Governo aprova Plano de Ação Nacional para o Lixo Marinho até 2028
Plástico, metal, vidro, madeira, borracha, têxteis e papel são os tipos de lixo mais comuns nos oceanos. O Plano de Ação Nacional para o Lixo Marinho 2024-2028 quer combater este flagelo e promover boas práticas entre cidadãos e empresas.
Qualquer material sólido persistente, fabricado ou transformado, que seja descartado, eliminado ou abandonado no ambiente marinho e costeiro é considerado lixo marinho.
A sua presença no oceano está intimamente ligada às atividades humanas, sendo mais pronunciada em zonas costeiras com alta densidade populacional, proximidade de instalações industriais e influência de descargas fluviais.
O lixo marinho tem uma distribuição global por todo o planeta, devido ao transporte por correntes oceânicas, à ação do vento e das ondas, sendo encontrado a flutuar à superfície, suspenso nas colunas de água ou depositado no fundo do mar.
A gestão inadequada dos resíduos contribui significativamente para a sua acumulação no oceano. E, atualmente, apenas 9% dos resíduos plásticos são reciclados, 12% são incinerados e cerca de 79% são despejados no ambiente ou depositados em aterros, sendo que os produtos descartáveis, em especial os plásticos, são considerados particularmente preocupantes.
Embora a quantidade exata de plástico que entra nos oceanos seja desconhecida, estima-se que, anualmente, oito milhões de toneladas deste material alcancem o ambiente marinho.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima, com base no relatório de 2021 «Da Poluição à Solução: Uma análise global sobre lixo marinho e poluição plástica», que, num cenário de não intervenção para conter o problema, a quantidade de resíduos plásticos que entram nos ecossistemas aquáticos poderá quase triplicar. Passará de cerca de 9 a 14 milhões de toneladas por ano em 2016 para uma estimativa de 23 a 37 milhões de toneladas por ano até 2040.
Ciente de tudo isto, o Governo aprovou a 29 de outubro, em Conselho de Ministros, um Plano de Ação Nacional para o Lixo Marinho, para vigorar no período de 2024 a 2028 (PALM2028).
Um estudo de 2016 do Fórum Económico Mundial com a participação da Fundação Ellen MacArthur, citado neste Resolução do Conselho de Ministros, alerta que, “sem uma redução imediata dos plásticos e a transformação de toda a cadeia de valor envolvida, uma mudança para abordagens circulares, incluindo práticas de consumo e produção sustentáveis, a proporção de toneladas de plástico no mar poderá ultrapassar a dos peixes”.
Lixo aumentou nos últimos 20 anos
Por todo o mundo, diz o Governo, “a monitorização ambiental revela dados alarmantes sobre o lixo marinho”. E, em Portugal, também se detetam “valores elevados de presença de lixo nas praias e no mar, bem como a presença de macroplásticos e de microplásticos nas espécies marinhas”.
Pior, estes valores “aumentaram significativamente nos últimos 20 anos, particularmente para certos tipos de plástico”, diz a mesma fonte, explicando que “uma parte significativa do lixo marinho (monitorizado nas praias segundo metodologia internacional) resulta, na generalidade dos locais de observação, das atividades marítimas (cerca de 20%). No entanto, a grande maioria é gerado em terra (cerca de 80%), e não necessariamente apenas junto ao litoral.
Tudo isto se deve à ação dos ventos, às águas de escorrência urbana que transportam os resíduos para o mar, incluindo os resíduos de microplásticos. Aliás, os cursos de água e os sistemas de águas residuais e sanitárias todos eles “são veículos de chegada de lixo ao mar”.
E o mais alarmante é que “uma parte do lixo marinho identificado nas águas marítimas portuguesas tem origem fora das fronteiras nacionais”. Na verdade, isso explica-se porque Portugal, pela sua exposição costeira e geolocalização, está particularmente exposto à poluição trazida por correntes e ventos marítimos.
Oito eixos de atuação e 50 ações
O Governo diz que “a tomada de consciência pública sobre o lixo marinho, por si só, não resulta na eliminação da libertação de resíduos para o mar”. São inúmeras as atividades humanas individuais e coletivas que se transformam em fontes de lixo marinho, fruto dos comportamentos de consumo e gestão dos resíduos em casa, no trabalho e nos espaços ao ar livre.
Mesmo os cidadãos e organizações que se esforçam para reduzir o uso de plásticos e a sua perda para o ambiente “enfrentam, em diversas situações, a falta de soluções ou alternativas eficazes, seguras e verdadeiramente sustentáveis no decurso da sua atividade”, lê-se na Resolução do Conselho de Ministros de 29 de outubro.
Sendo certo que o papel individual de cada consumidor/utilizador, individual ou coletivo, é considerado “fundamental”, o certo é que “o uso crescente de plásticos pela sociedade em geral exige a adoção de medidas enquadradas pelos princípios da economia circular, que estimulem a valorização dos produtos descartados”.
O primeiro eixo de atuação é conhecer e monitorizar o lixo marinho, através do mapeamento das zonas de acumulação (hotspots) e circulação de lixo marinho no mar português. Para o Governo, “a monitorização do lixo marinho é crítica para a tomada de decisão”.
Os grandes objetivos do PALM2028 passam por prevenir a entrada e acumulação de lixo no mar, promover a escolha de materiais de menor ecotoxicidade quando no ambiente marinho, reduzir os riscos de emaranhamento e de «pesca fantasma» das espécies marinhas e reduzir o risco de ingestão de lixo pelas espécies marinhas.