Guerra na Ucrânia: a natureza também é vítima!
A guerra na Ucrânia, para além dos impactes na população, nas infraestruturas e nas atividades económicas, está a provocar danos graves no meio ambiente, que poderão afetar o território durante vários anos. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
A ofensiva russa que se iniciou em fevereiro, e que se prolonga sem fim à vista, está a ter graves consequências do ponto de vista ambiental. Nas últimas semanas, o centro da ofensiva russa, na área circundante à cidade de Mariupol (Sudeste da Ucrânia), está a ser fustigada com milhares de mísseis, um bombardeamento intenso que está a afetar a reserva natural da foz do Rio Dnieper.
Esta reserva natural, onde a presença humana é quase inexistente, é conhecida pelos seus pântanos, florestas e zonas húmidas, sendo um autêntico refúgio natural para milhares de espécies de fauna e flora. Tal como cerca de 1/3 das áreas protegidas da Ucrânia, a região da foz do Rio Dnieper está nas mãos dos militares russos ou é mesmo uma zona de combate.
Nestas áreas, têm-se multiplicado os bombardeamentos a depósitos de combustível e a indústrias tradicionalmente poluentes, que provocaram poluição do ar, dos solos e das águas superficiais e subterrâneas. Somam-se, ainda, os danos quase irreversíveis na paisagem, provocados pelos consequentes incêndios que lavram descontroladamente.
Tanto a Rússia como a Ucrânia têm previsto na sua legislação a figura de “crime ecológico” ou “crime ambiental”. Assim, uma organização ucraniana, a Ecoaction, tem recolhido provas dos alegados “crimes ecológicos” cometidos pelos russos, com o objetivo de, no futuro, fundamentar uma acusação contra este país de forma a que seja julgado também por este tipo de crimes, no Tribunal Penal Internacional.
Qual o legado ambiental da guerra na Ucrânia?
É sabido que o Leste da Ucrânia, o atual epicentro da guerra é a área mais industrializada do país. Só na região do Donbass existiam, antes da invasão, mais de 4500 empresas potencialmente perigosas para o meio ambiente, como por exemplo minas, refinarias, depósitos de combustível, metalurgias e indústrias químicas, de acordo com um relatório da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
A siderurgia Azovstal é um dos exemplos mais conhecidos no que toca a bombardeamentos de áreas industriais. Para além da crise humanitária que se viveu, é ainda incalculável a quantidade de solo e águas poluídas pelo efeito das bombas e dos incêndios que lavram há várias semanas. Certo é que a atmosfera, os solos e as reservas de águas mais próximas estiveram (e continuam a estar) expostas a elevados níveis de poluição por substâncias altamente tóxicas.
Um dos setores mais afetados é o da agricultura: a Ucrânia era, antes do conflito, um dos maiores produtores a nível mundial de cereais, essenciais na alimentação de países desenvolvidos, mas principalmente de países em desenvolvimento (como a Etiópia, a Somália e o Sudão). Os bombardeamentos desenvolvidos por ambas as partes estão a degradar rapidamente a qualidade do solo, reduzindo drasticamente a produtividade de um dos maiores “celeiros” do mundo.
Os bombardeamentos também representam um impacte negativo para os rios e os aquíferos. Segundo a UNICEF, mais de 6 milhões de ucranianos estão sem acesso a água potável ou têm um acesso muito limitado. Parte da água consumida, no Leste da Ucrânia, pode estar severamente contaminada pela ação das bombas. O movimento massivo de 8 milhões de refugiados ucranianos para Oeste provocou uma pressão superior nas reservas de água, quando estas já denotavam alguma escassez.
Outro problema grave causado diretamente pela guerra é a questão dos incêndios e das áreas devastadas por estes. Tanto a capital, Kiev, como as cidades separatistas de Lugansk e Donetsk sofreram (e continuam a sofrer) com os incêndios que lavram desde o início do conflito e dizimaram vastas áreas de floresta. Para além disso, a utilização de madeira para fins militares tem acelerado a desflorestação de vastas áreas, intocadas até agora e essenciais para a manutenção de ecossistemas saudáveis.
Assim, é expectável que a “pegada” da guerra fique marcada, do ponto de vista ambiental, durante décadas, prejudicando a qualidade de vida e a saúde da população muito depois do conflito armado terminar.