Guardiãs do Cacau: como manter a floresta preservada a produzir chocolate
Uma comunidade da floresta amazónica produz cacau artesanal preservando esta floresta preciosa. Fique aqui a conhecer esta cooperativa assim como este projeto agroflorestal.
Nas margens do rio Acará, na Amazónia, a cerca de 50 km a sul da cidade de Belém, nasceu um negócio de cacau artesanal.
Nesta área atualmente sente-se o cheiro a chocolate derretido que sai de um estaleiro transformado numa pequena fábrica.
Segundo o jornal The Guardian este é um projeto agroflorestal que está a transformar a vida das mulheres da Amazónia e a preservar esta floresta magnânime.
As Guardiãs de Cacau
Esta cooperativa surgiu em 2021, depois de um grupo de mulheres desta comunidade ter sido convidado para participar numa oficina de fabricação de chocolate, organizada pelo chocolatier amazonense César De Mendes.
Desta forma, sentiram-se inspiradas e agora têm uma empresa registada com uma fábrica artesanal que produz 130 kg de chocolate por mês.
As mulheres trabalham com amêndoas de cacau fermentadas fornecidas pela empresa vizinha, que compra os frutos colhidos nas comunidades ribeirinhas.
A maior parte da produção é de barras de cacau 100% feitas sob encomenda para um cliente em São Paulo. O restante é vendido em lojas de Belém e em feiras de chocolate pelo Brasil, em barras de 20g, embaladas em folhas secas de cacau e batizadas de Acaráçu, marca que hoje engloba vários projetos locais.
Luciene Gemaque, Guardiã de Cacau.
O trabalho das Guardiãs de Cacau levou a repensar o modo de vida da comunidade e inspirou a criação de outras iniciativas de base que procuram preservar a floresta.
Açaí, a baga roxa
Como inúmeras outras comunidades ribeirinhas no estado do Pará, a maioria das 150 famílias de Acará-Açu cultiva açaí para viver.
Cerca de 95% da produção brasileira de açaí vem do Pará.
Abençoada devido aos seus benefícios para a saúde, a baga roxa tem crescido em popularidade fora da sua Amazónia nativa e, cada vez mais, para além das fronteiras do Brasil, onde é comercializada como um superalimento.
Tal levou a uma explosão na produção, de cerca de 120 mil toneladas em 2000 para quase 1,7 milhões de toneladas no ano de 2022.
O boom do açaí produziu benefícios económicos para as comunidades rurais pobres, mas a resultante "açaíficação" de partes da Amazónia, um termo cunhado por cientistas, que também trouxe problemas à floresta tropical, nomeadamente uma perda de biodiversidade.
As monoculturas de açaí também acabam por reduzir a produção do próprio fruto devido à perda de polinizadores.
Os agroflorestadores querem reflorestar toda a sua terra no prazo de três anos, para que possam colher culturas de subsistência durante todo o ano, juntamente com culturas de rendimento sazonais, onde incluirão o cacau e o açaí.
Os Guardiões do Cacau esperam expandir-se, fortalecendo outras comunidades e aumentando a produção.
Referência da notícia: Constance Malleret, We make magic here’: the Amazon community creating a future out of chocolate (2023).