduzir a sua ingestão.

homem navega por ente um mar de plástico
Estima-se que entre 10 e 40 milhões de toneladas de microplásticos sejam lançadas para o ambiente por ano, prevendo-se que o número duplique até 2040. Foto: Sony Herdiana/Adobe Stock

Recolhemos, por isso, a informação de vários estudos e organizamos um guia prático que lhe permite saber o que está ao seu alcance para minimizar a exposição às partículas de plástico. Tome nota:

1 - Beber água da torneira

A mudança da água engarrafada para a água da torneira pode reduzir a ingestão de microplásticos de 90 mil para quatro mil partículas por ano. A redução, segundo os investigadores, pode representar um impacto significativo.

Homem bebe água de uma garrafa de plástico
As garrafas de plástico podem conter até 240 mil partículas de microplástico. Foto: Peggy und Marco Lachmann-Anke/ Pixabay

Ferver e filtrar a água contribui igualmente para remover até 90% das partículas de plástico, embora os especialistas advirtam que a fervura poderá, por outro lado, retirar o cloro e microrganismos da água.

2 - Optar por chás de folhas soltas

As saquetas de chá feitas de nylon-6, celulose e polipropileno libertam diferentes partículas relacionadas com a composição do invólucro. Cerca de 1,2 mil milhões de partículas por mililitro - com um tamanho médio de 136,7 nanómetros - têm origem no polipropileno.

Outras 135 milhões de partículas por mililitro, com um tamanho médio de 244 nanómetros, vêm da celulose. O nylon 6, por fim, é responsável por libertar cerca de 8,18 milhões de partículas por mililitro com um tamanho médio de 138,4 nanómetros.

3 - Reduzir o consumo de alimentos embalados

Um estudo internacional com alimentos enlatados mostrou um aumento de mais de 1000% nos níveis urinários de bisfenol A (BPA) após cinco dias de ingestão diária de sopa enlatada.

O bisfenol A, também conhecido pela sigla BPA, é um composto usado no fabrico de plásticos de policarbonato e resinas epóxi, sendo comum em recipientes para armazenar comida, como latas de conserva, embalagens, recipientes e garrafas de plástico.

A investigação sugere que limitar o consumo de alimentos enlatados e embalados pode reduzir eficazmente a exposição a micropartículas. A duração e o impacto na saúde destes picos de BPA, no entanto, não são claros, necessitando por isso de mais investigação.

4 - Evitar alimentos ultraprocessados

Uma investigação conduzida por americanos e canadianos demonstrou que os alimentos altamente processados, como os nuggets de frango, contêm 30 vezes mais microplásticos por grama do que os peitos de frango.

A comida cozinhada pela avó
A comida caseira, por oposição às refeições pré-cozinhadas, é a melhor opção para reduzir a ingestão de microplásticos. Foto: Halfpoint/Adobe Stock

O estudo destaca o impacto do processamento industrial, que, regra geral, acaba por utilizar plásticos em algum momento do fabrico. Se os alimentos forem cozinhados em casa, há menos probabilidades de ingestão de plásticos. Quanto mais etapas ou cadeias um alimento percorre, maiores são as perspetivas de estar contaminado.

5 - Moderar o apetite pelos frutos do mar

Uma recente investigação de várias universidades americanas detetou níveis significativos de microplástico em 99% das 182 amostras de mariscos e de peixes comprados no supermercado e adquiridas de um barco de pesca no estado de Oregon.

Os níveis mais elevados de partículas de plástico foram encontrados nos camarões rosa.

Moderar o consumo de frutos do mar - especialmente de espécies que filtram a água do mar, como ostras, camarões, mexilhões ou amêijoas - pode ajudar a reduzir a ingestão de microplásticos.

6 - Temperar os alimentos com menos sal

Diversas variedades de sais comerciais australianos (tanto terrestres como marinhos) foram analisados num estudo internacional que encontrou grandes quantidades de microplásticos neste mineral.

7 - Usar recipientes de vidro para aquecer e conservar a comida

Optar por recipientes de vidro ou de aço inoxidável para conservar os alimentos no frigorífico ou à temperatura ambiente pode reduzir significativamente a ingestão de microplásticos.

Recepiente no micro-ondas
Colocar recipientes de plástico no micro-ondas é altamente desaconselhado pelos especialistas. Foto: Khaligo/Adobe Stock

Aquecer no micro-ondas durante três minutos os alimentos em recipientes de plástico pode libertar até quatro milhões de microplásticos e dois mil milhões de partículas de nanoplásticos.

8 - Fazer exercício físico e transpirar

Uma investigação liderada por cientistas canadianos sugere que a transpiração facilita a remoção do bisfenol A (BPA) do organismo, mas adverte serem necessários mais estudos para conhecer as implicações a longo prazo deste método.

Embora algumas evidências indiquem que o suor facilita a excreção de certos compostos derivados do plástico, como o BPA, nenhuma investigação direta confirma atualmente o seu papel na redução do volume total de microplásticos.

Não conhecendo ainda o seu efeito neste campo em particular, sabemos, no entanto, que o exercício físico é, na maioria dos casos, uma boa opção para manter o corpo e a mente saudáveis.

9 - Incluir vermelhos, roxos e azuis na dieta

Frutas como amoras, framboesas e cerejas ou vegetais como feijão preto, cebola roxa, couve-roxa ou beringelas ajudam a mitigar a potencial toxicidade do micro/nanoplástico nos órgãos reprodutivos. A presença das antocianinas, compostos naturais encontrados nestes alimentos, é a principal razão para esta recomendação estar incluída no estudo publicado na revista Pharmaceutical Analysis.

Mirtilhos
Os frutos como mirtilhos são ricos em antocianinas, ajudando a combater a oxidação e a inflamação que os microplásticos podem causar a longo prazo nos aparelhos reprodutores masculino e feminino. Foto: Pexels/Pixabay

A investigação identificou que o dano oxidativo e a inflamação são duas das principais causas da toxicidade dos microplásticos no corpo e as propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias das antocianinas podem combater esses efeitos.

Referências da notícia

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