Greenpeace segue a "viagem" das nossas roupas usadas e revela o seu destino final
A organização ambientalista localizou peças de vestuário depositadas em caixotes de doação de roupa e só conseguiu confirmar que uma delas foi reutilizada, após quatro meses de acompanhamento.
A Black Friday chegou ontem, 24 de novembro, vimo-la por todo o lado. Os centros comerciais e os websites bombardeiam-nos com ofertas sumarentas e, claro, as lojas de roupa não ficam atrás nesta corrida aos saldos.
Mas se está a pensar em aproveitar a oportunidade para renovar o seu guarda-roupa, convidamo-lo a parar por um momento antes de carregar no botão "comprar".
A organização ambiental Greenpeace revelou informações chocantes após uma investigação em que descobriu que depositaram 29 peças de vestuário usadas, mas em bom estado, em contentores municipais e nas lojas Zara e Mango em Espanha.
Onde é que vão parar?
Após quatro meses de rastreio, só conseguiram verificar que uma das peças de vestuário tinha uma segunda utilização e que tinha sido adquirida numa loja de segunda mão na Roménia.
Como explica a organização num comunicado oficial, "muitas peças de vestuário continuam em movimento e parece que não chegaram ao seu destino final, embora tenham viajado milhares de quilómetros para locais tão distantes e diversos como o Chile, o Paquistão, a Índia ou o Togo; ou estão em armazéns em zonas industriais em Espanha ou simplesmente continuam sem dar sinal".
Os dados preliminares apresentados pela Greenpeace mostram que as peças de vestuário provenientes de ambos os sistemas de recolha - municípios e lojas - foram localizadas nos Emirados Árabes Unidos, que, tal como o Paquistão, têm centros internacionais de receção de vestuário localizados em zonas de comércio livre, o que facilita a sua reexportação.
Além disso, as peças de vestuário foram parar a África, mais concretamente ao Egito, ao Togo e a Marrocos. Também foi possível localizar uma peça de vestuário no Chile, "apesar de a América não ser um destino comum para o vestuário usado gerado em Espanha", explica o comunicado.
Roupa barata com elevados custos ambientais e sociais
A indústria da moda rápida dá-nos a opção de comprar roupa a baixo custo, mas preste atenção!, porque mesmo que não o veja, estamos a pagar um preço elevado que nada tem a ver com dinheiro.
As consequências ambientais e sociais deste modelo de produção afetam as populações menos desenvolvidas.
Um relatório da Agência Europeia do Ambiente fornece dados reveladores:
- Em 2019, 46% dos têxteis usados acabaram em África, onde os têxteis que não são adequados para reutilização acabam principalmente em lixeiras a céu aberto e fluxos de resíduos informais.
- No mesmo ano, 41% dos têxteis usados acabaram na Ásia, onde são maioritariamente convertidos em trapos industriais ou depositados em aterros.
- Noutros casos, os têxteis na Ásia são reexportados para outros países asiáticos ou para serem reutilizados em África. Os têxteis que não podem ser reciclados ou reexportados acabam em aterros sanitários.
Por outro lado, as Nações Unidas e a Fundação Ellen MacArthur salientam que:
- Todos os anos, a indústria da moda utiliza 93 mil milhões de metros cúbicos de água, o que seria suficiente para satisfazer as necessidades de consumo de cinco milhões de pessoas.
- 87% das fibras utilizadas no fabrico de vestuário são incineradas ou vão diretamente para os aterros.
Esta iniciativa da Greenpeace apela à reflexão sobre o modelo de produção e consumo de roupa.
Um primeiro passo, dizem, é encontrar formas de vestir de forma sustentável, "combinando roupas novas de marcas sustentáveis com alternativas de consumo circular (como o aluguer e a reutilização) e evitando assim os custos ambientais e sociais da moda rápida".
Referência da notícia:
Agencia Europea de Medio Ambiente. Exportaciones de la UE de textiles usados en la economía circular europea. (2023)